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Após pesquisas, a ciência já admite que a força da oração pode ajudar no tratamento de doenças como câncer, hipertensão e diabete. Mas há médicos que dizem se tratar de reação química e não de poder da oração.

  • Data :16/12/2007
  • Categoria :

Poder da fé

Até a ciência admite: a espiritualidade ajuda no tratamento de doenças graves

*Fernanda Aranda, * fernanda.aranda@grupoestado.com.br

Quando a medicina chegou a seu limite, a saúde piorou e a morte ficou mais próxima, Eliana, 34 anos, Maria Aparecida, 63, e Climene,74, encontraram ajoelhadas, de olhos fechados e em meio a lágrimas, um tratamento que nenhum hospital se arriscaria a oferecer. À força da oração seguiu-se uma reviravolta no diagnóstico. Se para elas nunca foi dúvida creditar a cura à fé, a ciência até bem pouco tempo rejeitava essa possibilidade. Hoje há cientistas que não só se curvaram à religião como estão dispostos a provar que o poder da oração chega até quem não sabe rezar.

Se antes Eliana Gonçalves Conceição encontraria a explicação para a cura da leucemia rara do seu filho apenas na Bíblia, agora as respostas estariam também nas pesquisas que se propuseram a desvendar os efeitos da espiritualidade na evolução da saúde. Aos 2 anos, o menino enfrentou duras sessões de quimioterapia e aprendeu a rezar para Santo Expedito com a mãe. O desafio de casos como esse provocou uma explosão de livros e doutorados médicos que aproximam a religiosidade do mundo científico.

Entre 1900 e 1980, período em que a ciência caminhou de costas para a fé, foram produzidos, em todo o mundo, apenas 100 estudos sobre o tema. O número teve um acréscimo de 1.000 novas publicações entre 2000 e 2003. De lá para cá, outras 1.700 pesquisas. Os resultados transcendem a saúde mental. Os pesquisadores afirmam ter encontrado melhoras físicas.

Dos cinco trabalhos sobre a influência da religiosidade no sistema imunológico, os cinco comprovaram efeitos positivos, o que aumenta as chances de recuperação nas doenças. A mortalidade por câncer também foi menor nos religiosos e os dados estão comprovados em cinco dos sete estudos sobre o tema. Os problemas causados pela hipertensão foram até 70% menores nos que desenvolveram a espiritualidade, como mostrou 14 das 23 pesquisas. A incidência de enfartes e problemas cardíacos foi comprovadamente mais baixa em 7 das 11 teses que tiveram a proposta de estudar o assunto. Todos os resultados foram reunidos pelo psiquiatra Franklin Santana, da Faculdade de Medicina da USP.

“A comprovação científica quebrou um pouco a resistência dos médicos em compreenderem os impactos da espiritualidade. Tanto é que faculdades renomadas já implantaram disciplinas para orientar os profissionais a lidarem com a fé dos pacientes”, afirma Alexander Moreira de Almeida, psiquiatra da Faculdade de Medicina de Juiz de Fora (MG) e coordenador do Núcleo de Pesquisa de Espiritualidade em Saúde (Nupe).

Foi o desespero ao receber a notícia de que seu filho Gabriel tinha chances mínimas de sobreviver, que levou Eliana à capela do hospital onde o menino estava internado. “E foi o poder divino que me fez olhar para baixo e encontrar um santinho de Santo Expedito jogado no chão. Descobri que Gabriel nasceu no dia do santo (19 de abril). Minha vida se transformou em oração e meu filho também sentiu vontade de rezar”, lembra ela, quatro anos depois que os exames já mostraram que a leucemia foi embora.

Doença, época e santo diferentes fizeram Climene Sarmento, aos 32 anos, andar de joelhos pela igreja do Jabaquara para agradecer a cura da nefrite aguda, certa de que São Judas Tadeu trouxe o remédio. “Os médicos tinham dúvidas. Deus sempre me deu certezas”, conta ela, que ainda reza com devoção diariamente, 42 anos depois que nenhum problema novo apareceu.

Os exames científicos mostram que os efeitos provocados no organismo de Climene por orações a São Judas são os mesmos sentidos por Maria Aparecida Martins, 63 anos, com as oferendas à Iemanjá. “Perdi minha perna para a diabete. Mas ganhei força para sair da cama com a minha ‘mãezinha’.”

“O cérebro é provocado com o rezar, orar, meditar ou ter postura positiva”, fala a professora de Bioética da Universidade São Camilo, Ana Cristina Sá. “Hormônios que relaxam, melhoram a imunidade e a sensação de bem-estar são liberados. Esse impacto influencia na saúde e foi o mínimo que a ciência já conseguiu provar ao estudar a espiritualidade, que vai além da religião.”

A reação química que a crença causa é o argumento que os descrentes do poder da religião usam. “Os benefícios são seqüelas do acreditar que o tratamento médico vai dar certo. Até um ateu conseguiria”, diz o médico Valter Sanches.

“Os números que a ciência tanto exige para se convencer ainda não explicam, em média, 8% do total de pacientes terminais que evoluem para cura”, diz Ana Cristina.

Prematura de uma gestação de cinco meses, os médicos deram para Júlia algumas horas de vida. A mãe Lurdes Lopes passou um dia inteiro ajoelhada, suplicando que sua filha sobrevivesse. Hoje, a menina já caminha para o 8º aniversário. “Nunca fui religiosa, mas no dia que a esperança dos médicos acabou, o meu impulso foi rezar. Senti que tinha um canal direto com Deus”, diz Lurdes. Ela aprendeu a rezar naquela noite.

“O maior foco das pesquisas está em comprovar se a oração para o outro surte efeitos tão positivos quanto orar por si próprio”, fala Alexander. Lurdes já foi convencida pelas gargalhadas de Júlia.

“A comprovação científica quebrou a resistência dos médicos em relação à espiritualidade.” ALEXANDER DE ALMEIDA, PSIQUIATRA DA UFMG

“O cérebro é provocado com o rezar, orar, meditar ou ter pensamentos positivos.” ANA CRISTINA SÁ, PROFESSORA DE BIOÉTICA DA UNIVERSIDADE SÃO CAMILO

Matéria publicada no Jornal da Tarde , em 16 de dezembro de 2007.