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  • Guerra na Ucrânia: Joana foi sozinha para a Polónia receber refugiados. 'Se ajudar uma pessoa já valeu a pena'

Joana deixou dois filhos em Portugal e foi para a fronteira da Polónia com a Ucrânia para ajudar na receção dos refugiados ucranianos. ‘Tenho de dar o exemplo. Se eu tenho possibilidade, se a minha família está em segurança, se tenho a possibilidade para vir ajudar, eu devo vir ajudar, é um dever’

  • Data :24/03/2022
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Joana deixou dois filhos em Portugal e foi para a fronteira da Polónia com a Ucrânia para ajudar na receção dos refugiados ucranianos. “Tenho de dar o exemplo. Se eu tenho possibilidade, se a minha família está em segurança, se tenho a possibilidade para vir ajudar, eu devo vir ajudar, é um dever”.

Ao fim de três dias na estação, a ajudar refugiados e a tentar encaminhá-los para centros de acolhimentos e transportes para outras cidades da Polónia e para outros países europeus, Joana, que prefere não revelar o apelido, diz que confirma a sua fé na humanidade: “Chego ao fim do dia esgotada, mas continuo com o coração cheio no meio desta desgraça toda”.

“Vim pela fé na humanidade, pela solidariedade que se criou, pela vontade de ajudar, de trazer um pouco da paz que se vive em Portugal”, contou à Lusa esta portuguesa de 39 anos, na estação de comboios de Presmyl, no leste da Polónia.

Encostada à Ucrânia, esta é uma estação de chegada de comboios vindos do outro lado da fronteira e nas últimas semanas tornou-se no local de desembarque de meio milhão de pessoas fugidas da guerra, após a invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro.

Viajou sozinha de Lisboa e quase passou uma noite sem abrigo, à chegada, quando percebeu que o quarto que tinha reservado num hotel tinha sido dado a uma família ucraniana “em emergência”. Foi um taxista, que durante duas horas não a largou, que lhe encontrou alojamento num hotel reservado a militares polacos destacados para a região para darem assistência aos refugiados.

Sentiu assim a solidariedade que a levou á Polónia logo à chegada à região que mais refugiados da guerra na Ucrânia tem recebido. E não mais deixou a sentir: “Neste momento, isto está a funcionar à base da solidariedade dos voluntários a nível internacional”, afirma.

As autoridades regionais e locais da Polónia não se cansam de agradecer, quando falam com os jornalistas, a todos as pessoas e organizações, polacas e de outras nacionalidades, que têm acorrido às zonas de fronteira para ajudar naquela que é a maior crise de deslocados no género na Europa desde a segunda guerra mundial.

Segundo as Nações Unidas, perto de 2,6 milhões de pessoas já fugiram da Ucrânia por causa da guerra e 1,5 milhões foram para a Polónia.

Os voluntários estão por todo o lado, nas estações de comboio, nos postos fronteiriços, nos centros de acolhimento. Recebem quem chega, ajudam a transportar malas, dão conforto, cozinham e distribuem refeições, deixam ajuda humanitária, transportam pessoas nos seus carros e carrinhas, esforçam-se em contactos para encaminhar pessoas para outras cidades. As matrículas dos carros e autocarros que se vêm nos acessos a postos fronteiriços, estações de transporte e centros de acolhimento mostram que vêm de toda a Europa.

Joana, através de “uma rede de solidariedade” que foi construindo nos últimos dias, feita de contactos entre portugueses, já conseguiu encaminhar três pessoas para Portugal. “Se ajudar pelo menos uma pessoa já valeu a pena”, diz à Lusa esta portuguesa com “dois filhos pequenos” que está a criar para “esse mundo de solidariedade”. “Tenho de dar o exemplo. Se eu tenho possibilidade, se a minha família está em segurança, se tenho a possibilidade para vir ajudar, eu devo vir ajudar, é um dever”, sublinha.

Joana viajará de regresso a Lisboa dentro de alguns dias, mas tem já planeado o regresso à Polónia na próxima semana, com uma associação de ucranianos em Portugal que vai buscar, de autocarro, refugiados a Varsóvia. Diz que se nota já o cansaço entre os voluntários e teme que isso seja um problema nas próximas semanas para a estrutura de acolhimento que existe neste momento no leste da Polónia.

Também as autoridades locais e regionais temem a capacidade de resposta para a segunda vaga de refugiados que esperam nos próximos dias e têm apelado à ajuda da União Europeia e dos outros país membros na agilização da recolocação de pessoas, como fez este sábado o presidente do governo regional de Podkarpackie, Wladyslaw Ortyl, em declarações a um grupo de jornalistas que recebeu no âmbito de uma iniciativa do Comité das Regiões Europeus.

Falando aos mesmos jornalistas na estação de Prsemyl, o presidente da câmara local, Wojciech Bakun, realçou no mesmo dia que a sua cidade, de 60 mil pessoas, já acolheu e encaminhou em duas semanas meio milhão de refugiados.

“Demos tudo: comida, medicamentos, artigos de higiene, ‘tróleis’ para as bagagens. Encaminhámos doentes para hospitais. Fizemos tudo o que podemos como cidade, com autoridade local, sem Governo”, disse.

Notícia publicada no Wort , em 13 de Março de 2022

Fabiana Shcaira Zoboli* comenta:

Por que existem guerras?

