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  • Trote de escola gaúcha cria polêmica e é acusado de zombar de profissões

Para se adequarem ao tema ‘Se nada der certo’, os alunos se vestiram como se representassem profissões como vendedor de loja, artista de rua e cozinheiro. A ‘brincadeira’ causou grande repercussão nas redes sociais. Humberto Souza de Arruda comenta.

  • Data :24/10/2017
  • Categoria :

Demétrio Vecchioli

Colaboração para o UOL

O que é dar certo na vida? A questão está no centro de uma polêmica causada pela divulgação de trotes realizado por alunos do 3º ano do ensino médio de um colégio particular de Novo Hamburgo, no interior do Rio Grande do Sul. Para se adequarem ao tema “Se nada der certo”, eles se vestiram como se representassem profissões como vendedor de loja, artista de rua e cozinheiro.

Em uma das imagens, duas adolescentes aparecem vestidas com o uniforme padrão de uma famosa loja de cosméticos. Em outra, uma jovem carrega um cartaz “Vendo minha arte”. Há ainda o que parecem ser representações de mecânico, vendedor de bebida, atendente de fast food, empregada doméstica, entregadora de jornal e operadora de telemarketing.

A “brincadeira” causou grande repercussão nas redes sociais. “O ‘se nada der certo’ é ridículo porque ele desvaloriza um serviço que já é desvalorizado historicamente na nossa sociedade”, criticou uma internauta, pelo Twitter. “Tem que ser muito privilegiado para achar que ‘se nada der certo’ (se você não conseguir um emprego valorizado) é só arrumar um subemprego”, completou outro. “Se essa festa em escola de rico ‘se nada der certo’ com alunos ‘fantasiados’ de trabalhadores não é ódio de classe então não sei o que é”, escreveu um terceiro.

A Instituição Evangélica de Novo Hamburgo (IENH) soltou uma nota de esclarecimento no Facebook. “A IENH, bem como os seus estudantes em momento algum teve a intenção de discriminar determinadas profissões, até porque muitas delas fazem parte do próprio quadro administrativo e são essenciais para o bom funcionamento da Instituição”, escreveu.

O colégio, porém, deixou claro que considera primordial para que o futuro de um estudante “dê certo”, que ele seja aprovado no vestibular. “O objetivo principal dessa atividade foi trabalhar o cenário de NÃO APROVAÇÃO NO VESTIBULAR [caixa alta usada pelo colégio], de forma alguma foi fazer referência ao ’não dar certo na vida’”, continuou o IENH, que ainda pediu desculpas pelo “mal-entendido”. O UOL tentou contato com a escola, mas não foi atendido até o fechamento da reportagem.

Os trotes de alunos do último ano do ensino médio são práticas comuns em diversos colégios do país, para descontrair e para arrecadar fundos para a festa de formatura. A repercussão do tema do trote do IENH, porém, acabou fazendo com que outros casos semelhantes fossem relembrados.

Um deles, do Colégio Marista Champagnat, de Porto Alegre, do fim de 2015. As fotos do trote, com o mesmo tema, começaram a ser compartilhadas por internautas nesta segunda-feira, chamando a atenção para o antigo caso. O colégio retirou as imagens do ar e soltou um comunicado: “O Colégio Marista Champagnat, de Porto Alegre, esclarece que o recreio temático aconteceu no ano de 2015 com estudantes do 3º ano do Ensino Médio. No mesmo ano, a partir de uma reflexão realizada com a comunidade educativa, entendemos que a temática não era apropriada, por isso não ocorreram outros episódios em anos seguintes. Temas como esse, que confrontam valores e profissões, não são condizentes com a nossa proposta pedagógica, que tem como premissa o respeito às pessoas. Lamentavelmente, a atividade aconteceu e, por isso, pedimos nossas sinceras desculpas.”

Para o professor e pesquisador Wilner Arbey Riascos Sánchez, da Faculdade de Psicologia da USP, há uma hipervalorização da universidade como espaço único de ascensão social. “Nada garante que você consiga uma ascensão por sua formação profissional. Além disso, há inúmeras situações que mostram que essa ascensão pode vir mesmo sem a formação universitária tradicional”, explica.

