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  • Famílias de refugiados palestinos fazem do Brasil sua pátria

Quase cem refugiados palestinos foram acolhidos pelo Brasil em 2007. Uma família, em especial, se sente muito feliz em já ter um filho nascido numa verdadeira pátria. Seria a ‘Pátria do Evangelho’? Sergio Rodrigues comenta.

  • Data :30/12/2007
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Famílias de refugiados palestinos acolhidas pelo Brasil fazem do país sua pátria

Soraya Aggege - O Globo

SÃO PAULO - Mohammed Armand Mussan é um bebê de sorte. Apesar de ter todos os parentes desempregados e nenhum bem familiar. E mesmo tendo nascido num dos países de maior desigualdade na distribuição de renda entre seus cidadãos. Mais importante é que Mohammed nasceu “cidadão” e terá os direitos fundamentais garantidos, dizem seus pais, Thaer Mohammed e Hoda Walled. O casal não pára de sorrir e repetir, sempre em árabe: “Mohammed tem pátria! Mohammed é brasileiro!” Há três gerações eles e outros quase cem refugiados da antiga Palestina vagavam sem cidadania mundo afora, até serem acolhidos pelo Brasil este ano.

  • Muitas vezes, no deserto, o demônio nos soprava a ilusão de que voltaríamos à nossa terra. Mas rezávamos para que nosso bebê nascesse numa pátria verdadeira, num lugar de paz. Alá nos atendeu - conta Thaer, que, juntamente com a mulher, Hoda, viveu quase cinco anos no campo de Ruweished, no deserto da Jordânia, à espera de um refúgio, depois de serem expulsos do Iraque na ocupação americana, em 2003.

Maior dificuldade é a língua

Beneficiados pelo projeto do Conare (Comitê Nacional para os Refugiados), presidido pelo Ministério da Justiça e articulado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) e pela Cáritas Arquidiocesana, os refugiados palestinos foram instalados no interior de São Paulo e no Rio Grande do Sul, entre setembro e outubro deste ano. Durante dois anos, eles terão moradia e alimentação garantidas. Foram instalados em casas simples, e recebem, em média, cerca de R$ 200 por pessoa a cada mês. Depois, terão que cuidar da sobrevivência no Brasil.

Por enquanto, além da cultura tão diferente, a maior dificuldade dos palestinos tem sido a língua. A maioria desconhece o alfabeto ocidental. Outros conheciam um pouco de inglês e ainda tropeçam nas palavras:

  • Obrigado, de nada, bom dia, bem vindo, por favor, um, two (dois em inglês), três… Está difícil, mas vou conseguir. Árabes são teimosos - diz, orgulhoso, o contador Walid Sad Tamimi.

Mas a língua nem sempre embaraça os laços humanos. O pai de Mohammed, Thaer, dá um exemplo de como a realidade pode ser surpreendente. Com a ajuda de um intérprete, ele diz:

  • Quero publicar uma homenagem aos maiores amigos que já fiz no Brasil. Mesmo sem falarmos a mesma língua, só com gestos, no dia do parto de minha mulher, os nossos vizinhos brasileiros, chamados senhor Lima e senhora Alessandra, nos levaram ao hospital e cuidaram muito de nós. Todos os dias eles vêm em nossa casa saber do que precisamos. Nós nos entendemos sempre porque eles nos falam com a língua da humanidade.

Notícia publicada em O Globo Online , em 25/12/2007.

Sergio Rodrigues comenta*

“Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus? R - Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.”

O caso noticiado é um exemplo vivo de benevolência, um dos ingredientes da caridade, como esta é entendida por Jesus. E fora da caridade não há salvação, completou Allan Kardec. No caso, benevolência por parte de todo um povo, que acolheu esses irmãos sem formular qualquer tipo de questionamento que envolvesse ideologia política, crença religiosa ou diferença entre raças. Esse gesto, numa demonstração expressa de solidariedade e fraternidade, num momento em que o planeta passa por um período de turbulência, característico dos tempos de grandes transformações, com a Terra se preparando para subir um degrau na hierarquia dos mundos, veio permitir, não apenas uma vida com dignidade aos palestinos refugiados em conseqüência da violência gerada pela ambição política de algumas nações, mas, também, a volta de um espírito que certamente necessita passar por semelhante experiência.

Perante Deus, todos os homens são iguais, pois criados do mesmo modo, submetidos às mesmas leis naturais e destinados a um mesmo fim. As desigualdades das condições sociais não são obras de Deus, mas dos homens, que, com seu egoísmo, ambição e orgulho ainda muito presentes, abusam da superioridade econômica para oprimirem os mais fracos, em proveito próprio. Dia virá em que semelhante notícia não mais ocupará os espaços dos jornais, pois esse exemplo de solidariedade será comum e não exceção. Todos farão parte da grande família dos filhos de Deus, deixando de prevalecer as diferenças entre os povos.

Por enquanto, ainda teremos que testemunhar situações como esta, pois o progresso civilizatório ainda está incompleto. Quando o progresso moral estiver tão desenvolvido quanto o intelectual, desaparecerão os males produzidos por sentimentos inferiores, principalmente pela falta de fraternidade. Os homens ainda não estão aptos nem dispostos a alcançá-lo, mas não têm o poder de paralizá-lo. O progresso é uma força viva cuja ação o homem pode retardar, porém jamais anulá-la. Fica para o mundo o exemplo de um povo generoso, fraterno, cumprindo seu papel de pátria do Evangelho.

*Sergio Rodrigues é espírita e colaborador do Espiritismo.Net.