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  • Britânica descreve luta contra estigma por não querer ter filhos

Uma britânica de 29 anos que não quer ter filhos descreveu para a BBC a luta para tentar convencer médicos do serviço público de saúde a fazer uma laqueadura. Cristiano Carvalho Assis comenta.

  • Data :05/05/2017
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Uma britânica de 29 anos que não quer ter filhos descreveu para a BBC a luta para tentar convencer médicos do serviço público de saúde a fazer uma laqueadura.

Holly Brockwell, de Londres, contou que, quando diz às pessoas que não quer ter filhos, sempre é questionada e todos reagem mal à sua decisão.

“O fato é que não há nada a respeito da criação de outro ser humano que eu ache interessante. Isto é algo emocional e quanto você traduz em termos de razões racionais, perde a força”, disse Holly à BBC.

“Se eu digo que não acho que seria uma boa mãe, por exemplo, as pessoas respondem: ’todo mundo se sente assim no começo’. Se eu digo que não consigo imaginar como arrumaria tempo, energia ou dinheiro, me falam: ’encontre um jeito para conseguir’. Se digo que quero dedicar minha vida à minha carreira, as pessoas dizem que sou ’egoísta’”.

A britânica afirma que todos pensam que, a partir das respostas que as pessoas dão, todos os que têm filhos são extremamente felizes com suas escolhas.

“Sei, categoricamente, que isto não é verdade pois aconteceu com minha mãe”, diz. “Ela nunca escondeu o fato de que não queria ter tido filhos e apenas concordou com isso porque meu pai era desesperado para ter uma família.”

Medo

Ela afirma que, em parte, o medo de aceitar o padrão pré-estabelecido e capitular diante da desaprovação das pessoas a levou a tentar fazer a laqueadura. Mas ela encontrou vários obstáculos.

“Depois de terem me dito que eu era ‘jovem demais para pensar nisto’, apesar do fato de não haver uma idade mínima para a laqueadura na Grã-Bretanha, eu finalmente consegui um encaminhamento neste ano”, disse.

A britânica ficou muito satisfeita com a evolução do caso, até tentar marcar a operação.

“Marie Stopes, que faz o procedimento para o National Health Service (o serviço público de saúde britânico), me disse que, na prática, não havia cirurgiões disponíveis e eu teria que voltar a consultar meu clínico geral. Enquanto isto, meu caso seria enviado a uma área diferente do NHS, o que significaria que eu teria que começar todo o processo de novo.”

Holly afirma que não usa outros contraceptivos pois a pílula anticoncepcional causava efeitos colaterais que a deixou doente durante anos. Ela também ficou sabendo de efeitos colaterais terríveis entre as pessoas que usavam dispositivos intrauterinos.

“Eu não preciso de contraceptivos reversíveis. Existe uma operação não invasiva de dez minutos que pode resolver este problema para sempre e eu não acredito que, com quase 30 anos e no ano de 2015, ainda tenho que lutar para conseguir esta operação”, disse.

“Podemos escolher ficar grávidas aos 16 anos mas não podemos rejeitar a maternidade aos 29. Parece que nossas decisões apenas são levadas a sério quando elas estão de acordo com a tradição.”

Ela afirmou que recentemente criou um website de tecnologia escrito por mulheres. “Tenho orgulho de dizer que este é o único bebê que vou ter”.

Notícia publicada na BBC Brasil , em 29 de novembro 2015.

Cristiano Carvalho Assis* comenta

A reportagem pode surpreender algumas pessoas, já que o mais habitual é vermos as mulheres desejando ter seus filhos. Mas se pararmos para analisar, atualmente observamos uma mudança neste pensamento. Muitas estão optando por não ter filhos, por várias razões, desde investir no trabalho até por simplesmente não querer.

Isso se dá muitas vezes por que aquela ideia romântica de se ter filhos acabou. Todos compreendem que o filho é uma responsabilidade, trabalho constante e esquecem todas as benesses que um filho pode gerar em nossa saúde mental e espiritual. Por isso, muitos estão deixando para ter filhos mais tarde ou em quantidade cada vez menores. E no caso da reportagem, ela se inclui ao patamar da pessoa nem querer mais ter filhos.

