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Polícia austríaca prende um homem identificado como Josef F., de 73 anos, suspeito de ter escondido sua filha em um porão por 24 anos e de ter tido sete filhos com ela. Carlos Miguel Pereira comenta.

  • Data :18 May, 2008
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Austríaco ‘escondeu filha no porão por 24 anos’

A polícia austríaca prendeu neste domingo um homem identificado como Josef F., de 73 anos, suspeito de ter escondido sua filha em um porão por 24 anos e de ter tido sete filhos com ela.

A existência da mulher, identificada pela polícia como Elisabeth F., foi descoberta depois que uma de suas filhas, Kerstin, de 19 anos, ficou seriamente doente e teve que ser levada a um hospital, na semana passada.

Os médicos que a examinaram requisitaram que a mãe comparecesse ao hospital para relatar o histórico de saúde da filha, de acordo com a polícia.

Elisabeth F. era tida como desaparecida desde 1984. Na época, uma carta escrita à mão em sua caligrafia fez as autoridades abandonarem as buscas, assumindo que ela tivesse fugido de casa.

A vítima disse à polícia que sofreu abuso desde os 11 anos de idade pelo pai. No cativeiro, ela afirmou que teve sete filhos com Josef, mas uma das crianças teria morrido ainda na infância.

Tanto a jovem como a mãe como os filhos estão recebendo tratamento médico.

A polícia agora espera que exames de DNA determinem se Josef F. é o pai dos filhos de Elisabeth.

Embora as investigações não tracem um paralelo entre os dois casos, a história de Elisabeth recordou a da jovem Natasha Kampusch, também austríaca.

Em 2006 ela conseguiu escapar de seu captor depois de ter passado oito anos trancada no porão de uma casa em um subúrbio de Viena, onde também sofreu abusos sexuais.

Kampusch foi seqüestrada aos 10 anos de idade, quando voltava da escola em 1998, e mantida em um pequeno porão, sem janelas, sob a garagem da casa de seu captor, Wolfgang Priklopil, no subúrbio de Viena.

Notícia publicada na BBC Brasil , em 27 de abril de 2008.

Carlos Miguel Pereira comenta*

A primeira reação ao sucedido na Áustria é de perplexidade e de desconforto. A perturbação é habitual quando somos confrontados com as dimensões que a maldade humana pode apresentar, essencialmente porque não conseguimos compreender as razões que a provocam. Como é possível um ser humano comportar-se de uma forma tão premeditada e inteligente, durante dezenas de anos, provocando conscientemente um sofrimento incalculável na sua própria filha? Como é que alguém inserido, criado e educado numa sociedade culturalmente evoluída para os padrões terrenos é capaz de cometer atos de natureza tão hedionda? Como é que Deus permite que tal aconteça?

Em “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, os Espíritos esclarecem: “A sabedoria de Deus está na liberdade de escolher que Ele deixa a cada um, porquanto, assim, cada um tem o mérito de suas obras.” Deus concedeu-nos o livre-arbítrio, ou seja, dotou-nos da responsabilidade de assumir as nossas decisões e atitudes, tanto as boas como as más, colhendo as inevitáveis conseqüências que daí virão. A maldade e a crueldade que o homem ainda cultiva no mundo não são responsabilidade de Deus, porque sendo infinitamente justo e bom Ele criou todos os Espíritos com as mesmas aptidões e potencialidades, ou seja, simples e ignorantes, tendo tanta propensão para o bem como para o mal. O mal é então, conseqüência do egoísmo, da falta de desenvolvimento do senso moral, da incapacidade para controlar a natureza primitiva e de equilibrar os instintos e sensações que ainda predominam. É resultado da ignorância do homem na estrada da evolução e é da responsabilidade única de quem o comete, ignorados os estímulos sociais e mesmo espirituais recebidos para a superação dos vícios e paixões do passado, acabando por sucumbir a esses mesmos impulsos.

Perante aquilo que se passou na Áustria, à luz da Doutrina Espírita, sabendo das inúmeras experiências reencarnatórias que todos já vivemos e do papel preponderante que os nossos pensamentos, atitudes e atos têm na atração de Espíritos vinculados com determinado tipo de comportamentos, poderíamos esboçar algumas justificações, sondar prováveis causas e delinear possíveis teorias. Este modo de procurar explicações, para além de ser extremamente complexo e questionável nesta situação específica, é uma forma inconsciente de negar que o que aconteceu na Áustria é uma forma de crueldade que precisamos combater e que é urgente ser erradicada da nossa sociedade.

Naturalmente indignados, devemos no entanto perceber que tudo na vida é evolução e que casos como o narrado na notícia fazem parte do processo natural da humanidade em amadurecimento e crescimento espiritual. Como nos diz o Espírito de Hammed, no livro “As Dores da Alma”: “Cada ato de agressividade que ocorre neste mundo tem como origem básica uma criatura que ainda não aprendeu a amar.” Para a Doutrina Espírita, a ignorância é a causa da maldade humana. Todos nós passamos por fases de maior egoísmo, orgulho e ignorância até atingirmos as maiores virtudes espirituais. Josef Fritz, tal como todos nós, é um Espírito em aprendizado a desfrutar desta enorme oportunidade que é a vida. Deus, como suprema inteligência, bondade e justiça, conceder-lhe-á infindáveis oportunidades para que possa conciliar as suas necessidades de reparação com as suas necessidades de aprendizado, permitindo que ele possa evoluir e que tenha condições de no futuro se transformar num Espírito bom, rumo a níveis cada vez maiores de aperfeiçoamento.

Este homem será castigado por Deus pelos seus atos? Certamente que irá ter que ultrapassar bastantes dificuldades no presente e no futuro. Como nos diz a Lei de Causa e Efeito: Todas as nossas atitudes, palavras e intenções, mesmo as mais insignificantes, produzem efeitos com que nós mesmos teremos que lidar. Mas nós ainda somos, muitas vezes, tentados a exigir justiça da forma como ela era praticada pelos nossos antepassados e achamos que Deus, ou alguém a seu mando, será esse carrasco que fará o favor de executar as sentenças para que quem fez sofrer, também sofra e se possível ainda mais. Ao idealizarmos Deus desta forma, transformamo-lo no severo juiz das nossas ações. Devemos perceber que as nossas atitudes são o nosso guia perante a nossa consciência. O Céu e o Inferno que vivemos e viveremos está dentro de nós, através do estado de paz existencial que experimentamos ou do tormento da nossa consciência que nos empurrará ou instigará à necessidade íntima de correção e reparação das nossas atitudes equivocadas.

  • Carlos Miguel Pereira trabalha na área de informática e é morador da cidade do Porto, em Portugal. Na área espírita, é trabalhador do Centro Espírita Caridade por Amor (CECA), na cidade do Porto, e colaborador regular do Espiritismo.net.