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A italiana Eluana Englaro, que está em coma há 17 anos, parou de receber alimentação e hidratação neste sábado, para efetivar a chamada ‘doce morte’, segundo fontes médicas citadas pela imprensa italiana. Claudia Cardamone comenta.

  • Data :09 Feb, 2009
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Italiana em coma há 17 anos para de receber alimentação

Guilherme Aquino De Milão para a BBC Brasil

A italiana Eluana Englaro, que está em coma há 17 anos, parou de receber qualquer tipo de alimentação e hidratação neste sábado, segundo fontes médicas citadas pela imprensa italiana.

Englaro, de 38 anos, tornou-se o centro de uma polêmica sobre a eutanásia na Itália, que pôs em lados opostos o premiê e o presidente do país.

O governo do premiê, Silvio Berlusconi, aprovou um decreto-lei que proíbe a suspensão da alimentação e hidratação de pacientes que não possam se expressar sobre a questão. No entanto, o presidente, Girgio Napolitano, recusou-se a assinar o decreto-lei, por considerá-lo inconstitucional.

A família de Eluana Englaro decidiu antecipar para este sábado o desligamento total dos aparelhos, que ocorreria no domingo. Em poucos dias, o processo - que havia começado gradualmente - se tornará irreversível e a italiana morrerá.

Suspeita

A italiana de 38 anos, em estado vegetativo desde 1992, está internada na clinica Le Quiete, em Udine, noroeste do país.

O neurologista de Eluana e um dos autores do protocolo de morte, Carlo Alberto Defanti, não quis comentar a notícia. O documento original previa a suspensão gradual da alimentação da paciente.

Neste sábado, três inspetores do Ministério da Previdência chegaram à instituição para verificar a idoneidade do lugar e se o protocolo de morte de Eluana está sendo aplicado corretamente.

A presença deles faz parte da estratégia do governo em tentar, a todo custo, interromper a morte de Eluana.

Além disso, a Procuradoria-Geral da República, em Udine, continua a investigar o real desejo de Eluana de morrer caso se tornasse inválida. Antes do acidente, ela havia dito que preferia morrer caso se tornasse inválida.

Existe a suspeita de que os depoimentos de amigos e parentes tenham sido forjados para iludir a Justiça italiana.

Vaticano

O Vaticano aplaudiu a iniciativa do premiê Berlusconi, mas lamentou o veto do presidente Napolitano.

Neste sábado, na mensagem sobre o Dia Mundial do Doente, que acontece no dia 11 de fevereiro, o Papa Bento 16, sem citar o caso, afirmou “que cada vida humana, mesmo quando frágil e envolvida no mistério do sofrimento, dever ser reafirmada na sua dignidade com absoluto e supremo vigor”.

Em Cagliari, na Sardenha, o premiê Silvio Berlusconi defendeu neste sábado a suspensão do protocolo até a votação de uma lei.

“Vejo os médicos que devem salvar vidas humanas empenhando-se em ações que levam, certamente, à morte, através de mecanismos cruéis, como o de privar um organismo humano de alimentação e hidratação. Não entendo toda esta pressa depois de tantos anos”, disse Berlusconi.

Para driblar a desaprovação do chefe do Estado, o decreto se transformou em um projeto de lei e será avaliado pela Comissão de Saúde do Senado nesta segunda-feira.

Ele proíbe a suspensão da alimentação e da hidratação de pessoas em estado vegetativo e substitui um outro projeto de lei sobre testamento biológico que ainda não foi votado.

Já na terça-feira, em tempo recorde, o novo projeto poderá ser votado no Parlamento, com congressistas divididos sobre o tema. A oposição afirma que existe o risco de uma crise nacional.

“Esta decisão ameaça o nosso sistema institucional e é um ato de total irresponsabilidade” afirmou Walter Veltroni, líder do Partido Democrático.

“Este é um tormento que não tem fim”, foi o comentário de Beppino Englaro, pai de Eluana, ao saber do movimento do governo em encontrar uma solução para manter viva a sua filha.

Enquanto a família coloca em prática a sentença conquistada na Suprema Corte de Cassação, grupos de radicais católicos protestam diante da clinica Le Quiete. Eles trazem pão e água como símbolos da nutrição e do direito à vida.

Os mais fundamentalistas picharam mensagens contra Beppino Englaro em muros de prédios vizinhos à clínica.

Notícia publicada na BBC Brasil , em 7 de fevereiro de 2009.

Claudia Cardamone comenta*

Eu poderia falar do coma sob a ótica espírita ou mesmo da eutanásia, mas muito já se falou sobre isto. Gostaria de comentar sobre outra coisa: Protocolo de Morte.

