Carregando...

  • Início
  • O jovem que vive em 'dejà vu' constante

O caso extraordinário de um britânico de 23 anos que há oito anos tem experimentado episódios de déjà vu com grande frequência, deixando-o traumatizado, tem intrigado médicos e cientistas. Jorge Hessen comenta.

  • Data :30/12/2018
  • Categoria :

Emma Ailes

Da BBC News

O caso extraordinário de um britânico de 23 anos que há oito anos tem experimentado episódios de déjà vu com grande frequência tem intrigado médicos e cientistas.

E a suspeita de um grupo de pesquisadores do Reino Unido, França e Canadá é que o problema tenha sido desencadeado por um excesso de ansiedade.

Déjà vu (que significa “já visto” em francês) é a expressão usada para descrever aquela sensação de que você já esteve em determinado lugar ou já fez a mesma coisa antes, ainda que o senso comum lhe garanta que isso não é possível.

Pesquisas indicam que cerca de dois terços das pessoas experimentam essa sensação pelo menos uma vez na vida, mas se sabe muito pouco sobre suas causas.

O jovem britânico com déjà vu crônico chegou a ter de evitar assistir televisão, ouvir rádio ou ler jornais, porque ele sempre sentia que já tinha se deparado com aquelas histórias antes.

Segundo Chris Moulin, neuropsicólogo cognitivo da Universidade de Bourgogne que está envolvido no estudo do caso, o jovem tinha um histórico de depressão e ansiedade e uma vez usou a droga LSD na universidade, mas era completamente saudável.

“Ele ficou completamente traumatizado com essa sensação constante de que sua mente está brincando com ele”, diz Moulin.

Túnel do tempo

Segundo o neuropsicólogo, a sensação de que o paciente está revivendo experiências pode durar alguns minutos - às vezes até mais.

“Certa vez ele foi cortar o cabelo e, quando entrou na barbearia, teve um déjà vu . Em seguida, teve um déjà vu do déjà vu . E já não conseguia mais pensar em outra coisa.”

O britânico diz ter a sensação de que vive preso em um túnel do tempo. E quanto mais angustiado fica, maior parece ser a frequência de suas crises.

Segundo os pesquisadores, nas tomografias e exames de seu cérebro, tudo sempre pareceu normal, sugerindo que a causa do déjà vu constante provavelmente é mais psicológica que neurológica.

“Esse caso não é suficiente para provar que existe uma ligação entre ansiedade e a sensação de déjà vu , mas ele indica que seria interessante estudar mais a fundo essa relação”, diz Moulin.

Ao contrário dos problemas de memória, o déjà vu parece ter maior incidência entre pessoas jovens.

De acordo com uma pesquisa coordenada por Alan Brown, da South Methodist University, em Dallas, as pessoas costumam experimentar a primeira sensação de déjà vu aos seis ou sete anos.

A frequência dessa sensação costuma ser mais alta entre os 15 e 25 anos - e diminui depois dessa idade.

Teorias

Há várias teorias que tentam explicar as causas do déjà vu .

Akira O’Connor, psicólogo da Universidade de St Andrews, por exemplo, acredita que, na maioria dos casos, a sensação está ligada a uma espécie de “falha de ignição” momentânea nos neurônios no cérebro, que criaria conexões falsas.

“O déjà vu pode ser uma espécie de tique do cérebro. Da mesma forma que temos espasmos musculares ou contrações das pálpebras de vez em quando, pode ser que, às vezes, a parte do cérebro responsável pela memória e sensação de familiaridade tenha uma pequena convulsão”, diz O’Connor.

Isso ajudaria a explicar por que o que déjà vu é mais frequentemente entre pessoas que têm epilepsia ou algum tipo de demência.

Outra teoria, desenvolvida pela professora Anne Cleary, da Colorado State University, é que a sensação seria causada pela existência de algo genuinamente familiar no entorno de quem a experimenta - como o formato de uma estrutura ou a disposição dos móveis de uma sala.

Para testar sua hipótese, Cleary desenvolveu um jogo de realidade virtual computadorizado chamado “Deja-ville”, em que as pessoas navegam por cenários semelhantes.

A natureza fugaz e espontânea do déjà vu faz com que seja muito difícil estudar o fenômeno em laboratório, segundo os pesquisadores.

“Os métodos para se tentar induzir um déjà vu ainda são bastante incipientes”, diz O’Connor.

“Nós usamos a hipnose e testes que envolvem listas de palavras. Outro método é chamado de ’estimulação calórica’. Consiste em esguichar água morna nos ouvidos das pessoas.”

O´Connor explica que, inicialmente, esse método foi criado para o tratamento de outros problemas, como vertigem, mas os cientistas perceberam que um efeito colateral comum era justamente o déjà vu .

