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O parlamento francês aprovou lei que proíbe a promoção da magreza extrema - inclusive em revistas de moda. José Antonio M. Pereira comenta.

  • Data :25/06/2008
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Parlamento francês aprova lei que proíbe a promoção da magreza extrema

PARIS (AP) - O parlamento francês aprovou nesta terça-feira uma lei que proíbe a promoção da magreza extrema - inclusive em revistas de moda, publicidade e websites.

A Assembléia Nacional aprovou a lei numa série de votações depois que o projeto conseguiu apoio unânime do partido conservador de situação UMP. A lei chegará ao Senado nas próximas semanas.

Especialistas da indústria de moda dizem que, se aprovada, a lei será a mais impactante do seu gênero. Representantes da alta costura francesa se opõem à idéia de barreira legais impostas sobre padrões de beleza.

O projeto de lei é a última e mais forte medida tomada depois que a morte de uma modelo brasileira por anorexia em 2006 gerou esforços na indústria de moda internacional para combater a repercussão do uso de modelos muito magras.

A autora da lei Valery Boyer argumenta que encorajar a anorexia ou a perda de peso deve ser punível na justiça.

Médicos e psicólogos responsáveis por pacientes com anorexia nervosa - uma desordem caracterizada pelo medo anormal de aumento no peso - receberam bem as medidas de combate à inanição auto-infligida por parte do governo francês, mas alertam que a relação da doença com as imagens divulgadas na mídia ainda não foi comprovada.

Políticos e representantes da indústria da moda assinaram na semana passada um acordo para promover imagens mais saudáveis.

Segundo Boyer, essa medida não é o suficiente.

Seu projeto de lei almeja especialmente os sites pró-anorexia que dão conselhos sobre como sobreviver comendo apenas uma maçã por dia.

Boyer insistiu em seu discurso nesta terça-feira que a lei é muito mais ampla e pode, teoricamente, ser usada contra muitas facetas da indústria da moda.

A lei permitirá que juízes apreendam e multem os ofensores em até US$47.000, caso sejam culpados de “incitar as pessoas a não se alimentarem” a um grau “excessivo”, disse Boyer.

Os juízes também poderiam sancionar os responsáveis por fotos de modelos “excessivamente magras, cuja saúde estejam visivelmente alteradas” que sejam publicadas em revistas, ela disse.

Boyer afirma ter como foco principal a saúde das mulheres, apesar da lei se aplicar a modelos de ambos os sexos. O Ministério da Saúde francês afirma que a maioria das 30.000 ou 40.000 pessoas com anorexia na França é composta por mulheres.

Didier Grumbach, presidente da influente Federação Francesa de Alta Costura, afirmou não saber quão ampla será a nova lei e deixou claro sua contrariedade contra uma medida tão generalizadora.

“Nós nunca aceitaremos que um juiz decida se uma jovem é magra ou não”, ele disse. “Isso não existe no mundo e certamente não irá existir na França”.

Marleen S. Williams, professora de psicologia da Universidade de Bringham Young, em Utah, que pesquisa os efeitos da mídia em mulheres anoréxicas, afirmou que é praticamente impossível provar que a mídia causa desordens alimentares.

Segundo ela, estudos mostram menos desordens alimentares em “culturas que valorizam mulheres mais cheias”. Ela teme que com a nova iniciativa legal francesa “você esteja cobrindo um lado do problema, mas existem outros. A questão é muito mais complexa do que isso”.

Notícia publicada no portal Último Segundo , em 15 de abril de 2008.

José Antonio M. Pereira comenta*

Triste o fenômeno da expansão da anorexia como uma prática cultuada. Se a pessoa deseja ser magra ou gorda, é uma questão de foro íntimo, como qualquer outro desejo pessoal. Mas quando este desejo extrapola os limites da saúde, quando se torna algo que nos faz mal ou faz mal a outro, então a sociedade precisa intervir. A preocupação dos franceses se dá no âmbito da saúde pública, mas também podemos pensar da mesma forma do ponto de vista espiritual. Isto porque, ao contrário do que muitos pensam, o nosso corpo não é nosso, é doação dada por Deus para que vivamos nossa experiência educativa na Terra. É um bem tomado por empréstimo, e por ele prestaremos conta no futuro.

Há algumas décadas atrás a sociedade parecia mais preocupada com o “ter” do que com o “ser”. Nos dias de hoje, as coisas não mudaram muito. Na impossibilidade de ter tanto, busca-se mais o “parecer” do que o “ser”. Na ânsia de serem aceitas pela sociedade, na preocupação de corresponder mais às necessidades dos outros do que a si mesmas, muitas mulheres, jovens e maduras, aderem cada vez mais à anorexia. A falta do “conhece-te a ti mesmo”, do contato com o próprio eu - onde está escrita a Lei de Deus -, cria um vazio interior que leva a uma profunda infelicidade. O resultado é o surgimento de manifestações patológicas como essa e tantas outras, como depressão, violência, dependência química, desigualdade social.

Como nos diz a Doutrina Espírita, à medida que a humanidade evolui, suas leis se modificam e tornam-se mais próximas à Lei de Deus. A lei aprovada pelo parlamento francês seria um exemplo disso. Mas os Espíritos, nas respostas coletadas por Allan Kardec, nos dizem também que “essas leis mais se destinam a punir o mal depois de feito, do que a lhe secar a fonte. Só a educação poderá reformar os homens”.(1)

Por isso, além de leis melhores, precisamos também de uma educação mais voltada para a ética do que para proporcionar melhores empregos. Precisamos que as famílias se preocupem mais em dar valores melhores aos seus filhos. Precisamos de mais amor, para nós mesmos e para os outros. Precisamos de mais Evangelho nos corações do que nos discursos e nas vitrines que a sociedade cria para disfarçar suas fraquezas.

Referências:

(1) O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, Editora Feb, Perg. 796. Veja também as perguntas 781, 788, e 795.

  • José Antonio M. Pereira é espírita há 28 anos, tendo atuado principalmente na área de evangelização juvenil. Atualmente, é integrante da Casa de Emmanuel, no Rio de Janeiro, e da equipe do Serviço de Perguntas e Respostas do Espiritismo.net.