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O assédio moral, avaliam os especialistas, é um comportamento deselegante e impróprio em qualquer situação. Carlos Miguel Pereira comenta.

  • Data :30 Mar, 2008
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Assédio moral prejudica a “saúde” profissional, física e mental do funcionário

Ione Luques - O Globo Online

RIO - Assédio moral no trabalho, também conhecido como violência moral ou terror psicológico, não é nenhuma novidade no meio profissional. É tão antigo quanto o próprio trabalho. Normalmente confundido com o assédio sexual, o assédio moral é a exposição dos trabalhadores  a situações humilhantes, constrangedoras e vexatórias, que podem se tornar repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício das funções do empregado. Especialistas consultados pelo O GLOBO ONLINE afirmam que é mais comum em relações hierárquicas autoritárias, em que predominam condutas negativas, desumanas e, muitas vezes, sem ética, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinados.

Normalmente, a atitude desestabiliza a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a empresa, podendo forçá-la a desistir do emprego. O assédio moral, na avaliação dos especialistas, é um comportamento deselegante, impróprio em qualquer situação. Para Fátima Sanchez, gerente de Desenvolvimento Pessoal da Personal Service, demonstra falta de senso moral, além de demonstrar falta dos princípios básicos da liderança e da educação.

É um ato desrespeitoso, completamente equivocado e, principalmente, que evidencia fraqueza e covardia por parte do autor - completa André Moraes, da Talento e Profissão.

Este tipo de assédio, diz Fátima Sanchez, é caracterizado pela formação cultural de um chefe ou de um colega que se julga superior ou com poder de direito e não de fato. Ela acrescenta que o líder de fato não precisa utilizar este artifício para liderar.

  • É muito utilizado por chefes que desconhecem o assunto ou psicologicamente se acham inferiores. São pessoas frustradas, que têm situações pessoais não resolvidas fora da empresa e pegam um subordinado como bode expiatório para descarregar sua frustração ou ira.

Efeito devastador

Os especialistas apontam que a humilhação repetitiva e de longa duração interfere na vida do funcionário de modo direto. Segundo a consultora Luisa Chomuni Alves, seu poder de destruição vai além da sua prática, acarretando prejuízos práticos emocionais para o funcionário e a empresa, comprometendo sua identidade, dignidade e relações afetivas e sociais, ocasionando graves danos à saúde física e mental, que podem evoluir para a incapacidade de trabalhar, desemprego ou até mesmo a morte. Uma pessoa que é assediada moralmente pode apresentar sintomas de stress, ser cabisbaixo, quieto, calado, triste, ter pressão alta e até diabetes, ressalta Fátima Sanchez.

  • Alguns “sintomas” podem caracterizar o assediado moralmente, como senso de injustiça, revolta, perda de auto-estima e desânimo - acrescenta André Moraes, lembrando que, conseqüentemente, o desempenho profissional cai, o que ajuda a piorar a situação.

Segundo ele, poucos são aqueles que sabem lidar com este tipo de situação. Certamente, a saúde pode ser afetada, pelo próprio moral abalado.

  • Por vezes, materializam-se outros problemas que podem ser diretamente associados à questão: alcoolismo, drogas e, em caso extremo, suicídio.

Notícia publicada pelo O Globo Online , em 14 de março de 2008.

Carlos Miguel Pereira comenta*

A notícia nos relata uma situação recorrente nos nossos dias e que, podendo não nos afetar diretamente, certamente teremos conhecimento de fatos similares através de familiares e amigos. O assédio moral é um conjunto de ações deliberadas e continuadas no tempo, que têm como objetivo o descrédito, a humilhação e a fragilização do funcionário dentro do local de trabalho, provocando paralelamente a degradação do ambiente laboral, a aniquilação psicológica da vítima e desencadeando sintomas físicos e doenças como hipertensão, crises de ansiedade e depressão, etc.

Os alvos preferenciais e mais expostos a este tipo de assédio moral são os trabalhadores com menor formação e com um emprego precário, que vivem com dificuldades econômicas tremendas, fazem de tudo para segurar os empregos e não têm saída fácil para as humilhações e pressões recebidas. Como são coagidos a conviver diretamente com este tratamento injusto e cruel durante a grande parte do dia, se não possuírem resistências psicológicas que lhe permitam superar esse ambiente que desassossega, que retira a serenidade, que gera uma desconfiança das próprias capacidades e potencialidades, irão acumular essa perturbação, acabando por se tornar um fardo que passarão a carregar para qualquer lugar onde forem.

Mas, por quê? Por que é que isso foi acontecer justamente comigo? Estarei sendo castigado pelo mal que fiz aos outros noutras vidas?

Meditemos nesse trecho do livro “O Homem Novo”, de José Herculano Pires: “O Espiritismo nos ensina a aceitar a realidade para vencê-la, muito longe de ser uma Doutrina Conformista, é uma Doutrina de luta: O Espírita deve lutar diariamente para superar o mundo e superar-se a si mesmo.”

