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O ator Guilherme Winter, intérprete do professor de geografia Tiago, em Malhação, arrecada livros e atua em entidade voltada para a educação de crianças de 7 a 12 anos com dificuldade para aprender a ler e escrever e que não podem pagar por reforço escolar. Sergio Rodrigues comenta.

  • Data :11 Jan, 2009
  • Categoria :

Professor leitura

O ator Guilherme Winter arrecada livros e atua em entidade voltada para a educação de crianças com dificuldade para aprender a ler e escrever

Cláudio Marçal

Um educador na ficção e, na vida real, um voluntário preocupado em levar educação às crianças carentes de São Paulo. O ator paulistano Guilherme Winter , intérprete do professor de geografia Tiago, em Malhação, atua como voluntário no Centro Educacional Gotas de Cristal, criado em 2007 para atender crianças de 7 a 12 anos com dificuldade de aprendizagem e que não podem pagar por reforço escolar. A instituição fica no Brooklin, bairro da Zona Sul de São Paulo, e vive de doações de livros, de material didático e de dinheiro. “Minha irmã, Mariana, trabalha em uma empresa que ajuda a ONG financeiramente e me falou do projeto. Como eu já estava querendo apoiar alguma entidade, disse que gostaria de ajudar também”, diz o ator, que mora no Rio de Janeiro há quatro anos e, sempre que pode, visita a família no bairro do Itaim Bibi, na capital paulista.

“Durante o mês de agosto, como estive de férias, aproveitei para arrecadar vários livros com a vizinhança. Aqui no Rio, tenho recorrido a amigos com filhos e ao elenco de Malhação, que é feito de jovens. Muitos ainda têm livros dos tempos de colégio”, afirma Guilherme. No dia 10 de outubro, o ator fará uma palestra no centro educacional e levará os livros arrecadados nos últimos meses. “Esse bate-papo que vou ter lá vai ser para estimular o estudo das crianças. Como faço um professor na TV, quero mostrar para a garotada que os professores também podem ser amigos.”

Contra as estatísticas

Segundo estatísticas oficiais do ensino público no Estado de São Paulo, cerca de 70% dos alunos do 4º ano não sabem fazer operações matemáticas fundamentais e quase metade é incapaz de escrever corretamente e de interpretar textos adequados a sua faixa etária. A economista Sandra Nogueira criou o Gotas de Cristal depois de entrar em contato com crianças de 12 anos que não sabiam ler nem escrever, na Associação Maria Helen Drexel, em São Paulo, onde também trabalha como voluntária. “Percebi que o maior problema daquelas crianças estava na educação. Falei com algumas empresas e consegui o apoio de que precisava para criar o centro educacional”, disse. A instituição, hoje, atende 29 crianças, com reforço nas áreas de português e matemática, e pretende dobrar esse número até o fim do ano. “Acabamos de firmar uma parceria com o Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee), que vai nos mandar mais dois professores voluntários no final do mês. Com isso, poderemos ajudar mais 21 alunos”, diz Sandra. “Guilherme é uma figura pública que, com certeza, traz motivação para nossas crianças”, afirma ela.

Por enquanto, o Gotas de Cristal funciona no período da manhã, quando os alunos, que estudam à tarde em escolas públicas, têm aulas em grupo (de segunda a quinta-feira) e atendimento individualizado para dúvidas específicas (às sextas). Os alunos do Gotas de Cristal são encaminhados à instituição pelas próprias escolas públicas da região. “Quanto mais livros as pessoas arrecadarem, maior será o índice de leitura das crianças. Pensar nisso já ajuda a fazer diferença”, diz Guilherme.

O Gotas de Cristal aceita doações de pessoas físicas e jurídicas, em dinheiro ou livros. As doações podem ser feitas das 8 às 17h na própria sede da entidade, na Rua Ipurinãs, 160, Brooklin, São Paulo.

Matéria publicada na Revista Quem , em 17 de setembro de 2008.

Sergio Rodrigues comenta*

Sem dúvida, trata-se de uma iniciativa preciosa deste ator. Muito se critica quanto à falta de aptidão do povo brasileiro para a leitura, o que é um fato. Porém, nem sempre se atenta para a origem do problema. Tendo a indústria do livro propósitos puramente mercantilistas, como tudo neste País, o empresariado do setor não tem outra preocupação que não a realização de lucros. A consequência é o custo estratosférico do livro, tornando-o artigo de luxo e inacessível à maior parcela da população brasileira, sempre carente das necessidades mais elementares para a sobrevivência familiar.

No entanto, no momento em que o acesso ao livro torna-se viável, através de semelhante iniciativa, a resposta é imediata. O gosto pela leitura precisa ser cultivado desde cedo, para que o livro se torne uma presença permanente em nossas vidas, algo agradável e não uma coisa vista à distância, acessível apenas às camadas menos necessitadas da população. Sem a popularização do livro, através de um projeto educacional sério, não demagógico, sem interesses políticos outros que não sejam a consequente elevação do nível de informação do povo, nada dará certo neste País. Vamos continuar “enxugando gelo”, ou seja, lotando as penitenciárias de deserdados que buscam o caminho fácil do crime para suprir suas necessidades, enquanto a falta de educação continuará ensejando a produção de mais deserdados.

Outro aspecto importante do projeto em questão é o reforço escolar. Sabemos que três ou quatro horas de aula formal, como é a prática do ensino desse País, é absolutamente insuficiente para atender um projeto educacional. As crianças beneficiadas pelo projeto são aquelas que não podem contar com o amparo familiar para completar os estudos, por razões sociais e econômicas. É, portanto, de grande valia o trabalho voluntário e abnegado de profissionais da educação que dedicam algumas horas de sua folga para suprirem essa deficiência.

  • Sergio Rodrigues é espírita e colaborador do Espiritismo.Net.