E quando pensamos, nos perguntamos: Certo ou errado? Justo ou não? A pessoa tem direito a isso? É sinônimo de egoísmo? Para termos uma luz neste assunto, busquemos a orientação da Espiritualidade em O Livro dos Espíritos para os obstáculos da reprodução:

693. São contrários à lei da Natureza as leis e os costumes humanos que têm por fim ou por efeito criar obstáculos à reprodução?

“Tudo o que embaraça a Natureza em sua marcha é contrário à lei geral.”

a) - Entretanto, há espécies de seres vivos, animais e plantas, cuja reprodução indefinida seria nociva a outras espécies e das quais o próprio homem acabaria por ser vítima. Pratica ele ato repreensível, impedindo essa reprodução? “Deus concedeu ao homem, sobre todos os seres vivos, um poder de que ele deve usar, sem abusar . (Grifo nosso) Pode, pois, regular a reprodução, de acordo com as necessidades.”

Dessa forma vemos que a Espiritualidade, e por consequente o Espiritismo, não é contrário ao uso de obstáculos à reprodução, mas sim do abuso. No caso de Holly poderíamos enquadrar neste último, já que não há razão plausível para fazer uma laqueadura. Não estamos aqui julgando ninguém, pois também temos nossos pés na lama das imperfeições. Não podemos saber a real intenção que a fez chegar a tão drástica resolução. Mas sempre fica a dúvida: No futuro poderá ela se arrepender? É mais provável que sim, pois seres insatisfeitos que somos, mudamos de opinião em todos os momentos. A vida é feita de ciclos, onde os desejos e ideias se modificam intensamente.

A pessoa possui direito de escolher ter ou não uma criança? Com toda certeza Holly, e todos nós também, temos o direito de escolha, através de nosso livre-arbítrio dado por Deus. Mas sempre é bom não esquecer o conselho de Paulo quando formos fazer nossas escolhas: “Tudo posso, mas nem tudo me convém” , pois podemos escolher, mas teremos a obrigação de colher as consequências. E quando escolhemos ações definitivas, as quais não poderemos mais voltar atrás, precisaríamos considerar os aspectos psicológicos, físicos e espirituais que esse procedimento poderá acarretar em nós.

Decepção, frustração, arrependimento e muitos outros sentimentos desequilibrados poderão começar a fazer parte da intimidade dela se encontrar alguém que deseja um filho ou quando começar a ver crianças encantadoras que estimulem seu lado materno. Ou qualquer outra situação que a influencie de mudar de ideia.

É fato que somos pessoas influenciáveis, onde estamos constantemente sendo estimuladas por pessoas, propagandas, livros, vídeos e muitos outros que nos fazem agir de uma forma ou construir nossas bases de pensamentos para guiar nossas vidas.

Provavelmente, mesmo sem perceber, o que a estimulou não desejar ter filho foi a frustração constante da mãe e a influência diária, incutindo a ideia que ter filho é ruim, não traz felicidade ou paz para quem tem. Mas antes que pensemos: “É verdade, que maldade desta mãe!” , analisemos se não fazemos o mesmo com nossas crianças, matando esperanças, incutindo profissões ou caminhos que muitas vezes não se aproximam com o desejo delas. Tomemos cuidado como pais e educadores de não bombardearmos nossos filhos ou educandos com nossas frustrações do passado, já que mais adiante, mesmo que não seja nossa intenção, as mesmas frustrações estarão instaladas na intimidade de nossos filhos.

Por isso, nos conscientizemos da responsabilidade de influenciar positivamente nossas crianças e jovens, não apenas com palavras, mas principalmente com ações e emoções. Estimulemos que nossas crianças alimentem suas mentes com o melhor de nós e o melhor da Espiritualidade Superior através de conversas fraternais, estímulo de leituras e vídeos edificantes. E ainda, criemos o momento fraterno entre a família no Evangelho do Lar. Tudo isso criará bases psicológicas e espirituais fortalecidas e equilibradas que os sustentarão nos momentos difíceis das escolhas e das frustrações da vida.

  • Cristiano Carvalho Assis é formado em Odontologia. Nasceu em Brasília/DF e reside atualmente em São Luís/MA. Na área espírita, é trabalhador do Centro Espírita Maranhense e colaborador do Serviço de Atendimento Fraterno do Espiritismo.net.