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Novas configurações familiares, como casais separados que dividem a guarda dos filhos e solteiros que resolvem adotar crianças, têm levado escolas a buscar formas diferentes para marcar o Dia dos Pais. Jorge Hessen comenta.

  • Data :14/11/2008
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Escolas reinventam Dia dos Pais

Diversidade de configurações familiares faz instituições inovarem celebração da data para atender a nova realidade

Alexandre Gonçalves

Novas configurações familiares, como casais separados que compartilham a guarda dos filhos e solteiros que resolvem adotar crianças, têm levado escolas de São Paulo a buscar formas diferentes para marcar o Dia dos Pais, comemorado hoje. Uma das alternativas é o Dia da Família, em que as crianças levam para a escola o familiar que desejarem.

“As novas configurações mostram que existe diversidade. O desafio é reunir todas essas diferenças na rubrica família “, diz a psicóloga e pesquisadora Anna Paula Uziel, da Universidade Estadual do Rio (Uerj). Para ela, mudanças na sociedade foram muito influenciadas pela entrada da mulher no mercado de trabalho.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2006, cerca de 35% das famílias eram monoparentais - tinham só um dos responsáveis. Esse índice, há dez anos, ficava em 23%. No mesmo período, o porcentual de uniões legais em que pelo menos um dos cônjuges é divorciado passou de 9% para 13%.

“A vida não é mais uma propaganda de margarina”, diz a empresária Verônica Stresser, ao comentar que sua casa difere do modelo familiar apresentado nos comerciais. Ela é solteira e vive com a irmã, que ficou viúva quando o filho tinha uma semana de vida. Há oito anos, Verônica realizou o sonho de ser mãe e adotou Giovanna. A garota estuda no Colégio Nova Escola, na zona sul de São Paulo, que realizará a Festa da Família no próximo domingo, para não coincidir com o Dia dos Pais.

Já os pais de Artur, amigo de Giovanna, estão separados e mantêm bom relacionamento. A mãe dele, Adriana Marim, enviou e-mail ao pai para lembrar a data da festa. Em 2007, o colégio ofereceu uma cesta de doces para quem levasse a maior família. Artur venceu. Além dos avós, mãe e tios, contou com a presença da nova família do pai. Ao todo, 11 pessoas.

A Escola Municipal de Educação Infantil Oscar Pedroso Horta, na zona sul, substituiu as comemorações do Dia dos Pais por um Mês da Família. As crianças utilizam desenhos e histórias para expressar sua visão da família.

No Colégio Pentágono, a Festa da Família é feita em março ou abril para não ser associada a outras datas. A advogada Maria Eulália Secilio é solteira e adotou duas crianças: João Vitor e Priscila. Mesmo quando a escola ainda não havia criado a festa, Eulália fazia questão de aparecer na homenagem do Dia dos Pais. “Eu sentava na roda com mais 15 pais para participar das brincadeiras. Era a única mulher.”

Em São Paulo, de janeiro a junho, 2.412 crianças foram adotadas. No entanto, o Tribunal de Justiça não divulga o perfil. Por outro lado, no Rio Grande do Sul, um dos poucos com dados desse tipo, cresce o número de solteiros que adotam. Em 2007, 16% dos que adotaram não eram casados. Em 2005, 13,6%.

Notícia publicada no estadao.com.br , em 10 de agosto de 2008.

Jorge Hessen comenta*

A LEGÍTIMA FAMÍLIA SE PERPETUA NO INFINITO, ATRAVÉS DOS LAÇOS IMPERECÍVEIS DO ESPÍRITO

“Mas se alguém não tem cuidado dos seus e principalmente dos da sua família, negou a fé e é pior do que o infiel."(1)

Segundo informações da mídia, existem escolas que estão recriando o famoso “Dia dos Pais”, comemorado tradicionalmente nos meses de agosto. O fato (recriação) tem o seu nascedouro na diversidade atual de configurações familiares, o que obriga às instituições de ensino a inovarem a celebração da data para atender a nova realidade famílial. As novas estruturas famíliares são emolduradas na forma de casais separados que compartilham a guarda dos filhos e solteiros que resolvem adotar crianças, o que tem levado algumas escolas a adotar ritos comemorativos heterodoxos para assinalar o chamado “Dia dos Pais”. Uma das alternativas encontradas é o “Dia da Família”, solenidade essa em que as crianças levam para a escola o familiar que desejarem ou a comemoração do “Mês da Família”, evento em que as crianças utilizam desenhos e histórias para expressar sua vivência da família no ambiente escolar durante o mês.(2)

O tema nos remete a refletir a família. Sabemos que a família é formada por um enorme número de regras e modelos sociais que produzem moldes de comportamento que integra seus membros no sistema social e sua principal função como organização é criar indivíduos ajustados à sociedade que mantenham a ordem. Sendo o núcleo natural e fundamental da sociedade, a família tem direito à proteção da sociedade e do Estado. Desse fato defluem conclusões evidentes: primeiro, que a família não é só aquela constituída pelo casamento, tendo direito todas as demais entidades familiares socialmente constituídas; segundo, que ela (a família) não é célula do Estado (domínio da política), mas da sociedade civil, não podendo o Estado tratá-la como parte sua; a família é concebida como espaço de realização da dignidade das pessoas humanas.

