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Um padre polonês que sustenta a possibilidade de, matematicamente, comprovar a existência de Deus vence o mais polpudo prêmio acadêmico do mundo. Carlos Miguel Pereira comenta.

  • Data :25/07/2008
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Cosmólogo recebe prêmio defendendo existência de Deus

Um padre e cosmólogo polonês que sustenta a possibilidade de comprovar matematicamente a existência de Deus é o vencedor do mais polpudo prêmio acadêmico do mundo.

O professor Michael Heller, 72, de formação religiosa, com estudos em filosofia e doutorado em cosmologia, receberá em maio, em Londres, o prêmio Templeton, outorgado pela fundação homônima de estudos religiosos sediada em Nova York. O valor da premiação é de 820 mil libras esterlinas (cerca de R$ 2,87 milhões).

Os trabalhos mais recentes de Heller abordam a questão da origem do universo debruçando-se sobre aspectos avançados da teoria geral da relatividade, de mecânica quântica e de geometria não-comutativa.

“Vários processos no universo podem ser caracterizados como uma sucessão de estados, de maneira que o estado anterior é a causa do estado que o sucede”, explicou o próprio Heller em um comunicado divulgado por ocasião do anúncio do prêmio.

“Ao questionar (a causalidade primeira) não estamos apenas falando de uma causa como qualquer outra. Estamos nos perguntando sobre a raiz de todas as possíveis causas”, disse.

Ele rejeitou a idéia de que religião e ciência são contraditórias. “A ciência nos dá o Conhecimento, e a religião nos dá o Sentido. Ambos são pré-requisitos para uma existência decente”.

“Invariavelmente eu me pergunto como pessoas educadas podem ser tão cegas para não ver que a ciência não faz nada além de explorar a criação de Deus.”

Críticas

Alguns céticos atacam a Fundação Templeton por sua inclinação a favor de ideologias conservadoras da religião.

Um dos principais críticos à instituição é o biólogo evolucionista Richard Dawkings, que já descreveu o prêmio Templeton como “uma soma de dinheiro muito grande que se concede normalmente a um cientista disposto a falar coisas boas da religião”.

Para os jurados, Heller mereceu o prêmio por desenvolver “conceitos precisos e notavelmente originais sobre a origem e as causas do universo, muitas vezes sob intensa repressão governamental”.

A biografia do filósofo e cosmólogo polonês diz que ele foi perseguido sob a era soviética, cuja ideologia comunista abertamente atéia ia contra o perfil católico conservador dominante no país.

Heller conhecia o Papa João Paulo 2º, nascido polonês sob o nome de Karol Wojtyla, que personificou a reação da Igreja Católica contra o avanço do comunismo nos países do Leste Europeu.

“Apesar da opressão das autoridades comunistas polonesas a intelectuais e padres, a Igreja, impulsionada pelo Concílio Vaticano 2º, garantiu a Heller uma esfera de proteção que o permitiu alcançar grandes avanços em seus estudos”, diz sua biografia.

Heller disse que usará o dinheiro do prêmio Templeton para financiar futuras pesquisas.

Notícia publicada na BBC Brasil , em 14 de março de 2008.

Carlos Miguel Pereira comenta*

Há cerca de 5 séculos, ciência e religião eram a mesma coisa. Quando alguns gênios, como Galileu, Isaac Newton e Kepler, compilaram novas evidências que colocavam em causa o que os religiosos sempre defenderam, algumas religiões viram-se na necessidade de construir uma muralha de proteção à sua volta, ignorando as novas descobertas e permanecendo fiéis às suposições de que os seus entendimentos sobre a vida e sobre Deus eram a verdade absoluta. Desde então, vimos assistindo a uma guerra de argumentos entre a idéia de dois deuses absolutistas: O Deus antropomórfico de algumas religiões e o Deus acaso, saído da ciência mais mecanicista, materialista e reducionista.

Allan Kardec, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, esclarece-nos:

“A Ciência e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana: uma revela as leis do mundo material e a outra as do mundo moral. (…) A incompatibilidade que se julgou existir entre essas duas ordens de idéias provém apenas de uma observação defeituosa e de excesso de exclusivismo, de um lado e de outro. Daí um conflito que deu origem à incredulidade e à intolerância.”

