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A atriz afirmou que o terremoto na China, no qual morreram milhares de pessoas, foi um ‘mau carma’ pela política no Tibete. José Antonio M. Pereira comenta.

  • Data :15 Jun, 2008
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Dalai Lama se distancia das palavras de Sharon Stone sobre terremoto na China

SYDNEY (AFP) - O Dalai Lama se distanciou nesta quinta-feira da atriz americana Sharon Stone, que no festival de cinema de Cannes afirmou que o terremoto de 12 de maio, na China, no qual morreram mais de 69.000 pessoas, foi um “mau carma” pela política de Pequim no Tibete.

Stone citou o líder espiritual tibetano no exílio como um “bom amigo” no festival francês.

“Sim, conheço esta senhora”, confirmou o Dalai Lama em uma entrevista coletiva em Sydney, antes de se distanciar e afirmar que não compartilha o ponto de vista da atriz.

“Do ponto de vista budista todos os acontecimentos são carma”, disse o líder tibetano, de 72 anos.

“A tragédia no Tibete, a tragédia em Mianmar, a tragédia na China, tudo isto é carma, mas este tipo de comentário…, não sei”, afirmou.

Sharon Stone pediu desculpas pelo comentário, que provocou grande indignação na China e levou a marca de produtos de luxo e moda Christian Dior, da qual a atriz é uma das garotas-propaganda, a retirar os anúncios da estrela do país.

Notícia publicada no Yahoo! Notícias , em 12 de junho de 2008.

José Antonio M. Pereira comenta*

Este episódio se assemelha de algum modo à passagem evangélica, quando Jesus, questionado sobre os impostos cobrados por Roma ao povo Palestino dominado, aproveita o momento para dar um ensinamento para a eternidade: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.” (MATEUS, cap. XXII, vv. 15 a 22. - MARCOS, cap. XII, vv. 13 a 17.) O Mestre sabia da armadilha que a pergunta representava, já que vinha de encontro ao anseio político do povo hebreu de reconquistar sua soberania política. O objetivo naquele instante era associar Jesus a essa idéia para que o Império Romano o considerasse um inimigo, e assim, os fariseus encontrariam uma maneira de por fim às suas pregações. Embora a reivindicação fosse justa, o Mestre não se encontrava entre nós para nos livrar das cadeias humanas, mas nos libertar de nós mesmos para a felicidade eterna.

Dalai Lama, líder político do povo tibetano, vive no exílio desde 1951, quando a República Popular da China invade o Tibete sob a alegação de reintegrá-lo “à terra-mãe”. Ocorre que o Dalai Lama também é o representante máximo do Budismo tibetano, e luta pela sua libertação, porém sem ferir os princípios de paz característicos de sua fé. Por isso, a afirmativa de Sharon Stone, surge como uma centelha perigosa, ao associar os trágicos acontecimentos na China das últimas semanas à maneira como o governo daquele país tem conduzido sua política em relação ao Tibete. Por isso, o líder tibetano esclarece que, do ponto de vista budista, tudo é carma, mas diz não compartilhar do ponto de vista da atriz.

Muitos podem entender que o Dalai Lama apenas procurou ser politicamente correto e não despertar a ira do governo chinês. Mas não teria Jesus sido criticado da mesma forma? O líder budista não poderia, na verdade, deixar de se posicionar, fiel às suas crenças, da mesma forma que o Cristo. Considerar as 69 mil mortes responsabilidade daquele governo seria transferir as conseqüências dos atos de uns para ser assumidas por terceiros.

Perante a Doutrina Espírita, o entendimento é o mesmo. Os sofrimentos pelos quais passamos na Terra têm de ter uma razão, por isso, a Lei de Causa e Efeito é um dos seus princípios básicos. E seria um absurdo considerarmos que se Deus existe – e por ser o Ser Supremo, possui todas as qualidades humanas em grau superior – Ele permitiria que uma Lei sua fizesse alguém sofrer por culpa de outro. Diga-se de passagem que o conceito de carma é bastante semelhante à Lei de Causa e Efeito espírita. Embora seja comumente usada como referência ao que ocorre quando praticamos o mal, a palavra carma, ou karma, significa “ação” em sânscrito, e portanto expressa a idéia de que para toda ação há uma reação, seja esta ação boa ou ruim.

É natural desejarmos que um dia o povo do Tibete seja livre do domínio humano, mas segundo o ensinamento de Jesus e o exemplo do Dalai Lama, mais importante que isso é desejarmos que todos nos libertemos da prisão interior criada por nós mesmos.

*  José Antonio M. Pereira é espírita há 28 anos, tendo atuado principalmente na área de evangelização juvenil. Atualmente, é integrante da Casa de Emmanuel, no Rio de Janeiro, e da equipe do Serviço de Perguntas e Respostas do Espiritismo.net.