Encontro de Prêmios Nobel discute soluções para o mundo

Rodrigo Durão Coelho Da BBC Brasil no Cairo

Cerca de trinta vencedores do prêmio Nobel se reúnem entre esta terça-feira e quinta-feira em Petra, na Jordânia, para discutir soluções para problemas globais, em especial a alta dos preços dos alimentos.

Entre os presentes estão personalidades como o Dalai Lama e o presidente de Israel, Shimon Perez.

Esta é a quarta versão do evento anual, patrocinado pelo rei jordaniano Abdullah 2º.

Na pauta deste ano, além da segurança alimentar, estão a crise no sistema financeiro internacional, a saúde, a energia e o meio ambiente.

“O assunto dos preços dos alimentos é importante porque afeta centenas de milhões de pessoas. Vamos discutir maneiras de evitar uma crise maior, o papel de governos e sociedades”, disse o porta-voz do evento, Tarek Awad.

Consciência coletiva

“A idéia por traz da criação do evento foi que talvez possamos, ao juntar as pessoas mais brilhantes do mundo, obter soluções que possam ser transformadas em programas aplicados”, afirmou.

Nas edições de 2005 a 2007, o evento buscou discutir temas mais amplos e controversos, como o terrorismo e a paz no Oriente Médio, mas a idéia foi descartada na conferência deste ano.

“Uma decisão foi abandonar temas políticos, que causam muita controvérsia”, afirmou o porta-voz. “A partir de agora, vamos nos concentrar em temas científicos e econômicos.”

O escritor Elie Wiesel, vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1986 e integrante da organização, disse que “Como o mal, o bem é contagioso. Quando seres humanos agonizam em uma vila remota, suas lágrimas ferem nossa consciência coletiva. É a esse chamado que nós, cientistas, educadores, escritores, jornalistas, filantropos e estadistas devemos responder. É isso o que nos traz a Petra”.

Resultados práticos

Desde a primeira edição do encontro, apenas uma recomendação dos agraciados com o Nobel saiu do papel, o Fundo Científico do Oriente Médio.

O próprio rei jordaniano fez uma doação inicial de US$ 10 milhões para o fundo que pretende, a partir deste ano, apoiar projetos científicos internacionais e sem fins lucrativos de pós-graduandos da região.

Mesmo com relativamente poucos resultados práticos até o momento, a conferência anual com vencedores do Prêmio Nobel foi elogiada por trazer idéias que estimulam o debate.

O diretor do Departamento de Filosofia da Universidade Autônoma de Madri, José Luiz Velázquez, questionou se é possível esperar “que um grupo de sábios possa influir de forma decisiva no curso das coisas” – uma função destinada às poucas organizações internacionais com poder executivo.

“Acredito que o aspecto mais importante é o fato de que pessoas procedentes de disciplinas que podem até ter concepções diversas possam se reunir para fazer algo conjuntamente.”

Notícia publicada na BBC Brasil , em 17 de junho de 2008.

Pedro Vieira comenta*

A Terra é, de fato, um planeta de provas e expiações. Só a dificuldade extrema e exposta, à beira de um colapso, é suficiente para promover uma preocupação coletiva, e mesmo assim, ainda tímida. A alienação em relação à situação do mundo e à sua própria é tão patente que chamaria instantaneamente a atenção de um visitante que viesse conhecer o planeta. Por que os seres humanos, tão fechados como ostras em torno de seu próprio egoísmo, como se sua transitória vida física representasse a última palavra em brilhantismo, não se importam com seus semelhantes? Por que só quando esse estado de coisas atinge seu bolso há mobilização para resolvê-lo? É o problema da fome global incomodando a economia - isso sim é “sério”.

Ao contrário do que parece, não são todos os “premiados” os seres especiais do ponto de vista espiritual - suas motivações são altamente questionáveis. Os Espíritos verdadeiramente superiores já se sensibilizaram e já trabalham, no silêncio, no âmbito de suas possibilidades, para amenizar o sofrimento de seus irmãos. Esses, longe das câmeras, fazem o trabalho realmente fundamental, envolvendo-se pessoalmente com o problema.

A reunião de premiados pelo Instituto Nobel é muito mais uma oportunidade para eles próprios de colocarem mais diretamente suas habilidades, seja em que área for, a serviço da humanidade. Esses Espíritos, especiais em diversas áreas, vêm à Terra para impulsionar o progresso, dizem os Espíritos em “O Livro dos Espíritos”. Será que fazem o que podiam? A esperança é que, mais do que idéias, haja efetiva mobilização na direção do bem, com a motivação interior do próprio bem, ao invés de outras, coroando o trabalho e respondendo a seu compromisso antes de encarnarem.

A reflexão a todos nós permanece: será que temos em nossos círculos de ação preocupação em fazer algo por alguém que sofre? Será que temos a consciência ecológica para economia dos recursos que a Terra nos dá? Olhamos as nossas crianças com o cuidado que merecem, entendendo que são a pedra fundamental para a construção de um mundo melhor?

Não precisamos ter Prêmio Nobel, basta termos boa vontade.

• Pedro Vieira é expositor e médium espírita. Colabora com o centenário Centro Espírita Cristófilos e com o Centro Espírita Léon Denis, no Rio de Janeiro, além de algumas outras casas.