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Psicóloga defende a discussão de casos que envolvam atendimentos à mulher e a todas as pessoas em situação de violência. Claudia Cardamone comenta.

  • Data :26/04/2008
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Tese de doutorado aborda a violência contra a mulher nas relações conjugais

Maria Fernanda Schardong

A saúde pública tem papel fundamental na prevenção e atenção a pessoas em situação de violência. Segundo o Relatório Mundial sobre Violência e Saúde, elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2002, algumas medidas como a coleta de dados sobre a violência, a criação e implementação de planos nacionais de prevenção, o apoio à pesquisa sobre causas e conseqüências da violência e a promoção da igualdade social e de gênero devem ser prioridades na busca pelo fim da violência, especialmente contra a mulher. Pensando nisso, a psicóloga Corina Mendes, do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec) da Fiocruz, desenvolveu a tese de doutorado Vozes do silêncio: estudo etnográfico sobre violência conjugal e fertilidade feminina , no Instituto Fernandes Figueira (IFF), outra unidade da Fundação. O estudo buscou compreender as escolhas de mulheres vítimas de violência conjugal, relacionadas ao campo da saúde reprodutiva, especialmente sobre a decisão de engravidar. A pesquisadora constatou que a idealização da família de origem e a ausência de afeto e proteção na infância influenciam nas escolhas amorosas e na decisão de ter filhos dessas mulheres.   “Durante a gravidez há a esperança de reparação ou consolidação da família por meio dos filhos, atribuindo a eles a expectativa de garantir a estabilidade e segurança à vida conjugal, o que geralmente não acontece, expondo a mulher a riscos ainda maiores de violência”, ressalta Corina. A pesquisa baseou-se na experiência da pesquisadora no trabalho com gestantes no Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e na Assessoria de Prevenção de Acidentes e Violência da Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro. O trabalho de campo foi realizado no Centro Integrado de Atendimento à Mulher (Ciam), serviço do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (Cedim), que presta atendimento psicossocial e jurídico a vítimas de violência.

Para a psicóloga, a organização dos serviços da rede pública de saúde deve privilegiar os espaços de discussão de casos que envolvam atendimentos, não só a mulher, mas a todas as pessoas em situação de violência, trabalhando em rede intersetorial e ampliando os recursos de proteção e promoção de comportamentos protetores. Além disso, deve-se investir na formação dos profissionais e na estruturação de serviços de saúde numa perspectiva de integralidade e equidade. “Em situações de violência intrafamiliar, não basta prescrever medicamentos ou condutas. É preciso criar vínculos de confiança com a mulher que atendemos, para que no momento em que ela estiver pronta, tome a decisão correta em relação à sua vida conjugal”, explica a pesquisadora.

Publicada pela Agência Fiocruz de Notícias , em 19 de março de 2008.

Claudia Cardamone comenta*

Muitas vezes, quando nos deparamos com um caso de violência familiar, concluímos que esta experiência é uma prova e/ou expiação para as pessoas que estão envolvidas. Na questão 258, de O Livro dos Espíritos, quando Kardec pergunta se o espírito, ainda no estado errante, tem consciência e previsão do que vai lhe acontecer durante a vida, os Espíritos dizem que ele mesmo escolhe o gênero de provas que deseja sofrer e é nisto que consiste o seu livre-arbítrio. A palavra sofrer tem mais de um significado, pode significar padecer, ser vítima de ou sentir dor física ou moral. Se o espírito escolheu o gênero de prova, ele não pode se considerar uma vítima. E nenhum espírito escolhe passar por determinado sofrimento, nós não desejamos passar por dores física ou morais, nós desejamos ser felizes. Então, o significado mais pertinente a este caso é passar por, experimentar. Ou seja, nós escolhemos os tipos de experiências que teremos na Terra, porque as consideramos um meio de progredirmos. O sofrimento é uma conseqüência de nossas imperfeições.

Não podemos afirmar que uma mulher que esteja passando por um relacionamento violento escolheu passar exatamente por esta experiência. Nós escolhemos o gênero das provas; os detalhes e os acontecimentos que nos aguardam são conseqüências das nossas próprias ações. Os espíritos nos dizem que nós escolhemos as provas que nos podem servir de expiação, segundo a natureza de nossas faltas, e que nos fazem adiantar mais rapidamente.

E como devemos enfrentar estas provas? Os espíritos afirmam em O Evangelho segundo o Espiritismo:

“Quando Cristo disse:“Bem-aventurados os aflitos, porque deles é o Reino dos Céus”, não se referia aos sofredores em geral, porque todos os que estão neste mundo sofrem, quer estejam num trono ou na miséria, mas ah! Poucos sofrem bem, poucos compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzir do Reino de Deus. O desânimo é uma falta; Deus vos nega consolações, se não tiverdes coragem. A prece é um sustentáculo da alma, mas não é suficiente por si só: é necessário que se apóie numa fé ardente na bondade de Deus. Tendes ouvido freqüentemente que Ele não põe um fardo pesado em ombros frágeis. O fardo é proporcional à resignação e à coragem. A recompensa será tanto mais esplendente, quanto mais penosa tiver sido a aflição. Mas essa recompensa deve ser merecida, e é por isso que a vida está cheia de tribulações”.

Acreditar que um filho, por melhor que seja, possa recuperar ou “salvar” um casamento é imaginar que outra pessoa possa resolver um problema que é nosso. Se apesar de existir uma situação de violência, a mulher ainda deseja resgatar seu casamento, ela deve conseguir isto através do amor, da tolerância, da paciência… Se os filhos vierem, serão sempre uma bênção de Deus, mas planejar a vinda de um filho, na esperança da reparação ou consolidação da família, é esperar que outra pessoa faça a nossa parte.

Se a união somente traz muito sofrimento e tendo o indivíduo o livre-arbítrio de sair ou continuar nesta relação, o Espiritismo não condena o divórcio, como é possível se verificar em O Evangelho segundo o Espiritismo:

“O divórcio é uma lei humana, cuja finalidade é separar legalmente o que já estava separado de fato. Não é contrário à Lei de Deus, pois só reforma o que os homens fizeram, e só tem aplicação nos casos em que a lei divina não foi considerada. Se fosse contrário a essa lei, a própria Igreja seria forçada a considerar como prevaricadores aqueles dos seus chefes que, por sua própria autoridade, e em nome da religião, impuseram o divórcio, em várias circunstâncias…”

Mas devemos lembrar sempre que a Doutrina Espírita não faz apologia ao sofrimento. Cada um de nós tem o livre-arbítrio para escolher seus caminhos. Esta doutrina nos lembra que é de nossa exclusiva responsabilidade escolher entre o sofrimento e a felicidade.

  • Claudia Cardamone nasceu em 31 de outubro de 1969, na cidade de São Paulo/SP. Formada em Psicologia, no ano de 1996, pelas FMU em São Paulo. Reside atualmente em Santa Catarina, onde trabalha como artesã. É espírita e trabalhadora da Associação Espírita Seareiros do Bem, em Palhoça/SC.