No entender do pesquisador, a sociedade cobra do adolescente que ele tenha determinados objetivos. “A pessoa que não se esforça para melhorar as condições de vida vai ser pensada como uma pessoa que não tem o fôlego de vida”. E a consequência disso, segundo Sanchéz, é que os adolescentes acabam fazendo escolhas de vida ao escolherem suas profissões – ainda que essas escolhas venham a sofrer mudanças de rumo no futuro.

“É uma escolha que vai influenciar a identidade da pessoa. Vai definir a entrada dela no mundo do trabalho e vai ter influência em outros fatores que o trabalho vai colocar na vida do sujeito, como o lugar que ele vai ter na sociedade, o que ele vai conseguir consumir, o grupo de pessoas que ele vai lidar e os espaços que ele vai ocupar.” Ainda segundo o professor, a família, a classe social, as expectativas da sociedade perante a história de vida do adolescente e a expectativa que ele mesmo tem sobre seu futuro acabam influenciando essa escolha.

Notícia publicada no BOL Notícias , em 5 de junho de 2017.

Humberto Souza de Arruda* comenta

Há muito tempo estamos convivendo com rituais, que, para muitas pessoas, é uma forma importante de marcar uma nova época, ou um novo local, ou um relembrar de alguém.

Mas já há algum tempo, alguns rituais foram acabando ou ficando cada vez menos praticados. E uma das influências que ajudaram na diminuição destas atividades foram os entendimentos, cada vez mais difundidos, sobre a real importância destes ritos para marcar o fim ou inicio de um determinado momento, aquisição ou situação.

É comum vermos endividamentos e outros sacrifícios no momento do planejamento de muitos rituais, na esperança que este tenha um impacto maior neste momento de marcar a nova época ou a nova conquista.

Para marcar um novo momento em nossa existência, como aniversários, títulos conseguidos ou importantes bens adquiridos, este momento não necessita ser medido pelo tamanho da festividade. Uma pessoa que completa 18 anos não será mais adulta se a festa for maior. Assim como o importante bem adquirido, não será mais útil se a comemoração for maior. Da mesma forma, o êxito de um universitário não será melhor se o ritual “trote” for mais impactante ou não.

Nesta matéria da UOL vemos de um lado pessoas indignadas por entendimentos de discriminação de profissões. E, de outro lado, uma instituição que apoiou um trote justificando ter sido mal interpretado. Mas e se não tivessem praticado este ritual?

Temos diversos exemplos pelo mundo de trotes infelizes. Realmente muitos trotes escolares já tiveram finais infelizes. Normalmente nesta atividade existe humilhação, e, além disso, tem a obrigatoriedade da participação, uma vez que muitos terminam participando receosos de sofrerem bullying se não participarem.

Vejamos o que nos elucida “O Livro dos Espíritos” na questão 459:

“Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos? Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem.”

Em um grupo de pessoas que estão obrigando outras a fazerem o que não querem, o nível vibracional é de pouca elevação e os Espíritos sintonizados e afins, presentes, estão com este nível também. E vão atraindo outros de mesma ordem. E quem não gostaria de estar neste ambiente, nem sempre está apto suficiente para não se deixar influenciar por este ambiente, mantendo-se em vigília e em paz, quando na verdade está com medo, raiva, indignação e se mantém sorrindo como autodefesa.

Não somos frutos do meio em que vivemos, mas é bem mais trabalhoso mantermos um projeto de elevação espiritual em uma situação desta. Podemos, sim, crescer passando por uma situação destas. Mas participar de um ambiente saudável de confraternização, sem a obrigação da presença de outras pessoas, é muito mais cristão.

Mas temos a certeza que isso não existirá no futuro. É contra a Lei do Progresso. Muitas instituições já estão incentivando “trotes culturais”. É um avanço muito bom. Entretanto, chegarão ao momento de, na recepção de novos alunos, não precisarem mais usar qualquer tipo de trote, uma vez que esta palavra é mostrada em dicionários como uma manifestação ou tentativa de ridicularização e zombaria.

Que as instituições criadas para ajudar no crescimento intelecto-moral da sociedade continuem sendo abençoadas nesta longa caminhada que vêm fazendo há séculos junto com a própria sociedade. As instituições melhorando nos ajudam a melhorar. E, nos melhorando, criaremos instituições cada vez melhores.

  • Humberto Souza de Arruda é evangelizador, voluntário em Área da Promoção Social Espírita (APSE) e colaborador do Espiritismo.net.