“‘ Doce morte

O protocolo sobre a eutanásia aprovado pela magistratura prevê a redução gradual da alimentação artificial três dias após a internação de Englaro. A falta de proteínas, gordura, água e açúcar é compensada pela aplicação de sedativos para evitar prováveis convulsões no organismo da paciente. Todos os membros da equipe, entre médicos e enfermeiros, são voluntários reunidos pela associação Per Eluana (Para Eluana), criada para aplicar a sentença emitida pela Justiça. Segundo especialistas, o óbito pode acontecer entre 10 e 21 dias, dependendo do quanto Eluana, já debilitada pelas suas condições físicas, resistiria à falta de nutrição.”

“746. O assassínio é um crime aos olhos de Deus?

  • Sim, um grande crime, pois aquele que tira a vida a um semelhante interrompe uma vida de expiação ou de missão, e nisso está o mal.
  1. Há sempre no assassínio o mesmo grau de culpabilidade?
  • Já o dissemos: Deus é justo e julga mais a intenção do que o fato.” (O Livro dos Espíritos, Allan Kardec)

Olhando o conceito de assassinato no Dicionário Aurélio, está lá: Matar (ser humano). O grau de culpabilidade depende da intenção daqueles que decidiram a eutanásia. O que me intriga é como saber o grau de sofrimento de uma moça em coma há 17 anos? Neste caso, como em outros, somente temos conhecimento do sofrimento da família, e se a intenção é de aliviar este sofrimento, torna-se uma ato de grande responsabilidade e de egoísmo, visto que a vítima nada pode fazer.

Mas, decidida esta questão, pelo livre arbítrio daqueles que estão envolvidos, temos então que refletir sobre outro aspecto deste protocolo.

“754. A crueldade não decorre da falta de senso moral?

  • Dize que o senso moral não está desenvolvido, mas não que está ausente; porque ele existe, em princípio, em todos os homens; é esse senso moral que os transforma mais tarde em seres bons e humanos. Ele existe no selvagem como o princípio do aroma no botão de uma flor que ainda não se abriu.” (O Livro dos Espíritos, Allan Kardec)

O que me intriga é a afirmação existente no tal protocolo (nome bonito para um ato condenável!) da necessidade de aplicar sedativos durante os dias de agonia (10 a 21). Ou seja, estão esperando que o organismo reaja violentamente, numa inútil tentativa de manter a vida.

Se já decidiram pela eutanásia, porque não o fazem sem sofrimento à moça? Será que acreditam que assim não estariam caracterizando o ato como assassinato. Seriam tolos a este ponto? E ao invés de atenuar, podem estar agravando seu próprio crime, realizando-o com toque de crueldade.

Por fim, fiquei com pena do pai da moça. “Este é um tormento que não tem fim”, foi o comentário de Beppino Englaro, pai de Eluana, ao saber do movimento do governo em encontrar uma solução para manter viva a sua filha. Este comentário possui uma verdade tão grande que ele nem desconfia, já que a vida é eterna, e que ao desencarnar deveremos prestar conta de todos os nossos atos, nos arrepender e expiar os erros.


Este comentário iria ao ar quando recebemos a notícia do desencarne de Eluana:

“O ministro italiano da Saúde, Maurizio Sacconi, confirmou que Eluana Englaro, a mulher que estava em estado vegetativo desde que sofreu um acidente em 1992, morreu na noite desta segunda-feira (9) em uma clínica na cidade de Udine. A morte teria ocorrido às 20h10 locais (17h10 de Brasília).”

http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL993961-5602,00-MORRE+A+ITALIANA+QUE+ESTAVA+EM+COMA+HAVIA+ANOS+DIZ+MINISTRO.html

Não vejo necessidade de refazê-lo, pois é um bom exemplo para refletirmos sobre nossos atos e intenções, e o ocorrido nos mostra que nada ocorre ao acaso. A situação trouxe a polêmica, chocou as pessoas, estimulou críticas e análises, mas Eluana não precisava passar pelo sofrimento da morte lenta, não era necessário nem útil à sua evolução espiritual, vindo a desencarnar de forma mais rápida. A providência divina jamais permite um sofrimento desnecessário.

  • Claudia Cardamone nasceu em 31 de outubro de 1969, na cidade de São Paulo/SP. Formada em Psicologia, no ano de 1996, pelas FMU em São Paulo. Reside atualmente em Santa Catarina, onde trabalha como artesã. É espírita e trabalhadora da Associação Espírita Seareiros do Bem, em Palhoça/SC.