O que torna a ciência tão poderosa e, ao mesmo tempo, tão irritante para algumas religiões, é a sua capacidade para questionar incessantemente as coisas, o seu inconformismo e intolerância em relação aos dogmas estabelecidos e a convicção de que a procura da verdade nunca estará terminada. A ciência ousa fazer perguntas e usar o pouco que ainda sabemos para formular novas questões. É a modalidade da nossa compreensão e uma alavanca do progresso quando utilizada em serviço da humanidade e do entendimento do nosso mundo, ficando apenas limitada quando quer reivindicar o privilégio de ser a única forma de apreender as coisas.

Há quem atravesse uma floresta inteira e não consiga ver mais do que lenha para a fogueira. Há também quem passe uma vida a estudar a complexidade e a organização sublime de um átomo, do corpo-humano ou do Universo e não consiga distinguir mais do que a conjugação casual de partículas materiais.

Mais uma vez, Allan Kardec surge-nos com precioso esclarecimento em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”:

“A Ciência e a Religião não puderam, até hoje, entender-se, porque, encarando cada uma as coisas do seu ponto de vista exclusivo, reciprocamente se repeliam. Faltava com que encher o vazio que as separava, um traço de união que as aproximasse. Esse traço de união está no conhecimento das leis que regem o Universo espiritual e suas relações com o mundo corpóreo, leis tão imutáveis quanto as que regem o movimento dos astros e a existência dos seres.”

Pelo método aplicado na observação dos fatos, pelas respostas lógicas que oferece às profundas questões que o Espírito humano produz, e pelas conseqüências inevitáveis no modo de proceder de todas as criaturas, a Doutrina Espírita tem um tríplice aspecto: científico, filosófico e moral. O Espiritismo considera-se uma ciência, já que pretende revelar aos homens, através da razão e de provas concretas, a existência do mundo espiritual, a sua natureza e suas relações com o mundo corporal, mostrando-o, não como algo sobrenatural, mas como uma das forças da Natureza.

Fazendo uso da razão, questionando e analisando é que podemos compreender, e a partir da compreensão adquirir conhecimento. O que se pretende não é acreditar, mas termos desejo de descobrir, de saber, seguindo a máxima de Kardec, expressa em “A Gênese”: “Se novas descobertas demonstrarem que a Doutrina Espírita está em erro acerca de um ponto, ela se modificará nesse ponto.”

O conceito de Deus foi deturpado em várias religiões, inserindo-lhe uma componente mística, antropormófica e material. Sem qualquer fundamento com base em observações ou verificações científicas, esse conceito de Deus foi ultrapassado pela razão. Mas vários cientistas admitem que o Universo sendo um efeito, tem que possuir uma causa para a sua existência, sendo essa causa um agente supremo estruturador, com efeitos que se estendem em todo o Universo e não um ser exclusivamente preocupado com o homem e com este pequeno planeta do Sistema Solar. Deus como “inteligência suprema e causa primária de todas as coisas”, como nos indica a primeira questão de “O Livro dos Espíritos”, é um conceito perfeitamente coerente com o pensamento destes cientistas.

Allan Kardec, na questão 11 de “O Livro dos Espíritos” perguntou: “Será um dia permitido ao homem compreender o mistério da Divindade? R: Quando o seu espírito não estiver mais obscurecido pela matéria, e pela sua perfeição tiver se aproximado dela, então a verá e compreenderá.”

A procura da comprovação científica de Deus está muito longe de ser uma tarefa fácil, ficando os investigadores à mercê das ironias e do sarcasmo de cientistas como Richard Dawkings. Felizmente, hoje, como no passado, são muitos os que seguem destemidamente no esforço de compreender o mistério da criação, do Universo, da vida, do mundo espiritual e da nossa consciência, sem dogmas científicos, abertos a todas as evidências, procurando construir novos paradigmas para um mundo novo, encontrando respostas não só para o “Como?”, tão apreciado pela ciência mecanicista, mas também para os infindáveis “Porquês” ainda por esclarecer.

  • Carlos Miguel Pereira trabalha na área de informática e é morador da cidade do Porto, em Portugal. Na área espírita, é trabalhador do Centro Espírita Caridade por Amor (CECA), na cidade do Porto, e colaborador regular do Espiritismo.net.