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No cargo de diretora do Centro Nacional de Educação Social, a filha do novo presidente tenta mudar as atitudes dos cubanos em relação às minorias. Claudia Cardamone comenta.

  • Data :07/07/2008
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Filha de Raúl Castro luta por direitos de gays em Cuba

Michael Voss De Havana para a BBC News

Há um membro da família Castro que está lutando para introduzir mudanças radicais em Cuba.

Não é o novo presidente, Raúl Castro, apesar de sua promessa de promover mudanças “estruturais e conceituais” nessa ilha comunista do Caribe, e sim sua filha, Mariela Castro.

No cargo de diretora do Centro Nacional de Educação Social (Cenesex, na sigla em espanhol), entidade financiada pelo governo, a filha do novo presidente tenta mudar as atitudes dos cubanos em relação às minorias.

No momento, Mariela Castro tenta convencer a Assembléia Nacional a adotar o que seria uma das leis sobre direitos de homossexuais e transexuais mais liberais da América Latina.

O projeto de lei em discussão reconhece uniões de casais do mesmo sexo, assim como direitos de herança. Também dá aos transexuais o direito de se submeter a cirurgias de mudança de sexo, além de permitir que eles troquem de nome em suas carteiras de identidade - tendo ou não feito a operação.

A legislação tem limites, porém. A adoção de crianças por casais do mesmo sexo não é mencionada, assim como a palavra “casamento”.

“Muitos casais de homossexuais me pediram para não arriscar que a aprovação da lei fosse atrasada por causa da insistência na palavra ‘casamento’”, disse Mariela Castro. “Em Cuba, o casamento não é tão importante quanto a família, e desta maneira podemos pelo menos garantir os direitos pessoais e de herança de homossexuais e transexuais”, afirmou.

Segundo ela, seu pai apoia seu trabalho, apesar de aconselhá-la a ir devagar.

“Eu vi mudanças em meu pai desde que eu era criança. Eu o via como machista e homofóbico. Mas, à medida que cresci e me transformei como pessoa, também o vi mudar”, disse.

Sua mãe, Vilma Espin, era uma defensora dos direitos das mulheres reconhecida internacionalmente.

Para Mariela Castro, são os direitos dos homossexuais e dos transexuais que precisam ser defendidos.

Aconselhamento

Uma vez por semana, um grupo de transexuais se reúne em uma sessão de apoio na mansão em Havana que abriga o Cenesex.

Uns são adolescentes, outros já estão na faixa dos 40 anos. Todos se vestem como mulheres. Alguns já passaram por cirurgias de mudança de sexo.

Um psiquiatra, pago pelo governo, oferece aconselhamento, apoio e educação em saúde.

“Os transexuais sempre enfrentaram muita injustiça”, disse Libia, que fez um curso de cabeleireira depois de participar dos encontros no Cenesex. “Aqui nós somos muito respeitados. Essa instituição ajudou a aumentar nossa auto-estima.”

Passado de repressão

Atualmente Cuba tem uma comunidade gay vibrante, apesar de geralmente discreta. Há uma praia gay muito popular em Playas del Este, a uma curta distância de Havana.

Na capital, oficialmente não há bares gays, mas há um clube que promove festas gays semanais com shows.

De acordo com o gerente da casa, que pediu para não ser identificado, as festas gays são as mais concorridas do local.

Essas festas com shows são legais, mas não são divulgadas, contando apenas com a propaganda boca-a-boca.

Devido ao tratamento dispensado aos homossexuais de Cuba no passado, muitos freqüentadores do clube preferem permanecer anônimos.

Nos primeiros dias da revolução, muitos homossexuais foram mandados para campos de trabalhos forçados para “reeducação” e “reabilitação”.

Esses campos não duraram muito tempo, mas ainda assim muitos gays eram recusados em alguns tipos de trabalho por causa de “desvios ideológicos”.

Nos anos 80, havia passeatas organizadas para denunciar homossexuais.