A complexidade de nossas experiências reencarnatórias está longe de nossa capacidade de entendimento, mas todos queremos compreender e ser compreendidos. Não podemos olvidar que as causas de nossos obstáculos presentes estão muitas vezes no passado, mas muito mais importante que saber quais são essas causas, é ultrapassar esses obstáculos. Como constatamos pelas sábias palavras de Herculano Pires, muito longe de se poder considerar uma doutrina conformista, o Espiritismo é uma doutrina de luta. Mas não é uma luta contra ninguém, nem mesmo contra nós mesmos. É uma doutrina de luta por nós, pela nossa transformação moral e, através dessa renovação íntima, é uma luta por um objetivo ainda mais abrangente: Pela transformação moral da humanidade. As dificuldades e as contrariedades que a vida vai colocando no nosso caminho não são processos de punição ou de castigo, mas antes mecanismos de educação e de reparação. É através do esforço de superação das dificuldades que iremos moldar e fazer crescer o nosso Espírito, possibilitando que possamos subir mais um pouco na escala evolutiva. Não é pelo conformismo passivo em relação às dificuldades que evoluímos. Crescemos pelo esforço de superação dessas dificuldades que inevitavelmente produzirão em nós, experiência e conhecimento.

Em “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec adverte-nos sobre as tentações e as dificuldades de exercer o poder, no Capítulo IX, acerca da Lei da Igualdade: “A posição elevada no mundo e a autoridade sobre os semelhantes são provas tão grandes e arriscadas quanto a miséria; porque, quanto mais o homem for rico e poderoso mais obrigações tem a cumprir, maiores são os meios de que dispõe para fazer o bem e o mal. Deus experimenta o pobre pela resignação e o rico pelo uso que faz de seus bens e do seu poder. A riqueza e o poder despertam todas as paixões que nos prendem à matéria e nos distanciam da perfeição espiritual.”

Nessa vida, existem pessoas que têm uma enorme necessidade e sentem um grande prazer em mandar e ser obedecidas, compensando nessa possibilidade de exercer o autoritarismo algumas decepções íntimas e neuroses perturbadoras. Esse desejo do poder é uma das grandes ambições do Homem, esquecido das enormes armadilhas e tentações que esse poder exerce sobre quem o detém. Como nos diz Kardec, ter poder é de uma complexidade e dificuldade enorme, mas sobretudo é de uma responsabilidade que não pode ser menosprezada. A autoridade sadia é confiante e inspira confiança, é assente no equilibrío, firmeza, justiça, racionalidade e tem como principal objetivo o bem comum, jamais abusando da influência que detém para assim prejudicar os outros. Quem faz uso dessa autoridade sã, reconhece que o poder de que dispõe, muito mais do que algo de que se deva envaidecer ou sentir orgulho, é uma prova de grande responsabilidade, uma oportunidade concedida para orientar e ajudar os que o rodeiam a serem melhores, pessoal e profissionalmente.

O assédio moral desenvolve-se não apenas porque o assediador tem poder, mas porque ele coloca esse poder a serviço da sua mente confusa e deturpada. Como resultado de uma deformação ética e moral adquirida, de sentimentos de frustação, insegurança e inferiodade camuflados, o poder é o instrumento perfeito para agir, escondendo as suas reais motivações, que normalmente são: Preconceito (raça, sexo, religião, etc), inveja, ciúme, vingança (por divergências antigas, assédio sexual sem sucesso, denúncias), ambição excessiva, necessidade de se sentir superior, etc.

Na questão 115 de “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec faz a seguinte pergunta aos Espíritos: “Dos Espíritos, uns terão sido criados bons e outros maus?” A resposta é a seguinte: “Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de si. Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade. Passando pelas provas que Deus lhes impõe é que os Espíritos adquirem aquele conhecimento.”

Para a Doutrina Espírita, a causa do mal é a ignorância. À medida que o Espírito vai ultrapassando os estágios dos instintos e sensações, e passa a vivenciar o estágio mais evoluído dos sentimentos; à medida que aprende a amar e compreender, decidido a não cometer os erros passados e a encarar a vida como uma oportunidade dourada para conhecer, crescer e amar, o mal vai sendo gradualmente substituído por erros menores. Vamos continuar a cometer erros? É inevitável… porque nós ainda temos muito que aprender, mas teremos, ao mesmo tempo, melhores condições para identificar e corrigir esses erros.

Confrontados com uma situação de assédio moral, deveremos seguir a máxima do mestre de Nazaré em resposta a pergunta de Pedro: “Perdoarás não sete, mas setenta vezes sete!” Mas o ato de perdoar não exige que ignoremos ou neguemos nossa mágoa, apenas que possamos compreender que todos somos Espíritos em evolução, que não poucas vezes cometemos erros e que muitas outras não sabemos o melhor rumo a dar a nossos impulsos e tendências. Precisamos nos libertar do ressentimento, para que ele não se materialize em nosso interior, trazendo-nos dores e desequilíbrios, tanto externos como internos.

Isso significa que devemos ficar parados, agüentando e sofrendo resignados a humilhação? Não! Porque, como já foi dito, não é pelo conformismo passivo em relação às dificuldades que evoluiremos, mas sim pelo trabalho de superação dessas difuculdades. Necessário é que façamos uso de uma postura que limite a ação do assediador e tiremos proveito dos recursos jurídico-legais de que dispomos, que estão ao serviço de todos os cidadãos para que estes desempenhem da forma mais livre e justa os papéis que nos são atribuídos na sociedade. Ao não agirmos perante essas situações vexatórias, estamos a compactuar e a instigar a que elas se multipliquem no tempo, conosco e possivelmente com outros.

Lembremos sempre as extraordinárias palavras de Martin Luther King: “O que me preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem-caráter, nem dos sem-ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons”.

  • Carlos Miguel Pereira trabalha na área de informática e é morador da cidade do Porto, em Portugal. Na área espírita, é trabalhador do Centro Espírita Caridade por Amor (CECA), na cidade do Porto, e colaborador regular do Espiritismo.net.