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  • Em desenhos, artista sírio retrata horrores vividos em câmaras de tortura durante a guerra

‘Continuar desenhando é não querer entregar as armas’, afirma Najah Albukai, um refugiado sírio na França que, com seus desenhos arrepiantes, narra o pesadelo que viveu em uma prisão perto de Damasco. Telma Simões Cerqueira comenta.

  • Data :13/09/2018
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AFP

Em Yerres (França)

“Continuar desenhando é não querer entregar as armas”, afirma Najah Albukai, um refugiado sírio na França que, com seus desenhos arrepiantes, narra o pesadelo que viveu em uma prisão perto de Damasco.

Corpos esquálidos, desfigurados pelas pancadas, olhos fundos, mãos escondendo as genitálias… Colados nas paredes de seu apartamento, desenhos assustadores com tinta chinesa mostram os abusos que este ex-professor de artes de 49 anos viu e viveu.

“Na prisão, você fica suspenso entre a vida e a morte. São períodos apocalípticos. Você tem a impressão de estar em um pesadelo”, afirma Albukai em entrevista à AFP.

Como muitos sírios da região de Daraya, reduto rebelde perto de Damasco, Najah Albukai foi contagiado pela febre revolucionária que se apoderou da Síria no início de 2011.

Ele e sua mulher rapidamente se uniram às manifestações pacíficas, reprimidas com mão de ferro pelas forças leais a Bashar al-Assad.

Em 2012, Albukai foi detido e colocado em uma prisão perto de Damasco, administrada pelos serviços de Inteligência sírios.

“Interrogavam várias pessoas ao mesmo tempo. Te interrogavam enquanto torturavam outros junto a você”, conta.

As dúzias de desenhos expostos no seu apartamento nos arredores de Paris mostram o horror dos abusos.

“Colocavam uma cadeira aqui, debaixo do braço”, explica, mostrando com o dedo alguns croquis arrepiantes nos quais um homem está sendo torturado. “Depois se apoiavam na cadeira, para que levantasse, fazendo com o que corpo do prisioneiro se torcesse por completo”. “Se você tivesse sorte, vivia algumas semanas.”

Entre as surras, Najah passava a maior parte do tempo em uma cela de 5m x 3m onde eram amontoados dezenas de prisioneiros. Seus corpos feridos se esfregavam, transmitindo várias doenças.

‘Um cheiro terrível’

Depois de um mês preso, sua mulher conseguiu libertá-lo, pagando a um juiz para que retirasse as acusações contra ele. Mas foi novamente capturado no fim de 2014, quando tentou cruzar a fronteira com o Líbano clandestinamente.

Foi enviado de volta à mesma prisão, o centro 227, onde empilhavam corpos de prisioneiros torturados, alguns dos quais não tinham mais de dez anos de idade.

O centro 227 também servia de necrotério temporário para os presos de outros centros de tortura. Os detidos, como Albukai, tinha que descarregar os corpos mutilados que chegavam em caminhões.

“Era de manhã quando transportávamos os cadáveres”, conta, mostrando outro desenho. “Muitas vezes o cheiro dos presos mortos havia dois dias era terrível. Alguns tinham sinais de tortura (…) e estavam esqueléticos”.

Em um relatório publicado em 2016, a Anistia Internacional estimou que 17.723 pessoas morreram em prisões sírias entre março de 2011 e dezembro de 2015.

Albukai está convencido de que, sem a sua mulher, Abir, não teria sobrevivido. Esta professora de francês, que tinha um salário de US$ 80 por mês (cerca de R$ 360), vendeu seu carro e pediu ajuda à família que vivia no exterior para reunir os US$ 20 mil (cerca de R$ 80 mil) que lhe pediam para libertar seu marido.

Em outubro de 2015, o casal e a filha adolescente conseguiram chegar ao Líbano. A família pediu refúgio na França, onde Albukai está procurando trabalho e uma editora para publicar seus desenhos.

“Talvez tenhamos perdido, e a revolução tenha fracassado”, diz. Mas “continuar desenhando é não querer ceder, é não querer entregar as armas. Tenho a impressão de que, se agora eu começar a desenhar flores ou paisagens, significará que entreguei as armas”.

Notícia publicada no BOL Notícias , em 30 de agosto de 2018.

Telma Simões Cerqueira* comenta

O século XX foi palco de duas grandes guerras que se estenderam pelo mundo nos levando a assistir as maiores atrocidades e atropelos aos direitos humanos. Muitas outras aconteceram em determinados pontos do planeta, trazendo a destruição, a fome, as doenças, as atrocidades e até mesmo a crueldade, nos conduzindo a pensar o quanto a humanidade terrena ainda se encontra presa aos interesses mesquinhos do egoísmo e do orgulho.

