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  • 'Por que não quero ter relações sexuais com o homem que eu amo'

Por anos, Stacey se perguntou por que ela não queria fazer sexo com ninguém, nem mesmo com seu marido. Acredita-se que cerca de 1% a 3% da população seja assexual, ou seja, não sinta nenhuma atração sexual por outras pessoas. Marcia Leal Jek comenta.

  • Data :27/03/2018
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Acredita-se que cerca de 1% a 3% da população seja assexual, ou seja, não sinta nenhuma atração sexual por outras pessoas. Por anos, Stacey se perguntou por que ela não queria fazer sexo com ninguém, nem mesmo com seu marido. Como ela explica no depoimento a seguir, dado à BBC Radio 4, foi sua médica quem lhe explicou o que realmente estava acontecendo.

“Durante muito tempo eu achei que eu tinha algum tipo de problema mental ou físico. Eu pensava que não era normal não querer fazer sexo com outras pessoas.

Amigas me falavam sobre seus namorados, ou sobre famosos com quem elas gostariam de ir para a cama, e eu simplesmente não pensava em ninguém com essa conotação sexual.

Comecei a notar quando tinha 20 e poucos anos, mas não conversava com ninguém sobre isso porque pensava que iam me achar estranha.

A assexualidade existe dentro de um espectro. Então, embora eu não me sinta sexualmente atraída por pessoas, eu me envolvo romanticamente.

Eu tinha conhecido meu namorado - que hoje é meu marido - quando tinha 19 anos, e não sabia o que era assexualidade na época. Então só achei que era maluca, tinha ficado pra trás ou algo assim.

Eu sabia que o amava muito, e tinha 100% de certeza que iria dizer ‘sim’ se ele me pedisse em casamento, pois queria passar o resto da vida com ele. ‘Então por que eu não quero fazer sexo com ele?’, eu pensava. ‘Isso é loucura’.”

Descoberta

Stacey falou ao programa iPM, da BBC Radio 4.

“Eu e meu marido meio que embarcamos em uma jornada de descoberta juntos. Ele dizia: ’eu te amo, estou apaixonado por você. Vou esperar o quanto for preciso, se é que algum dia vai acontecer.’

Ele me apoiou muito e nunca tentou me forçar a fazer algo que me deixasse desconfortável.

As normais sociais sugerem que sexo e filhos são o caminho para avançar em um relacionamento. Todos os meus amigos estavam se casando e tendo bebês. Eu pensava: ‘Oh, céus, existe essa expectativa de que eu deveria estar dormindo com meu marido e tendo filhos’.

Comecei a ter um pesadelo recorrente de que meu marido iria me trocar por alguém que era exatamente como eu fisicamente, mas que iria de fato fazer sexo com ele. Cheguei a um ponto no qual minhas próprias ansiedades estavam me tornando insuportável.

Aí me dei conta de que precisava descobrir o que estava acontecendo. Tinha uns 27 ou 28 anos.

Cometi o grande erro de procurar na internet por razões médicas que poderiam causar um baixo apetite sexual. Foi um erro enorme. Havia uma série de coisas simples como níveis de hormônio, mas o que me chamou a atenção foi a possibilidade de ser um tumor no cérebro.

Comecei a surtar - pensei que estava morrendo por causa de um câncer no cérebro. Fui ao médico e perguntei: ‘olha, é sério? Eu vou morrer?’.

Ela me disse: ‘Calma, você provavelmente é só assexual’. E eu: ‘O que é isso?’. Nunca tinha ouvido esse termo antes.

Ela me indicou alguns sites e foi como se eu tivesse finalmente encontrado a minha turma. Foi muito animador.

Pesquisei sobre o assunto e comecei a me sentir muito mais confortável comigo mesma. Conversei com meu marido e disse que isso excluía a possibilidade de sexo permanentemente.

Ele disse que já tinha assumido que seria assim de qualquer forma, então estava tudo bem. Ele tem sido ótimo, muito compreensivo. Gosto de pensar que é por causa da minha personalidade que ele pensa: ‘Preciso segurar essa aí’.

Nunca senti o que a maioria das pessoas descreveria como ’excitação sexual’. Se eu sinto algo do tipo, é bem pequeno, minúsculo, como uma coceirinha. É mais como algo biológico do que uma vontade de estar com outra pessoa.

Muitas pessoas assexuais se sentem confortáveis em fazer sexo depois que constroem um relacionamento com alguém - a assexualidade é um espectro. Mas no meu caso, todas as vezes que cheguei remotamente perto, meu corpo todo se retraiu, como se dissesse: ‘Não, não, obrigado, pare com isso, não vai rolar’.

A maioria das pessoas imediatamente diz: ‘Oh meu Deus, como você vai ter filhos?’. Bom, se eu quisesse, existem vários métodos para isso.