Outro fato importante e que merece destaque é a emancipação feminina, principalmente econômica e profissional, que modificou substancialmente o papel que era destinado à mulher no âmbito doméstico e remodelou a família. A família está se adaptando às novas circunstâncias, assumindo um papel mais concentrado na qualidade das relações pessoais e nas aspirações para uma vida mais feliz. Destarte, nesse contexto, a família sofreu, nas últimas décadas, profundas mudanças de função, natureza, composição e, conseqüentemente, de concepção. A família patriarcal, que nossa tradição tomou como modelo, ao longo do século XX, entrou em crise, culminando com sua derrocada. E não há como desconhecermos que a família atual está matrizada em um fundamento emocional: a afetividade. Desse modo, enquanto houver affectio haverá família, unida por laços de liberdade e responsabilidade, e desde que consolidada na simetria, na colaboração, na comunhão de vida não hierarquizada. Portanto, a realização pessoal da afetividade e da dignidade humana, no ambiente de convivência e solidariedade, passa a ser função básica da família de nossa época.

Por outro lado, vale, neste ponto, analisar que estamos numa etapa histórica de profundas transformações, em que os valores que regem a sociedade estão sendo questionados. “Como nos dias atuais nunca se buscou tanto o prazer e a satisfação doentia das paixões, contudo, ao mesmo tempo, nunca se sentiu tanta falta de orientação e amparo à família que possam preparar o homem para a modernidade, sem levá-lo à bancarrota moral."(3) Portanto, a família está se modificando e, atualmente, tal metamorfose tem se tornado preocupante, pois muitas vezes a sociedade não está preparada para tal, assim como seus membros podem não estar preparados psiquicamente para enfrentar os apelos da sociedade.

Em Allan Kardec temos magistral questão: “Pode-se considerar como missão a paternidade? É, sem contestação possível, uma verdadeira missão. É ao mesmo tempo grandíssimo dever e que envolve, mais do que o pensa o homem, a sua responsabilidade quanto ao futuro”.(4) É comum hoje, e muito preocupante, os filhos terem convivência com apenas um dos genitores, devido à separação judicial (divórcio); a relação da criança com o(a) genitor(a) pode se transformar em um vínculo de exclusividade por meio da superproteção do(a) mesmo(a), principalmente em se tratando de filhos únicos, não havendo lugar para a entrada de um terceiro na relação e causando à criança uma dificuldade de compartilhar afeto com os outros. Para tanto, é muito importante a rede social; assim é possível que esta amplie suas vinculações afetivas, deixando a oportunidade da entrada do outro(a). Conforme preceitua a Doutrina Espírita, devemos começar na intimidade do templo doméstico a exemplificação dos princípios que esposamos, “com sinceridade e firmeza, uniformizando o próprio procedimento, dentro e fora dele, posto que a fé espírita no clima da família é a fonte do Espiritismo no campo social."(5)

Voltando à questão familiar e de parentela, a rigor, devemos “melhorar, sem desânimo, os contactos diretos e indiretos com os pais, irmãos, tios, primos e demais parentes, nas lides do mundo, para que a Lei não venha a cobrar-nos novas e mais enérgicas experiências em encarnações próximas. O cumprimento do dever, criado por nós mesmos, é lei do mundo interior a que não poderemos fugir."(6) A família é uma reunião espiritual no tempo, e, por isto mesmo, o lar é um santuário. Muitas vezes, mormente na Terra, vários de seus componentes se afastam da sintonia com os mais altos objetivos da vida; todavia, “quando dois ou três de seus membros aprendem a grandeza das suas probabilidades de elevação, congregando-se intimamente para as realizações do espírito eterno, são de esperar maravilhosas edificações."(7) O ínclito mentor Emmanuel nos chama a atenção dizendo que “a família consangüínea, entre os homens, pode ser apreciada como o centro essencial de nossos reflexos. Reflexos agradáveis ou desagradáveis que o pretérito nos devolve."(8)

A estrutura familiar tem suas matrizes na esfera espiritual. Em seus vínculos, juntam-se todos aqueles que se comprometeram, no Além, a desenvolver na Terra uma tarefa construtiva de fraternidade real e definitiva. Preponderam nesse instituto divino os elos do amor, fundidos nas experiências de outras eras; todavia, aí acorrem igualmente os ódios e as perseguições do pretérito obscuro, a fim de se transfundirem em solidariedade fraternal, com vistas ao futuro. “É nas dificuldades provadas em comum, nas dores e nas experiências recebidas na mesma estrada de evolução redentora, que se olvidam as amarguras do passado longínquo, transformando-se todos os sentimentos inferiores em expressões regeneradas e santificantes. Purificadas as afeições, acima dos laços do sangue, o sagrado instituto da família se perpetua no Infinito, através dos laços imperecíveis do Espírito.(9)

Referências:

  1. Cf. Timóteo, capítulo 5, versículo 8;

  2. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2006, cerca de 35% das famílias eram monoparentais - tinham só um dos responsáveis. Esse índice, há uma década, ficava em 23%. No mesmo período, o porcentual de uniões legais em que pelo menos um dos cônjuges é divorciado passou de 9% para 13%;

  3. Fonte: A voz da Serra, em 14/08/2005 – disponível no site www.avozdaserra.com.br/colunas/espirita.php](http://www.avozdaserra.com.br/colunas/espirita.php)> , acessado em 09/11/2008;

  4. Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, Questão 582;

  5. Vieira, Waldo. Conduta Espírita. Ditado pelo Espírito André Luiz. 21ª edição. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1998;

  6. Idem;

  7. Xavier, Francisco Cândido. No Mundo Maior, ditado pelo espírito André Luiz - Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1947;

  8. Xavier, Francisco Cândido. Palavras de Emmanuel, ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: FEB, 2002;

  9. Xavier, Francisco Cândido. O Consolador – ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: FEB, 2001.

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal lotado no INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.