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  • Há uma epidemia de solidão porque não nos atrevemos a passar tempo com outros sem fazer nada

Relatório sobre uma epidemia que cresceu silenciosamente no país durante décadas é divulgado por cirurgião-geral dos EUA. Vivek Murthy declarou que os americanos se sentem solitários, muito mais do que o habitual, e isso representa uma ameaça ao bem-estar físico e emocional, além de ser um enorme problema de saúde pública. Selma Trigo comenta

  • Data :26/02/2024
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“Há uma epidemia de solidão porque não nos atrevemos a passar tempo com outros sem fazer nada”

O título é resultado da análise do relatório publicado pelo principal porta-voz dos problemas de saúde dos Estados Unidos e da entrevista realizada pelo jornalista Ronaldo Ávila-Claudio da BBC News com Sheila Liming, professora no Champlain College e autora do livro “Hanging Out: The Radical Power of Killing Time”, ainda sem tradução para o português e trata da incapacidade das pessoas de saírem para se divertir ou encontrar com outras pessoas. Segunda a autora, o tema é muito mais complexo de que se acredita. A conclusão de Sheila é que, dentro de uma agenda real e possível, todos deveriam investir melhor seu tempo conhecendo outras pessoas.

A íntegra da matéria pode ser acessada em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cl7x1w17q1vo

O comentário a seguir é de Selma Trigo

A reportagem nos revela, o quanto o indivíduo, envolto em outros interesses vai promovendo o autoisolamento de forma a chegar a um patamar de desequilíbrio emocional que vem afetando sua mente, e consequentemente seu corpo.
Dentro do contexto que temos a refletir, podemos dizer que a vida atual está num movimento promovido pelo próprio homem, extremamente agitado, onde a maior prioridade é a busca por dinheiro para se viver com mais “segurança” financeira, com objetivos fictícios de “curtir” a vida de forma prazerosa. E neste frisson escaldante, passa-se a vida focado somente neste aspecto, e outros fatores básicos e complementares como a saúde mental, emocional, espiritual, que refletem no físico, são deixados de lado. Entretanto, num determinado momento, quando a “ficha cai”, vem a sensação do NADA que atinge o âmago do ser.
Joanna de Ângelis, inicia o livro “Encontro com a Paz e a Saúde”, com o seguinte alerta: “Analisando-se o atual comportamento humano, não padece dúvida de que a sociedade terrestre encontra-se enferma (…)”
Por que Joanna de Ângelis afirma que a sociedade está enferma? Porque o homem chamado moderno, tem vivido no automatismo das ações, e com isso não encontra tempo para realizar atividades básicas à saúde integral, seja só, em grupo ou com a família - indo a um ambiente agradável junto a natureza, permitindo um descanso físico através do sono adequado, ficando em silêncio meditativo por alguns minutos, realizando uma atividade criativa que ofereça prazer, lendo um bom livro, encontrando amigo(s) para conversas descontraídas, praticando exercício físico e por aí vai…
Outro grande vilão para a solidão é mal uso das novas tecnologias – seu excesso, tornando-se um vício, isola as pessoas dentro do próprio núcleo familiar e nos ambientes sociais. E tal processo promove a solidão individual e consequentemente, coletiva.
Como tudo está na intenção, pais que ofertam aparelho celular para o filho ainda bebê, por exemplo, com a intenção de se ocuparem com o que lhe interessa mais, não aproveitam a grande oportunidade de interação e troca afetiva com o filho.
Os trabalhos em Home Office, podem também favorecer o afastamento, se não se souber cultivar o contato social e o exercício da convivência saudável.
Idosos, que precisam de atenção material e afetiva, podem ser relegados por serem considerados um peso na vida dos filhos e a solidão promove a tristeza e o desânimo de viver.
Há ainda, aquele momento em que o filho precisa voar para viver a própria vida e isto exige preparo anterior dos pais. E, no momento de “soltar as mãos do filho”, o vazio existencial bate à porta (síndrome do ninho vazio), porque é difícil lembrar que nada fica para sempre e a falta de preparo pode trazer sintomas da solidão.
E o que dizer da aposentadoria desacompanhada da promoção propósitos? A falta de planejamento deste momento pode trazer um “vácuo” existencial, provocar um sentimento de estar perdido, sem saber como dar continuidade à própria vida neste novo momento. É preciso reconstruir novos interesses.
Além dos aspectos já citados, temos que considerar também alguns modelos de moradia. Antigamente, os vizinhos se relacionavam e se conheciam, o que promovia uma relação de afeto e respeito, além da ajuda mútua. Atualmente, nesta dinâmica de múltiplos afazeres pouco se vê momentos de diálogo e encontros informais.
Ermance Dufaux ressalta muito bem no livro “Emoções que Curam”:
“Uma análise prudente dos problemas sociais na Terra exige o exame minucioso da influência moral do egoísmo nas atitudes humanas. (…) Na vida mental inconsciente, hábitos milenares que governam atitudes e sentimentos são capazes de elaborar severas dores da alma.”
Diante destas reflexões, entendemos que precisamos ser estimulados ao autoconhecimento desde a infância. Sermos incentivados a fazer os seguintes questionamentos: Quem sou eu numa visão acima do material? Estamos aqui tratando do Ser Espiritual/Emocional, e não o ser do ter material. É ir em busca da espiritualização que favorecerá o desapego emocional adoecido e trabalhar as emoções que realmente acrescentem ao fortalecimento do Ser. É sair de si para o outro num equilíbrio transcendental, como os espíritos explicam em parte da questão 132, de “O Livro dos Espíritos”“por o Espírito em condições de enfrentar a sua parte na obra da criação”. Isso é: sermos servidores, colaboradores do amor e da paz onde quer que estejamos nesta nossa casa chamada Terra. Desta forma, transformaremos gradativamente, a solidão adoecida em solitude saudável para a harmonização e reestruturação de nós mesmos, para sermos úteis e produtivos em cada etapa da nossa existência. Até porque a vida é feita de ciclos. Precisamos compreender que fases se encerram e novas surgem, pois o processo de evolução é feito de movimentos ascensional e só ocorre saudavelmente quando não ficamos parados num passado que se foi e num futuro que não temos como dominar. O hoje é o nosso recurso, que passa de forma instantânea. Então, cada dia o seu dia. Cada hora sua hora e o amanhã dependerá sempre do hoje.

  • Selma Trigo é espírita e colaboradora do Espiritismo.net.