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  • Seria o amor apenas uma reação química no cérebro?

Ivana Raisky comenta notícia sobre a essência do amor, publicada na BBC News Brasil. É comum dizer que estamos “perdidamente” apaixonados por alguém — o que pode acontecer, muitas vezes, ”à primeira vista’. Nos apaixonamos “loucamente, cegamente” pelo outro, sem qualquer avaliação cuidadosa ou racional de suas virtudes.

  • Data :05/08/2020
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Parashkev Nachev*

BBC Future

A essência do amor, pelo menos do amor romântico, é revelada em sua própria gramática. É comum dizer que estamos “perdidamente” apaixonados por alguém — o que pode acontecer, muitas vezes, ”à primeira vista". Nos apaixonamos “loucamente, cegamente” pelo outro, sem qualquer avaliação cuidadosa ou racional de suas virtudes.

O amor romântico é avassalador, irresistível, arrebatador. Ele controla a gente, muito mais do que temos controle sobre ele. Por um lado, é um mistério; por outro, pura simplicidade — seu curso, uma vez estabelecido, previsível e inevitável; sendo sua expressão cultural praticamente homogênea ao longo do tempo e do espaço.

O impulso de atribuir suas causas precede a ciência. Basta lembrar da flecha do Cupido, das poções mágicas — o amor parece elementar.

No entanto, o amor não é facilmente dominado pela ciência. Vamos entender a razão. Os feromônios sexuais, substâncias químicas liberadas para “comunicar” a disponibilidade para o acasalamento, são frequentemente citados como os principais instrumentos de atração.

É uma ideia atraente. Mas enquanto os feromônios desempenham um papel importante na comunicação dos insetos, há muito pouca evidência de que eles sequer existam nos seres humanos.

Mas se uma substância química é capaz de enviar sinais de atração para fora do corpo, por que não dentro dele? O neuropeptídeo ocitocina, descrito de forma imprecisa como “hormônio do amor” e conhecido por seu papel na amamentação e no trabalho de parto, é o principal candidato neste quesito.

Esse hormônio foi amplamente estudado, principalmente em ratazanas da pradaria, roedores adeptos à monogamia e a demonstrações públicas de afeto, o que faz deles a cobaia ideal.

Ao se bloquear a ocitocina, o vínculo entre os casais de roedores se quebra, e as ratazanas se tornam mais contidas para expressar emoções. De modo inverso, a indução de ocitocina em espécies não-monogâmicas de ratazana diminui seu apetite por aventuras sexuais.

Nos seres humanos, porém, os efeitos são muito menos dramáticos — há apenas uma mudança sutil na preferência romântica por manter o que é familiar, em vez de buscar novidade. Portanto, a ocitocina está longe de ser essencial para amar.

É claro que, mesmo que conseguíssemos identificar tal substância, qualquer mensagem — seja química ou não — precisa de um destinatário. Onde está então a caixa de correio do amor no cérebro? E como identificamos “a pessoa certa" para nós, considerando que nenhuma molécula no cérebro é capaz de codificá-la?

Quando o amor romântico é analisado com base em imagens do cérebro, as áreas que se “iluminam” se sobrepõem àquelas que dão suporte a comportamentos de busca e recompensa e orientados por resultado.

Mas o fato de que essas partes do cérebro se “acedem" por alguma razão não nos indica se estão igualmente entusiasmadas por outra coisa completamente diferente.

E os padrões observados de amor romântico não são tão diferentes daqueles do amor materno, tampouco da paixão por um time de futebol. Sendo assim, só podemos concluir que a neurociência ainda está longe de explicar essa emoção “arrebatadora” em termos neurais.

Precisamos simplesmente de mais experimentos? Sim, geralmente essa é a resposta dos cientistas, mas isso pressupõe que o amor seja simples o suficiente para ser decifrado por uma descrição mecanicista. Cada decisão reprodutiva não pode ser simples tampouco uniforme, pois não podemos ser guiados por uma única característica, que dirá pela mesma.

Por mais que pessoas altas sejam consideradas universalmente atraentes, se a biologia nos permitisse selecionar o parceiro apenas pela altura, todos nós teríamos gigantismo a esse ponto. E se as decisões são complexas, o aparato neural que as torna possíveis também precisa ser.

Embora isso explique por que a atração romântica deve ser complexa, não explica por que se apaixonar parece ser tão instintivo e espontâneo — ao contrário do modo deliberativo que reservamos para nossas decisões mais importantes. Será que a racionalidade fria e imparcial não seria melhor?