Faz apenas uns três ou quatro anos que eu descobri sobre a assexualidade. Gosto desse rótulo porque ele me ajudou a entender quem eu sou, como me comporto e como minha mente funciona.”

Mais visões

Outros ouvintes do programa iPM, ao qual Stacey deu seu depoimento, comentaram o assunto.

Lucy, de 60 anos, disse que nunca havia conhecido outra pessoa que, como ela, fosse assexual. “Eu nunca tinha visto ninguém nem ao menos reconhecer a existência disso”, afirmou ela.

Scott disse que percebeu reações negativas quando tentou se abrir para as pessoas sobre o problema. “Um grupo de amigos da universidade organizou uma saída à noite para me ‘ajudar’ a perder a virgindade, sem se importar com o fato de que eu nunca ter feito sexo era resultado da minha assexualidade”, contou ele.

“Eu recebi desprezo, descrença e nojo quando compartilhei minha assexualidade com outras pessoas. Elas me diziam que ’não era algo real’ e que eu estava inventando para chamar atenção. Só agora comecei a pensar em mim mesmo como um ser humano completo, sem ‘peças faltando’”, disse um ouvinte anônimo de 14 anos.

Dani disse que não tem problemas com contato físico. “Eu só não vejo outras pessoas como alvos sexuais. Embora eu nunca tenha discutido isso com minha mãe, ela não é cega ao fato de que eu vivo feliz sozinha, sem filhos, e que eu não tenho nenhum interesse em namorar”, relatou ela.

“Minha mãe chegou a ponto de chorar, com medo de que fosse algo que ela fez que tivesse me deixado… anormal.”

Notícia publicada na BBC Brasil , em 4 de outubro de 2017.

Marcia Leal Jek* comenta

Assexualidade é a falta de atração sexual a qualquer pessoa, ou pequeno ou inexistente interesse nas atividades sexuais humanas. Pode ser considerada a falta de uma orientação sexual, ou uma de suas variações, ao lado da heterossexualidade, da homossexualidade, da bissexualidade e da pansexualidade.(1)

A assexualidade é, simplesmente, a ausência de interesse por sexo. Uma pessoa pode apaixonar-se por outra, amá-la e ser feliz, sem nunca se sentir sexualmente atraída por ela.

A pessoa não tem nenhum interesse por sexo, mas gosta de intimidade e, por isso, pode amar e se envolver emocionalmente com um parceiro, mantendo um namoro ou até mesmo um casamento, mas sem ter nenhum tipo de contato sexual, embora a masturbação possa ocorrer. Este tipo de relacionamento sem sexo pode ser feito com pessoas do mesmo sexo ou não.

Joanna de Ângelis(2), ao longo de sua notável obra psicológica, explica os mecanismos do amor, que se expande irradiando harmonia, gerando plenitude e se manifestando como necessidade de intercâmbio afetivo entre os seres. Diz ela, em “Amor Imbatível Amor"(3):

“Valioso recurso para que se perpetue a espécie, quando no intercurso sexual, de que se faz o mais importante componente, é a força dinâmica e indispensável para que a vida se alongue, etapa a etapa, ditosa e plena. Nos outros reinos - animal e vegetal - manifesta-se como instinto no primeiro e fator de sincronia no segundo, de alguma forma embriões da futura conquista da evolução.

“Adorna a busca com a melodia da ternura e encanta mediante a capacidade que possui de envolvimento, sem agressão ou qualquer outro tipo de tormento. Sob sua inspiração as funções sexuais se enobrecem e a sexualidade se manifesta rica de valores sutis: um olhar de carinho, um toque de afetividade, um abraço de calor, um beijo de intimidade, uma carícia envolvente, uma palavra enriquecedora, um sorriso de descontração, tornando-se veículo de manifestação da sua pujança, preparando o campo para manifestações mais profundas e responsáveis.

“Como é verdade que o instinto reprodutor realiza seu mister automaticamente, quando, no entanto, o amor intervém, a sensação se ergue ao grau de emoção duradoura com todos os componentes fisiológicos, sem a selvageria da posse, do abandono e da exaustão. A harmonia e a satisfação de ambos os parceiros constituem o equilíbrio do sentimento que se espraia e produz plenitude.

“A libido, sob os seus impulsos, como força criadora, não produz tormento, não exige satisfação imediata, irradiando-se, também, como vibração envolvente, imaterial, profundamente psíquica e emocional. Quando o sexo se impõe sem o amor, a sua passagem é rápida, frustrante, insaciável…

”(…) O importante, porém, é que, em nosso conceito pessoal, o amor transcende os desejos sexuais, enquanto Eros, que pode ser portador de sentimento afetivo, caracteriza-se pelos condimentos da libido, sempre direcionada para os prazeres e satisfações imediatas da utilização do sexo.