“E ouvireis falar de guerras e rumores de guerras; olhai, não vos perturbeis; porque forçoso é que assim aconteça; mas ainda não é o fim.” (Mt, 24:6)

A guerra entre Rússia e Ucrânia trouxe, para dentro de nossas casas, imagens de destruição e sofrimento levando muitos a questionarem o “porquê” de toda essa dor e e “onde estaria Deus que permite tudo isso?”

Porém, são nos momentos difíceis que precisamos nos manter vigilantes para não alimentarmos a dúvida, a descrença, a desesperança em nossas almas…

Tudo o que ocorre tem sua a razão de ser e, quando Deus permite que algo aconteça, seja individual ou coletivamente, é porque esse acontecimento trará evolução e aprendizado.

Na obra Nosso Lar, André Luiz também fica ansioso quando ouve os alertas sobre a Segunda Guerra Mundial que, na ocasião (1939), estava prestes a ser deflagrada. Em meio aos comovedores apelos do Benfeitores Espirituais, que tudo faziam para evitar o conflito, Lísias, explica ao amigo angustiado:

o Ministério da União Divina esclareceu que a humanidade carnal, como personalidade coletiva, está nas condições do homem insaciável que devorou excesso de substâncias no banquete comum. A crise orgânica é inevitável. Nutriram-se várias nações de orgulho criminoso, vaidade e egoísmo feroz. Experimentam, agora, necessidade de expelir os venenos letais ”.

A obra ainda traz para nós o convite dos Emissários de Jesus para que todos colaborassem com a paz na Terra: “Quando estiver ao vosso alcance, vinde em nosso auxílio! (…) Contra o assédio das trevas, acendamos a luz; contra a guerra do mal, movimentemos a resistência do bem. Rios de sangue e lágrimas ameaçam os campos das comunidades europeias. Proclamemos a necessidade de trabalho construtivo, dilatemos a nossa fé…

Passados quase 100 anos, a humanidade ainda alimenta orgulho, vaidade e egoísmo… Não temos assistimos conflitos no Oriente Médio, fome na África, guerras contra a criminalidade em incontáveis cidades, bullying nas escolas? A violência, fruto desses vícios espirituais, ainda está presente em nosso cotidiano – e não excluímos, aqui, as agressões no trânsito, as discussões estéreis em nossas casas, a maledicência destruindo famílias, etc..

Mas, já não “olhamos” essas guerras com indiferença. Hoje, muitos de nós aceitam o convite do Cristo e buscam, no trabalho construtivo, dilatar a sua fé e amparar aquele que sofre.

A notícia que comentamos mostra a atitude de Joana, que deixou o conforto de seu lar e o amor de sua família para ir ao encontro da dor, ainda que para ajudar apenas uma pessoa”. Chegando às terras vizinhas à zona de conflito, encontrou uma rede de solidariedade formada por outras pessoas no esforço fraterno de ajudar nossos irmãos ucranianos.

Distantes do conflito, quantos grupos de oração, de todas as crenças, reúnem-se para, em uma só voz, vibrarem por toda a Humanidade? Quantas pessoas, pelo mundo afora, colaboram para mitigar a fome, diminuir as dores, acolher idosos, amparar crianças, auxiliar famílias?

Ainda temos conflitos internos e talvez ainda participemos de conflitos externos, mas já não somos expectadores passivos das dores alheias e nem nos comprazemos com nossas mazelas! Já não nos banqueteamos com o mal e, embora ainda exista muito a combater, estamos aprendendo a usar o Amor para construir a paz que ansiamos, dentro de nós e em nosso mundo.

Por isso, Jesus disse que não era o fim. A dor cansa e desperta a vontade de fazer diferente, de nos aperfeiçoar, de entender e exercitar o Amor. Como aprendemos em “O Livro dos Espíritos”:

“Da purificação do Espírito decorre o aperfeiçoamento moral para os seres que eles constituem, quando encarnados. As paixões animais se enfraquecem e o egoísmo cede lugar ao sentimento da fraternidade. Assim é que, nos mundos superiores ao nosso, se desconhecem as guerras, carecendo de objeto os ódios e as discórdias, porque ninguém pensa em causar dano ao seu semelhante.”

Voltemos, agora, à pergunta sobre “onde está Deus que permite a guerra?”.

Deus está na Paciência com que aguarda nosso aperfeiçoamento e na Misericórdia com que nos mostrou nossos enganos – quando, também, guerreávamos – deixando que colhêssemos os frutos amargos da nossa semeadura para aprendermos com eles.

Deus está na Esperança que nasce no olhar de quem recebe um prato de sopa, uma prece, um agasalho, um sorriso, um abraço amigo do irmão que deixou sua família e sua casa para ir ao encontro do sofrimento.

Deus sempre este e está ao nosso lado, renovando sua fé em cada um nós a cada dia que nasce.

Então, leitor amigo, leitora amiga, não nos perturbemos e ouçamos o convite de Jesus: “ **Proclamemos a necessidade de trabalho construtivo, dilatemos a nossa fé… ** ”

Referência:

  1. Nosso Lar, psicografia de Chico Xavier, autor espiritual André Luiz, FEB

  2. “O Livro dos Espíritos”, resposta à pergunta 182.

*Fabiana Shcaira Zoboli é espírita e colaboradora do Espiritismo.net