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    • Adultização: por que pular etapas e transformar crianças em pequenos adultos não é saudável

    A BBC News Brasil, em reportagem recente, trouxe à tona um assunto antigo, mas que infelizmente ainda continua existindo, que é o fenômeno da adultização infantil, ou seja, processo de transformar crianças em “pequenos adultos”, o ato de acelerar as etapas essenciais da infância não é saudável. Jussara Macabu - comenta

    • Data :15/09/2025
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    Adultização: por que pular etapas e transformar crianças em pequenos adultos não é saudável

    A BBC News Brasil, em reportagem recente, trouxe à tona um assunto antigo, mas que infelizmente ainda continua existindo, que é o fenômeno da adultização infantil, ou seja, processo de transformar crianças em “pequenos adultos”, o ato de acelerar as etapas essenciais da infância não é saudável.

    A íntegra da matéria pode ser acessada em:
    https://www.bbc.com/portuguese/articles/cn5e11qrp54o

    O comentário a seguir é de *Jussara Macabu:

    André Biernath, autor do artigo, comenta que o assunto: “tomou uma nova dimensão com as redes sociais” 1. Sabemos que as redes sociais têm potencial tanto para o bem quanto para o mal, dependendo das intenções que tenhamos ao fazermos uso delas. Temos aí o livre-arbítrio, a autonomia da pessoa para tomar uma decisão. Sem nos esquecermos que o indivíduo é o autor de suas ações e por consequência das reações que elas podem gerar.

    Esse tema nos convida a uma reflexão social, psicológica e espiritual, à luz da Doutrina Espírita e do Evangelho do Cristo.

    O que é adultização?

    “A adultização é um fenômeno social em que crianças ou adolescentes são expostos, ou incentivados, a comportamentos, responsabilidades e experiências típicas do mundo adulto antes de alcançarem a maturidade física, emocional e psicológica necessária para lidar com tais situações” 2

    Esse fenômeno ameaça o desenvolvimento saudável da criança, privando-a da vivência natural de sua fase de inocência, curiosidade e aprendizado natural.

    Do ponto de vista psicológico, ele pode gerar consequências como problemas de autoestima, distorção da autoimagem, hiperexposição a críticas, aumento de ansiedade, depressão e pressão social para corresponder a padrões estéticos e vulnerabilidade a formas de exploração.3

    O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seus artigos, nos adverte que “nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão” 4. Além de reafirmar que a criança e o adolescente são pessoas em desenvolvimento.

    Assim como a Constituição Federal Brasileira, em seu artigo 227, determina que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. 5

    A infância segundo a Doutrina Espírita

    De acordo com os ensinamentos espíritas, a fase da infância existe para que os responsáveis possam conduzir o Espírito rumo à perfeição, aproveitando a fase em que está mais acessível às impressões que recebe dos mais velhos.

    Meimei nos afirma, em seu texto A criança, que ela é como um “Livro em branco — exibirá, depois, aquilo que lhe gravarmos nas páginas agora.” 6. A veneranda nos alerta sobre a responsabilidade dos tutores das crianças, ao recebê-las para educá-las. Portanto, a infância é uma etapa essencial do processo reencarnatório, destinada à assimilação dos valores morais e ao desenvolvimento gradual e genuíno do espírito.

    “O Livro dos Espíritos”, na questão 379, nos mostra que a criança não deve ter sua evolução apressada ou antecipada, que deve seguir o ritmo natural:

    “É tão desenvolvido, quanto o de um adulto, o Espírito que anima o corpo de uma criança?”
    Resposta: “Pode até ser mais, se mais progrediu. Apenas a imperfeição dos órgãos infantis o impede de se manifestar. Obra de conformidade com o instrumento de que dispõe.”
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    As questões 383 e 582:

    383 “Qual, para este, a utilidade de passar pelo estado de infância?”
    Resposta: “Encarnando, com o objetivo de se aperfeiçoar, o Espírito durante esse período, é mais acessível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliarem o adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de educá-lo.”
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    582 “Pode-se considerar como missão a paternidade?”
    Resposta: “É, sem contestação possível, uma verdadeira missão. É ao mesmo tempo grandíssimo dever e que envolve mais do que o pensa o homem, a sua responsabilidade quanto ao futuro. Deus colocou o filho sob a tutela dos pais, a fim de que estes o dirijam pela senda do bem. ”
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    Esses trechos deixam claro que a infância é um momento de aprendizado espiritual, portanto, não deve ser apressada ou violentada por pressões externas.

    O Evangelho e a proteção da infância

    Em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, no capítulo VIII, item 3, Kardec nos explica que “É necessário esse estado de transição para que o Espírito tenha um novo ponto de partida e para que esqueça, em sua nova existência, tudo aquilo que a possa entravar.” 10 Mostrando que a fase da infância é necessária para o progresso do espírito.

    No cap. XIV, Kardec comenta sobre a responsabilidade assumida pelos pais ao aceitarem um espírito como filho, que é a de “auxiliar o desenvolvimento intelectual e moral do filho, para fazê-lo progredir.” 11

    Devemos compreender a responsabilidade assumida ao aceitarmos a missão da paternidade/maternidade, pois a alma que encarna vem para progredir; sendo assim, precisamos de todo o nosso amor para “aproximar de Deus essa alma” 12. Os nossos cuidados e a educação moral que lhe passarmos irão auxiliar no aperfeiçoamento delas.