Para entender por que não, vamos analisar o raciocínio. Desenvolvida depois dos nossos instintos, a racionalidade é necessária apenas para nos distanciar dos motivos que levam a uma decisão, para que outras pessoas possam registrá-la, entendê-la e aplicá-la independentemente de nós. ** **

Mas não há necessidade de mais ninguém entender por que amamos alguém; na verdade, a última coisa que queremos é compartilhar com os outros a receita para alcançar nosso objeto de desejo. Da mesma forma, ao ceder o controle às práticas culturais, a evolução depositaria muita “confiança” em uma capacidade – a racionalidade coletiva – que é, em termos evolutivos, muito nova.

Também é um equívoco pensar no instinto como algo simples e inferior à racionalidade. O fato de ser tácito torna-o potencialmente mais sofisticado do que a análise racional, ativando uma variedade tão ampla de fatores que jamais seriamos capazes de manter simultaneamente em nossas mentes conscientes.

A verdade está diante dos nossos olhos: pense em como temos mais facilidade em reconhecer uma fisionomia do que em descrevê-la. Por que a identificação do amor seria diferente?

Em última instância, se os mecanismos neurais do amor fossem simples, você poderia induzi-lo com uma injeção, extirpa-lo com um bisturi. A lógica fria e dura da biologia evolutiva torna isso impossível. Se o amor não fosse complicado, nunca teríamos, de início, evoluído.

Dito isto, o amor — assim como todos os nossos pensamentos, emoções e comportamentos — depende de processos físicos no cérebro, com interações muito complexas. Mas dizer que o amor é “apenas” uma reação química do cérebro é como falar que o romance Romeu e Julieta é “apenas” uma coleção de palavras, o que não é verdade. Assim como a arte, o amor é mais do que a soma de suas partes.

Portanto, quem teve a sorte de experimentar seu caos, deve se deixar levar pelas ondas do amor. E se acabar naufragando nessa jornada, serve de consolo saber que a razão não te levaria mais longe.

*Parashkev Nachev é professor de neurologia na Universidade College London (UCL), no Reino Unido

Noticia publicada na BBC News Brasil , em 18 julho 2020

Ivana Raisky comenta*

Seria o amor apenas uma reação química no cérebro?

É muito comum confundirmos a paixão com o amor. Paixão é um sentimento efêmero, passageiro. Normal, principalmente no início dos relacionamentos amorosos, mas depois de um tempo, a paixão tende a arrefecer e então, o que permanece é o amor. Mas o que é o amor?

Na obra O Evangelho Segundo o Espiritismo encontramos uma mensagem do espírito Lázaro, recebida em Paris em 1862 que está no capítulo onze, item 8, que nos diz:

O amor resume toda a doutrina de Jesus, porque é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso realizado.No seu ponto de partida, o homem só tem instintos; mais avançado e corrompido, só tem sensações; mais instruído e purificado, tem sentimentos; e o amor é o requinte do sentimento. Não o amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interior, que reúne e condensa em seu foco ardente todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas. A lei do amor substitui a personalidade pela fusão dos seres e extingue as misérias sociais. Feliz aquele que, sobrelevando-se à humanidade, ama com imenso amor os seus irmãos em sofrimento! Feliz aquele que ama, porque não conhece as angústias da alma, nem as do corpo! Seus pés são leves, e ele vive como transportado fora de si mesmo. Quando Jesus pronunciou essa palavra divina, — amor — fez estremecerem os povos, e os mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo.

O amor se manifesta de múltiplas formas, seja nos relacionamentos conjugais oufraternais. Pais e mães que cuidam de suas famílias, aqueles que cuidam de seus irmãos e amigos, os que cuidam dos animais e da natureza, todos expressam o amor que trazem dentro de si.

Jesus também nos fez recomendações sobre o amor:

Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis.

João 13:34

Vejam como é grande o amor que o Pai nos concedeu: sermos chamados filhos de Deus, o que de fato somos! Por isso o mundo não nos conhece, porque não o conheceu.

1 João 3:1

Paulo de Tarso, em sua Primeira Epístola aos Coríntios (13:1-13) nos diz que:

Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.

Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver amor, nada serei.

E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entre o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso se aproveitará.

O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não seressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

Podemos entender que o amor é um dos sentimentos que nos aproximam de Deus, pois Deus é um Pai de amor.

*Ivana Raisky é espírita, trabalhadora do movimento espírita no estado de Goiás.