Carregando...

  • Início
  • Maioria das pessoas em situação de rua tem emprego ou atividade remunerada, diz pesquisa

70,9% dos entrevistados exercem atividades remuneradas e a maioria afirma ter alguma profissão. Nara Coelho comenta.

  • Data :20/06/2008
  • Categoria :

Maioria das pessoas em situação de rua tem emprego ou atividade remunerada, aponta pesquisa

Sabrina Craide Repórter da Agência Brasil

A maior parte da população em situação de rua no Brasil (70,9%) exerce atividades remuneradas, entre elas a de catador de materiais recicláveis, flanelinha, empregado de construção civil e de limpeza e como estivador (ajudante de embarque de carga nos portos). A maioria (52,6%) recebe entre R$ 20 e R$ 80 por semana e 15,7% têm a esmola como principal meio para a sobrevivência.

Os dados são da Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua, realizada em parceria entre a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). O levantamento, feito em outubro do ano passado, envolveu pessoas com mais de 18 anos que vivem nas rua de 71 cidades com mais de 300 mil habitantes.

A maioria dos entrevistados afirma ter alguma profissão - 58,6%. Entre as ocupações mais citadas destacam-se as ligadas à construção civil (27,2%), ao comércio (4,4%), ao trabalho doméstico (4,4%) e à mecânica (4,1%). De acordo com o texto da pesquisa “esses dados são importantes para desmistificar o fato de que a população em situação de rua ser composta por ‘mendigos’ e ‘pedintes’. Aqueles que pedem dinheiro para sobreviver constituem minoria”. No entanto, 1,9% dos entrevistados confirma trabalhar com carteira assinada e 47,7% nunca tiveram trabalho formal.

Foram identificadas 31.922 pessoas em situação de rua nas cidades pesquisadas vivendo em calçadas, praças, rodovias, parques, viadutos, postos de gasolina, praias, barcos, túneis, depósitos e prédios abandonados, becos, lixões, ferro-velho ou pernoitando em instituições (albergues, abrigos, casas de passagem e de apoio e igrejas).

Entre os entrevistados no censo, a maioria (71,3%) disse que passou a viver e morar na rua por conseqüência de alcoolismo ou uso de drogas, desemprego e brigas familiares. Pela pesquisa, 79,6% fazem pelo menos uma refeição por dia e 19% dos entrevistados não conseguem se alimentar diariamente.

A maioria das pessoas (69,9%) dorme nas ruas, 22,1%, em albergues e 8,3% costumam alternar. O principal motivo que leva os entrevistados a preferirem locais públicos para pernoitar é a liberdade, pois não há estabelecimento de horário de permanência nem proibição do uso de álcool e drogas.

Os programas governamentais não alcançam 88,5% dos entrevistados, que negam receber qualquer benefício do governo. Do total dos entrevistados, 95,5% disseram não participar de nenhum movimento social e 61,6% não exercem o direito ao voto.

A taxa de recusa dos entrevistados em responder ao questionário foi considerada baixa pelos pesquisadores - 13,4%. Desses, 36,6% disseram desacreditar que o levantamento possa beneficiá-lo, 18% não acordaram para responder, 14,3% estavam embriagados e 14% aparentavam transtorno mental.

Notícia publicada pela Agência Brasil , em 29 de abril de 2008.

Nara Coelho comenta*

Somos Todos

  • Vou morrer de frio!, choramingava a criança.

  • Vai não…, dizia a mãe carinhosa, abraçando o filhinho para aquecê-lo. Realmente, Juiz de Fora estava sob uma intensa onda de frio. E a mãe, preparando-o para dormir, continuava dizendo:

  • Fique quietinho e, agora mesmo, você se aquecerá. E, ajeitando-lhe as cobertas, dizia:

  • Vamos agradecer a Deus porque temos uma casa, uma caminha quente, agasalhos… E, enquanto falava, pensava nos mendigos expostos ao frio. Como que lhe adivinhando o pensamento, o garotinho indagou:

  • Mãe, e aquele moço que estava dormindo na calçada, na porta do colégio, vai morrer de frio?!

A mãe se emocionou com a pergunta mas continuou firme:

  • Não, filhinho, porque existem pessoas boas que vão levá-lo para um abrigo.

O garotinho ajeitou-se na cama, como que embalado pela segurança da resposta e, após acompanhar a mãe em pequena prece de agradecimento, adormeceu.

Aquela jovem mãe afastou-se em silêncio do quarto, apagando a luz, mas sem se desligar, porém, da emoção de saber que podia agradecer a Deus pelo lar, pelo teto, pelo agasalho. Entretanto, quantos  estavam nas ruas sob as intempéries, vergastados pelas vicissitudes da vida; alcoolizados, drogados, abandonados, enlouquecidos. Todos, filhos de Deus.