Preconceitos arraigados

As relações sexuais entre adultos do mesmo sexo foram legalizadas em Cuba há cerca de 15 anos, mas até muito recentemente eram comuns os casos de repressão policial contra gays.

“Nos primeiros anos da revolução, a maior parte do mundo era homofóbica. O mesmo ocorria aqui em Cuba, o que levou a atos que eu considero injustos”, disse Mariela Castro.

“O que eu vejo agora é que tanto a sociedade cubana como o governo perceberam esses erros. Há também o desejo de estabelecer medidas que evitem que esses erros voltem a ocorrer.”

No entanto, ainda é uma luta difícil. Antigos preconceitos permanecem profundamente arraigados, principalmente entre as gerações mais velhas.

“É como uma doença, ou talvez uma falha de caráter”, disse um homem, que pediu para não ser identificado, quando questionado sobre o que pensava a respeito dos homossexuais.

Alguns, porém, são mais tolerantes. Falando com as pessoas nas ruas, muitas disseram desaprovar a homossexualidade, mas acreditar que cada um deve ser livre para viver sua própria vida.

Ainda não há garantia de que a Assembléia Nacional irá aprovar o projeto de lei de Mariela Castro.

Caso aprove, no entanto, isso vai marcar uma mudança revolucionária na política sexual de Cuba.

Notícia publicada pela BBC Brasil , em 29 de março de 2008.

Claudia Cardamone comenta*

Luta por direitos! Luta por justiça! Por que estamos sempre lutando por este ideal? Kardec, na questão 873, de “O Livro dos Espíritos”, pergunta se o sentimento de justiça é natural. Os Espíritos afirmam que este sentimento é tão natural que ao menor pensamento de injustiça nós nos revoltamos. Dizem ainda que justiça consiste no respeito aos direitos de cada um, direitos estes que são determinados pelas leis humanas e naturais. Aí entra um fator importante da questão: A Lei Humana. O homem estabelece leis de acordo com os seus costumes. Assim, a medida que o homem evolui moralmente, ele vai atualizando esta Lei humana e alterando os direitos.

Isto pode ser claramente visível na afirmação:

“Nos primeiros anos da revolução, a maior parte do mundo era homofóbica. O mesmo ocorria aqui em Cuba, o que levou a atos que eu considero injustos”, disse Mariela Castro.

“O que eu vejo agora é que tanto a sociedade cubana como o governo perceberam esses erros. Há também o desejo de estabelecer medidas que evitem que esses erros voltem a ocorrer.”

Mariela notou que a sociedade e o governo, que são constituídos de pessoas, mudaram, evoluíram a ponto de perceberem seus próprios erros e desejarem não só corrígi-los, mas evitar que se repitam. Mas ela percebe também que dentro deste grupo de pessoas (sociedade cubana), que apresenta uma evolução de forma geral, existem pessoas que ainda não alcançaram o mesmo progresso espiritual. Nelas ainda persistem um número significativo de crenças que são transmitidas há gerações, crenças como considerar a homossexualidade uma doença ou uma falta de caráter. O ser humano só evolui a medida em que renova as suas crenças e pode-se perceber isto quando muitas pessoas afirmam que, mesmo desaprovando a homossexualidade, acreditam que cada um é livre para viver a sua vida. Esta é a essência da justiça. Mesmo que não concordemos com alguma coisa, respeitamos o direito de cada um.

A luta por justiça é na verdade a luta pelo progresso coletivo dos homens. Através de um estudo das mudanças na justiça humana, podemos verificar o progresso espiritual do homem.

  • Claudia Cardamone nasceu em 31 de outubro de 1969, na cidade de São Paulo/SP. Formada em Psicologia, no ano de 1996, pelas FMU em São Paulo. Reside atualmente em Santa Catarina, onde trabalha como artesã. É espírita e trabalhadora da Associação Espírita Seareiros do Bem, em Palhoça/SC.