E uma vez mais, em pleno século XXI, nos vemos sob a tensão de um novo conflito de proporções e consequências graves mostrando um cenário sombrio do nosso Planeta.

Todos os dias, através dos meios de comunicação, tomamos conhecimento de noticias que retratam cenas e episódios muito tristes que nos invade a alma, sensibilizando os nossos sentidos.

As consequências de uma guerra são inúmeras, desde problemas de ordem política e econômica até a morte de inocentes, passando por graves questões humanitárias, e não podemos pensar somente em mortes, mas também em pessoas mutiladas, em doenças disseminadas, problemas psicológicos e traumas de todas as ordens.

As guerras não trazem soluções para os problemas que cercam o mundo. Por isso, nos perguntamos: O que leva o homem à guerra?

E o Espiritismo, o que pode nos dizer a respeito?

A Doutrina Espírita, no seu tríplice aspecto, Ciência, Filosofia e Religião, se relaciona com tudo o que diz respeito ao nosso processo existencial, pois objetiva contribuir para o progresso da humanidade.

Allan Kardec, na terceira parte de “O Livro dos Espíritos”, na questão 742, indagou aos Espíritos superiores:

O que leva o homem à guerra?

E os orientadores espirituais responderam:

“Predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e a satisfação das paixões. À medida que o homem progride, ela se torna menos frequente, porque lhe evita as causas e, quando é necessária, sabe aliá-la à humanidade”. (O Livro dos Espíritos, questão 742.)

Na busca desta satisfação, aquele que deseja a guerra acaba não percebendo que as feridas que são abertas não cicatrizam rapidamente e sentimentos de insegurança, pavor e medo são disseminados em todos aqueles que presenciam e vivenciam essas cenas traumáticas que são arquivadas nos escaninhos da alma trazendo dor e sofrimento.

Também nos esclarecem os Espíritos que o progresso moral decorre do progresso intelectual, capacitando o homem de compreender a diferença entre o bem e o mal. Desta maneira entendemos que enquanto não desenvolver o senso moral, o progresso intelectual poderá também ser utilizado para a prática do mal.

Ao homem é facultado o direito de pensar e agir. É o que chamamos de livre-arbítrio, como explica os Espíritos à Allan Kardec na questão 843, de “O Livro dos Espiritos”:

“Pois quem tem a liberdade de pensar, tem igualmente a de obrar. Sem o livre-arbítrio, o homem seria máquina.

É pela liberdade de agir que cometemos equívocos, que por vezes causam sofrimentos a nós mesmos e a outrem. Se somos livres em nossas ações, não podemos responsabilizar o Criador pelas consequências de nossos atos.

Com certeza, a humanidade tem alcançado grande progresso em termos científicos e tecnológicos, trazendo melhores condições de vida para muitos, todavia, o progresso moral, como asseveram os Espíritos, é sempre mais demorado e não consegue acompanhar o avanço intelectual.

Se compararmos com a situação vivenciada há alguns milênios, veremos, sem sombra de dúvida, que a humanidade progrediu moralmente. Houve época em que o direito à vida, por exemplo, não era minimamente respeitado, a vida era eliminada por qualquer motivo. Hoje a sociedade se humanizou um pouco mais, porém, ainda nos encontramos moralmente atrasados em comparação com a evolução intelectual alcançada.

Assim, a predominância do mal, que caracteriza um mundo de provas e de expiações, impele os mais desenvolvidos intelectualmente e, como consequência, os mais fortes cada vez mais ampliam seus poderes em detrimento dos mais fracos.

Na visão do mundo, as consequências de uma guerra somente são avaliadas em termos materiais. É levado em conta o custo econômico e quantas vidas físicas são ceifadas. Mas as consequências espirituais são desconhecidas e ignoradas pela imensa maioria. A Doutrina Espírita esclarece o quanto os danos materiais, que são passageiros, são ínfimos, se comparados ao custo espiritual que o indesejado acontecimento acarreta. Os responsáveis por fomentar a guerra, os conflitos certamente sofrerão as consequências, os efeitos da lei de ação e reação que rege o Universo, seja no mundo espiritual ou em encarnações futuras.

É o que podemos constar na questão 745 de “O Livro dos Espíritos, quando Allan Kardec pergunta aos Espíritos:

“Que pensar daquele que suscita a guerra em seu proveito?”

Ao que os Espíritos respondem:

“- Esse é o verdadeiro culpado e necessitará de muitas existências para expiar todos os assassínios de que foi causa, porque responderá por cada homem cuja morte tenha causado para satisfazer a sua ambição”.

Desta maneira, podemos entender que a guerra, dentro da visão da Doutrina Espírita, longe de ser uma situação irreversível, é resultado de um estado passageiro da humanidade, é o que nos informa a questão 743, de “O Livro dos Espíritos”:

“A guerra desaparecerá um dia da face da Terra?