Diante desta situação, e sem contar com a ajuda do entendimento espírita, temos três posições a assumir: ou nos sentimos privilegiados pelas leis de Deus, alimentando o próprio orgulho; ou negamos a existência de Deus, pela ausência de justiça ou, finalmente, tornamo-nos alienados, iniciando uma loucura particular. Nas três hipóteses, seremos candidatos a mendicância do corpo ou da alma, dando continuidade ao círculo vicioso do sofrimento.

Com o Espiritismo, porém, temos a confortadora certeza de que somos espíritos em evolução, para o quê que estamos na Terra, assumindo a responsabilidade de nosso próprio futuro. Não existem deserdados da sorte, nem abandonados das leis de Deus. Somos, todos, almas peregrinas, atravessando os séculos na busca de nos conhecermos a nós mesmos e de entendermos a vida até que fixemos as leis divinas em nossas ações. Somos, todos, viajores da eternidade, mendigando, por meio das reencarnações e de incontáveis experiências, a resposta dos porquês de nossas dores, chave divina que delas nos libertarão. Por isto, Jesus nos disse: “Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará”. E ainda: “Bem-aventurados os pobres de espírito porque deles é o Reino dos Céus.” Pobreza de espírito que significa busca, mendicância das verdades espirituais que temos ignorado e por isto somos infelizes.

Assim, os que vagueiam nas trevas, entre dor e miséria, encarnados ou desencarnados, são pobres, são mendigos do alimento espiritual, da educação moral de que deverão se abastecer, integralmente, ao longo das reencarnações. Não foi aleatoriamente que Jesus disse: “Eu sou o Pão da Vida!”

Na questão 685 a, de “O Livro dos Espíritos”, há um comentário de Kardec à reposta dos espíritos, que muito nos esclarece. Diz ele: “(…) Há um elemento a que não se tem dado o devido valor e sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria: a educação. Não a educação intelectual, mas a educação moral. Não nos referimos a educação moral pelos livros e sim à que consiste na arte de formar os caracteres, àquela que cria hábitos, uma vez que a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos. Quando se pensa na grande quantidade de indivíduos que todos os dias são lançados na torrente da população, sem princípios, sem freio e entregue aos seus próprios instintos, serão de admirar as conseqüências desastrosas que daí resultam? Quando esta arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhes permitirão atravessar com menos dificuldade os dias ruins que não pode evitar. A desordem e a imprevidência são duas chagas que só uma educação bem entendida pode curar. Eis aí o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, a garantia da segurança de todos.”

Kardec nos deixou esta lição em 1857 e, hoje, vemos o resultado da falta de educação moral: o arrastamento para misérias de todos os matizes.

Com o Espiritismo, entendemos a responsabilidade que pesa sobre os ombros de quem já raciocina segundo os ditames do Evangelho de Jesus: “Aquele que o fizer a um destes pequeninos é a mim que o está fazendo”. Cumpre-nos a todos, reunir as condições de ajudar o nosso próximo: amando, perdoando, servindo, construindo em torno de nossos passos as condições para que sejamos sempre úteis. Quando desconhecemos as finalidades superiores da vida, não nos preocupamos com a educação moral e edificamos a miséria, facilmente. Daí a necessidade de compreendermos que nem todos os que estão famintos querem pão ou leite. Muitos preferem entregar-se ao álcool ou às drogas, lícitas ou ilícitas, assessorados pelos espíritos desencarnados que estagiam na mesma sintonia. Eis que desejam esconder-se de si mesmos, de suas dúvidas, de suas fraquezas, de seus medos…

Impregnado nas notícias do alto índice de miseráveis, dos que mendigam “profissionalmente”, dos que choram de solidão e de abandono, das crianças e dos velhos desesperançados, está o mesmo Brasil que patina na lama da corrupção. O mesmo dos crimes impunes, da violência banalizada, do sexo enlouquecido, da pornografia incorporada aos costumes. O mesmo que nos deixa perceber quanto desprezamos a educação moral, nossa e dos nossos filhos, atitude que se faz porta de entrada para o inferno que ajudamos a construir e que nos acompanha reencarnação após reencarnação.

Que, por meio do conhecimento da Doutrina Espírita, socorramo-nos a nós mesmos, para que, fortalecendo a corrente do bem, iniciada há mais de dois mil anos pelo Mestre Jesus, conquistemos um lugar entre os que “oferecem abrigo”, adquirindo o direito de progredir em paz!

Somos, todos, filhos de Deus.

  • Nara Coelho, mineira de Juiz de Fora, formada em Direito pela Faculdade de Direito da UFJF, é expositora espírita nos Estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, articulista em vários jornais, revistas e site de diversas regiões do país.