”(…) O amor é permanente, enquanto Eros é transitório. O primeiro felicita, proporcionando alegrias duradouras; o segundo agrada e desaparece voraz, como chama crepitante que arde e gasta o combustível, logo se convertendo em cinzas que esfriam…

“O amor dulcifica e acalma, espera e confia. É enriquecedor, e, embora se expresse em desejos ardentes que se extasiam na união sexual, não consome aqueles que se lhe entregam ao abrasamento, porque se enternece e vitaliza, contribuindo para a perfeita união. O amor utiliza-se de Eros, sem que se lhe submeta, enquanto este raramente se unge do sentimento de pureza e serenidade que caracteriza o primeiro.

“Os atuais são dias de libido desenfreada, de paixão avassaladora, de predominância dos desejos que desgovernam as mentes e aturdem os sentimentos sob o comando de Eros. Não obstante, o amor está sendo convidado a substituir a ilusão que o sexo automatista produz, acalmando as ansiedades enquanto alça os seres humanos ao planalto das aspirações mais libertadoras.”

A assexualidade é uma orientação sexual semelhante à heterossexualidade, homossexualidade ou bissexualidade, e, por isso, não se deve julgar ou maltratar estas pessoas porque elas devem ser tratadas com respeito e dignidade como todas as outras.

O celibato é uma escolha onde a pessoa não tem contato íntimo, mas também não há namoro, nem casamento e por isso a pessoa não tem nenhum tipo de aproximação ou intimidade, permanecendo solteira por toda a vida. Um exemplo comum são os padres e as freiras que decidem por questões religiosas não ter nenhum tipo de relacionamento amoroso, no entanto eles podem manter o desejo sexual e lutam contra este desejo, reprimindo-o.

No caso da assexualidade, a pessoa não tem qualquer tipo de desejo e por isso não precisa lutar contra estes impulsos, porque eles não existem. Estas são chamadas de assexuais e esta é uma condição permanente, que dura toda a vida, mas pode haver namoro e casamento, mas sempre sem sexo.

É sabido que todos nós somos espíritos em evolução, sujeitos às leis do progresso e da reencarnação; e, é sabido também, que o espírito propriamente dito, ou seja, quanto à sua essência íntima, possui as qualidades opostas às do corpo físico, donde se conclui que os espíritos, ao contrário do corpo, não possuem, nem sexo masculino, nem feminino; isto significa, que não existem espíritos homens, nem espíritos mulheres, porquanto, essas características são apenas intrínsecas aos corpos humanos, que são, do sexo masculino e feminino.

Estamos longe de compreendermos a sexualidade, como nos diz Emmamuel(4) em seu livro “Vida e Sexo”(5). Quando pensamos em comportamento sexual já ligamos o assunto à prática sexual, ao coito. No entanto, os Espíritos, em “O Livro dos Espíritos”, como também em diversas mensagens e livros psicografados, nos ensinam que o conceito de normalidade e de anormalidade não se aplica à sexualidade, excetuados nos casos comprovadamente patológicos.

No caso específico dos ASSEXUAIS, verificamos que não se trata de provação nem expiação, porque são felizes do jeito que são e esta condição não lhes traz nenhum tipo de conflito ou sofrimento.

Certa vez, uma repórter procurou Chico Xavier(6) para uma entrevista em Uberaba. Cética, começou a julgar o médium, em pensamento, antes da entrevista. Quando se aproximou de Chico, o médium tomou a palavra e disse: – Não sou homossexual como você está pensando. Eu apenas não sinto desejo sexual.

Os Espíritos não têm sexo porque não tem corpo físico como o nosso, considerando que o sexo é definido pelas genitálias. No entanto, possuem sexualidade. Vejamos a questão nº 200 de “O Livro dos Espíritos”(7):

“Os Espíritos têm sexo?

– Não como o entendeis, porque o sexo depende do organismo físico. Existe entre eles amor e simpatia, mas fundados na identidade dos sentimentos.”

Ser homossexual, heterossexual, bissexual ou transgênero é apenas um detalhe insignificante para um Deus perfeito que vê a sua presença perfeita em cada um de seus filhos amados.

Bibliografia:

(1) <https://pt.wikipedia.org/wiki/Assexualidade >;

(2) <https://pt.wikipedia.org/wiki/Joanna_de_%C3%82ngelis >;

(3) <http://www.pingosdeluz.com.br/ebooks/divaldo_franco/amorimbativelamor.pdf >;

(4) <https://pt.wikipedia.org/wiki/Emmanuel_(esp%C3%ADrito) >;

(5) <http://www.luzespirita.org.br/leitura/pdf/L67.pdf >;

(6) <https://pt.wikipedia.org/wiki/Chico_Xavier >;

(7) <http://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2012/07/135.pdf >.

  • Marcia Leal Jek é espírita e colaboradora do Espiritismo.net.