  • Sim, quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus. Então, todos os povos serão irmãos.”

Dia virá, certamente, em que a guerra estará totalmente banida do nosso meio, pois a humanidade se elevará e aprenderá a conviver com seus semelhantes, respeitando a Lei de Igualdade.

Para isso se faz necessário o conhecimento da imortalidade do espírito, da realidade da vida futura, do processo da reencarnação e a justiça da lei de causa e efeito, então o homem não mais provocará a guerra. Se os governantes já estivessem de posse do conhecimento dessas verdades, por certo agiriam de maneira diferente, pois temeriam as consequências de seus atos. Enquanto isso não acontece, continuemos fazendo a nossa parte, orando e trabalhando pela paz, rogando todos os dias à Espiritualidade Superior para que ilumine e apascente os homens responsáveis pelas leis, pelas decisões importantes de um país, para que sejam intuídos nas suas deliberações, e quiçá moderem suas ambições.

Entendemos com a Doutrina Espírita que todo o efeito tem uma causa e que toda a causa terá, a seu tempo, e sobre a supervisão divina, o seu devido efeito. Isso, como em tudo na lei de Deus, aplica-se também à guerra e aos seus causadores. Nada acontece por acaso e nada acontece ao acaso. O Espírito Santo Agostinho assevera, deixando claro que este estado de coisas não será para sempre:

“O progresso é uma das leis da natureza. Todos os seres da Criação, animados e inanimados, estão submetidos a ela, pela bondade de Deus, que deseja que tudo se engrandeça e prospere. A própria destruição, que parece, para os homens, o fim das coisas, é apenas um meio de levá-las, pela transformação, a um estado mais perfeito, pois tudo morre para renascer, e nada volta ao nada. (…) A Terra, seguindo essa lei, esteve material e moralmente num estado inferior ao de hoje, e atingirá, sob esses dois aspectos, um grau mais avançado. Ela chegou a um de seus períodos de transformação, e vai passar de mundo expiatório a mundo regenerador. Então os homens encontrarão nela a felicidade, porque a lei de Deus a governará.” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. III, item 19.)

As ideias expressas nesta afirmação de Santo Agostinho ajustam-se aos tempos da atualidade. Ao passar por este processo de transição planetária, muitos Espíritos estão tendo as suas últimas oportunidades de reajuste, porque Deus a ninguém falta com a Sua misericórdia. Vítimas, algozes, observadores, todos nós estamos passando por este processo de expiação das nossas culpas e prova de aptidão para fazer parte da Terra nessa nova fase de mundo de regeneração.

Deus não precisa impedir este estado de coisas. As suas leis são sábias, perfeitas, imutáveis, tudo preveem e a tudo proveem. O progresso é um imperativo; é Lei. Ninguém foge à lei de progresso, apenas, dependendo de nós, podemos alcançá-lo mais rapidamente pelo amor, ou, de forma mais lenta, impulsionados pela dor.

Jesus nos prometeu o consolo quando nos convidou: “Vinde a mim, todos os que andais em sofrimento e vos achais carregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” (Mateus, XI: 28-30 - O Evangelho segundo O Espiritismo, Capítulo VI, O Cristo Consolador.)

O jugo leve que Jesus se refere são os seus ensinamentos, os seus exemplos, nos trazendo o conhecimento das leis divinas, que devem ser observadas atentamente por nós. A hora é grave, realmente, mas precisamos compreender, perseverar e fazer a nossa parte. Sigamos o caminho com Jesus, o Governador deste Planeta, e confiemos. Ele está à frente do leme dessa grande embarcação que é a Terra. O Espiritismo, o Consolador Prometido por Jesus, vem trazer Esperança e, apesar dos dias difíceis nesse período de transição, encontraremos a força que nos auxiliará a manter e aprofundar a Fé.

Oremos pelo povo da Síria, para que, ajudados pela Espiritualidade Superior, possam seguir, rumo ao progresso, em liberdade e respeito pela sua dignidade.

Bibliografia Consultada:

  • Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 4ª ed. 1ª imp. Brasília: FEB, 2013;

  • Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 4ª ed. 1ª imp. Brasília: FEB, 2013.

  • Telma Simões Cerqueira é Bacharel em Nutrição pela Universidade Veiga de Almeida, artista plástica e expositora espírita. Nasceu em lar evangélico, porém se tornou espírita nos arroubos da juventude, conhecendo a Doutrina Espírita aos 23 anos. Sempre ativa no Movimento Espírita, participa das atividades do Centro Espírita Jorge Niemeyer, em Vila Isabel, Rio de Janeiro/RJ.