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O mais alto magistrado da Arábia Saudita, xeque Salih Ibn Al-Luhaydan, disse em uma emissora de rádio que é permissível matar os proprietários de canais de TV por satélite que exibem programas ‘imorais’. Carlos Miguel Pereira comenta.

  • Data :10/12/2008
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Juiz saudita diz ser aceitável matar donos de ‘TVs imorais’

Magdi Abdelhadi BBC News

O mais alto magistrado da Arábia Saudita, xeque Salih Ibn Al-Luhaydan, disse que é permissível matar os proprietários de canais de TV por satélite que exibem programas “imorais”.

Al-Luhaydan disse em uma emissora estatal de rádio, onde responde a perguntas de ouvintes, que programas de entretenimento transmitidos por esses canais são maléficos e promovem devassidão.

Ele respondia a uma pergunta sobre a exibição de programas com mulheres com pouca roupa durante o mês sagrado muçulmano do Ramadã.

Há dezenas de canais por satélite no Oriente Médio, com uma audiência de milhões de árabes, e alguns de seus programas de entretenimento mostram mulheres com poucas roupas.

Com freqüência, estes programas atraem muitas críticas de clérigos conservadores e também de pessoas comuns em sociedades árabes.

Mas a declaração do juiz saudita foi enfática: “Não há dúvida de que estes programas são um grande mal, e que os donos destes canais são tão culpados quanto os que os assistem (…) Eu os alerto para as conseqüências. É legítimo matar os que encorajam comportamento licencioso, se eles não podem ser detidos por outros meios. É legítimo matar aqueles que apelam para a corrupção se sua maldade não pode ser impedida com a imposição de outras penas.”

Al-Luhaydan é um conhecido clérigo linha-dura com uma grande legião de seguidores. E, dada a sua posição de juiz mais importante da Arábia Saudita, suas opiniões não podem ser descartadas com facilidade como se fossem de um extremista de um canto remoto do reino.

Clérigos como Al-Luhaydan representam um grande dilema para os integrantes da Família Real saudita, que deseja introduzir reformas liberais e combater a militância islamista.

Por um lado, os governantes sauditas precisam do apoio de pessoas como Al-Luhaydan para que continuem a alegar que seu regime exite em nome do Islamismo.

Mas, por outro, combater ideologia militante pode ser difícil quando o principal juiz do país pede que donos de emissoras que ele considera imorais sejam mortos.

Notícia publicada na BBC Brasil , em 13 de setembro de 2008.

Carlos Miguel Pereira comenta*

A liberdade de pensar e de agir é um dos direitos inalienáveis do homem moderno e um dos instrumentos indispensáveis à sua evolução como indivíduo e como Espírito. A Doutrina Espírita é defensora intransigente da liberdade individual porque apenas quem é livre nas suas atitudes pode ser responsabilizado pelas suas ações. Um dos grandes progressos da Humanidade ao longo dos tempos foi o direito atribuído a cada indivíduo de fazer as suas escolhas pessoais e decidir como deve construir e direcionar a sua própria vida.

Contudo, ainda há, e infelizmente não são poucos, os que desconfiam da liberdade, os que a encaram como uma possibilidade de potencializar o mal, de destruição das normas e dogmas em que se estabeleceram desde sempre e em que se fizeram proeminentes. Anseiam pelos tempos ultrapassados de Moisés ou da Idade Média, onde os fiéis se agrupavam ao redor de uma crença pelo medo, pelos castigos e pelas ameaças. Procuram a todo o custo obstruir o progresso, esquecidos que essa é uma batalha que não está ao seu alcance vencer, porque o progresso é uma força que provém de Deus e que todas as leis do Homem apenas podem retardar, nunca impedir.

Para alguns, cometer erros ainda é considerado algo terrível, algo que estamos proibidos de fazer, que devemos esconder, algo de que nos devemos penitenciar, de que nos devemos culpar, conseguindo a redenção através da confissão, da penitência ou do sacrifício, conforme as diferentes culturas religiosas. Em vez de se investirem energias na educação dos povos, procura-se atemorizar os povos. Hoje, como no passado, o medo ainda é usado como uma poderosa arma, com fins sociais, políticos ou religiosos, e existem mãos muito hábeis que o sabem usar de forma quase perfeita.

O Espiritismo procura esclarecer e evidenciar o papel preponderante que desempenhamos na condução dos nossos destinos, seres espirituais num processo contínuo e irreversível de evolução, para que através dessa compreensão possamos responsabilizarmo-nos pelas nossas falhas, interiorizar que o pecado não existe e que ninguém nos irá condenar por um dia termos pensado e agido errado. A Doutrina Espírita ajuda-nos a encontrar a melhor forma de ultrapassar a nossa ignorância, crescer em amor, expandir a nossa consciência e a nossa alma. Algo que não faremos sem dificuldades e sem dor, mas através de infindáveis oportunidades e desafios que nos são concedidos todos os dias.

Os valores morais são relativos a um determinado tempo, a um determinado lugar e a uma determinada envolvência social e cultural. Ou seja, são relativos e estão a evoluir constantemente. O conceito de erro é também relativo. Deus não criou leis rígidas que possam ser ultrapassadas pelo tempo. Deus criou Leis Naturais, que podem ser resumidas a apenas uma frase: “Faz aos outros o que queres que os outros te façam a ti.” Leis Naturais que vamos conhecendo e aprendendo a cumprir à medida que evoluímos, à medida que nos apercebemos que a nossa felicidade interior é maior quando nos aproximamos delas. A moralidade é uma construção íntima, que parte de preceitos coletivos que nos são passados através da educação e da sociedade, mas que é processada individualmente. Á medida que formos adquirindo conhecimento, amor e sabedoria, à medida que formos crescendo e evoluindo, vamos criando em nossa consciência níveis mais elevados de moralidade, ficando por isso cada vez mais conscientes de nossos erros e mais preparados para os corrigir e evitar. A construção do nosso código de ética é parte do nosso crescimento espiritual e sem liberdade para pensarmos, agirmos e cometermos erros, essa construção ficará comprometida.

  • Carlos Miguel Pereira trabalha na área de informática e é morador da cidade do Porto, em Portugal. Na área espírita, é trabalhador do Centro Espírita Caridade por Amor (CECA), na cidade do Porto, e colaborador regular do Espiritismo.net.