    A infância à luz do Evangelho

    Em Mateus, 18:5, encontramos a fala de Jesus nos alertando que “aquele que recebe em meu nome a uma criança, […], é a mim mesmo que recebe.” 13.

    Mateus 18:3, mostra o comentário de Jesus após chamar uma criança para perto e colocar no meio deles: “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como as crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus.” 14

    Nesses dois versículos conseguimos perceber o compromisso assumido e a importância de respeitarmos o desenvolvimento natural de cada criança, dentro do tempo de cada uma.

    Já a adultização, ao lermos Mateus, 18:6, pode ser compreendida como um escândalo contra a infância: “Caso alguém escandalize um destes pequeninos que crêem em mim, melhor será que lhe pendurem ao pescoço uma pesada mó e seja precipitado nas profundezas do mar.” 15

    Cristo valoriza a infância como símbolo do Reino dos Céus, quando os discípulos repreendiam a presença das crianças para serem tocadas por Jesus, como consta em Marcos, 10:14 – “Vendo isso, Jesus ficou indignado e disse: “Deixai as crianças virem a mim, não as impeçais, pois delas é o Reino de Deus.” 16

    E no versículo de Efésios, 6:4, “E vós, pais, não provoqueis a ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor.” 17 Somos alertados que precisamos compreender a importância, a complexidade e a grandeza da missão de sermos pais e mães dessas crianças, obras preciosas de nosso Pai, que nos confia solicitando-nos a cooperação amorosa e responsável.

    Conclusão

    Ao analisarmos os ensinamentos da Doutrina Espírita e do Evangelho do Cristo, compreendemos que a infância e a adolescência são fases sublimes do processo de cada espírito. Adultizar as crianças e os adolescentes é descumprir a Lei Natural, ou seja, é descumprir a Lei de Deus, comprometendo assim o desenvolvimento moral e espiritual deles.

    Protegê-los é, portanto, um dever humano e espiritual, expressão do amor ensinado pelo Cristo e de compromisso com Deus, nosso Pai.

    * Jussara Macabu é Assistente Social, coordenadora do Evangelho Redivivo da CEERJ, tarefeira da Seara Espírita Campo da Paz em Araruama e do Espiritismo.net.

    Referências Bibliográficas:


    1. https://www.bbc.com/portuguese/articles/cn5e11qrp54o - Consultado em 25/08/25 ↩︎

    2. https://pt.wikipedia.org/wiki/Adultiza%C3%A7%C3%A3o – Consultado em 25/08/25 ↩︎

    3. https://www.scielo.br/j/cadsc/a/Nc4d66rHTK4bKn7zrtNRV8S/?format=html&lang=pt – Consultado em 29/08/25 ↩︎

    4. Estatuto da Criança e do Adolescente, LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990 - https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91764/estatuto-da-crianca-e-do-adolescente-lei-8069-90 . Consultado em 25/08/25 ↩︎

    5. https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10644726/artigo-227-da-constituicao-federal-de-1988 Consultado em 01/09/2025 ↩︎

    6. Xavier, Francisco C. Cartas do coração, cap. 73. Pelo Espírito Meimei. https://bibliadocaminho.com/ocaminho/TX/Cc/CcP1C73.htm Consultado em 29/08/25 ↩︎

    7. Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Livro Segundo, cap. VII questão 379. https://bibliadocaminho.com/ocaminho/TKP/Lde/LdeIndex.htm#Menu330-399 . Consultado em 29/08/25 ↩︎

    8. ___________. Idem, idem, idem, questão 383 .https://bibliadocaminho.com/ocaminho/TKP/Lde/LdeIndex.htm#Menu330-399 . Consultado em 29/08/25 ↩︎

    9. ___________. Idem, idem, cap. X, questão 582 https://bibliadocaminho.com/ocaminho/TKP/Lde/LdeP2C10.htm . Consultado em 29/08/25 ↩︎

    10. ___________. O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. VIII, item 3. https://bibliadocaminho.com/ocaminho/TKP/Ev/Ev08.htm . Consultado em 29/08/25 ↩︎

    11. ___________. O Livro dos Espíritos, cap. XIV, item 8. https://bibliadocaminho.com/ocaminho/TKP/Ev/Ev14.htm . Consultado em 29/08/25 ↩︎

    12. ___________. O Livro dos Espíritos, cap. XIV, item 9. https://bibliadocaminho.com/ocaminho/TKP/Ev/Ev14.htm . Consultado em 29/08/25 ↩︎

    13. BÍBLIA DE JERUSALÉM. Gilberto da Silva Gorgulho; Ivo Stornioloe Ana Flora Anderson (Coords.). Diversos tradutores. Nova ed. rev. e ampl. 13. imp. São Paulo: Paulus, 2019, Evangelho segundo Mateus, cap.18 versículo 5. página 1736. ↩︎

    14. ______________________. Idem, idem, idem, idem, Evangelho segundo Mateus, cap.18 versículo 3. página 1736. ↩︎

    15. ______________________. Idem, idem, idem, idem, Evangelho segundo Mateus, cap.18 versículo 6. página 1736. ↩︎

    16. ______________________. Idem, idem, idem, idem, Evangelho segundo Marcos, cap.10 versículo 14. página 1774. ↩︎

    17. ______________________. Idem, idem, idem, idem, Epístolas aos Efésios, cap.6 versículo 4. página 2046. ↩︎