“Acredita-se que isso ocorra porque o canal do ouvido é próximo ao lobo temporal, que pode ser responsável por essa sensação”, diz ele.

Incidência

Não se sabe quantas pessoas sofrem de déjà vu crônico, mas Moulin diz já ter encontrado casos semelhantes ao do jovem britânico - inclusive alguns pacientes que insistiam que já o conheciam em função do problema.

“Eles me cumprimentavam como um velho amigo, apesar de nunca terem me visto antes. Alguns falaram comigo por Skype, estavam do outro lado do mundo, mas ainda assim tinham essa sensação”, conta ele.

Segundo Christine Wells, da Sheffield Hallam University, desde que a história do jovem foi publicada nos jornais britânicos mais pessoas estão procurando ajuda de especialistas dizendo ter o problema.

“Recebi mensagens de pessoas que vivem na Austrália e nos Estados Unidos. Trata-se de uma condição rara, mas há de fato pessoas que dizem que têm ou tiveram a mesma coisa - ou conhecem alguém com o problema.”

Para Wells é necessário estudar mais a fundo esse fenômeno. Mas também há quem defenda que ele não é assunto para a ciência.

“Já recebi cartas de pessoas que acham que o déjà vu é algo espiritual e citam a Bíblia e o Alcorão”, diz O’Connor.

“Alguns acreditam que eu não deveria estudar isso. Dizem que ’explicar o arco-íris estraga a sua beleza’. Pessoalmente, sempre gostei de ter um déjà vu - e tentar descobrir o que causa essa sensação apenas torna essa experiência mais bonita.”

Notícia publicada na BBC Brasil , em 24 de janeiro de 2015.

Jorge Hessen* comenta

O assunto déjà vu , ou paramnésia, tem sido, ao longo dos anos, objeto das mais díspares tentativas de interpretação. Segundo Sigmund Freud as cenas familiares poderiam ser visualizadas nos sonhos e depois esquecidas e seriam resultado de desejos reprimidos ou de memórias relacionadas com experiências traumáticas, ou seja, o déjà vu seria produto de fantasias inconscientes, quando algo inconsciente emerge à consciência, provocando uma sensação de “estranheza”.

Para Fabrice Bartolomei, neurologista francês, a paramnésia é resultado de uma fugaz disfunção da zona do córtex entorrinal, situado por baixo do hipocampo e que se sabia já implicada em situações de “déjà vu “, comuns em doentes padecendo de epilepsia temporal.

Em 1955, Wilder Penfield fez uma experiência em que estimulava eletricamente lóbulos temporais, encontrando um bom número de experiências de déjà vu . Segundo Li Li Mim, médico e professor de neurologia da Universidade de Campinas, os episódios de déjà vu são resultados de uma breve alteração no processamento da memória, que segue um circuito neuronal complexo – como se fosse uma rede de transmissão elétrica intrincada – ainda não totalmente conhecido.

Os especialistas ainda não sabem concretamente como ocorre, exatamente, a sensação do déjà vu em pessoas não epilépticas. A que ocorre em pessoas com a doença, no entanto, existem algumas hipóteses, como a batizada pelo psicólogo Alan Brown de “duplo processamento. Conforme Brown, professor da Universidade Southern Methodist, nos Estados Unidos, e autor do livro “The Déjà vu Experience” (a experiência do déjà vu ), dois terços da população mundial relatam ter tido, ao menos, um déjà vu na vida.

O caso extraordinário de um britânico de 23 anos que há oito anos tem experimentado episódios de déjà vu com grande frequência tem intrigado médicos e cientistas. Segundo Chris Moulin, neuropsicólogo cognitivo da Universidade de Bourgogne que está envolvido no estudo do caso, o jovem tinha um histórico de depressão e ansiedade e uma vez usou a droga LSD na universidade, mas era completamente saudável.(1)

Para Moulin esse caso não é suficiente para provar que existe uma ligação entre ansiedade e a sensação de déjà vu , mas ele indica que seria interessante estudar mais a fundo essa relação. Para Akira O’Connor, psicólogo da Universidade de St. Andrews, na maioria dos casos, a sensação está ligada a uma espécie de “falha de ignição” momentânea nos neurônios no cérebro, que criaria conexões falsas.(2)

O déjà vu pode ser uma espécie de tique do cérebro. Da mesma forma que temos espasmos musculares ou contrações das pálpebras de vez em quando, pode ser que, às vezes, a parte do cérebro responsável pela memória e sensação de familiaridade tenha uma pequena convulsão. “Alguns acham que o déjà vu é algo espiritual e citam a Bíblia e o Alcorão”, diz Akira O’Connor. Outros acreditam que não se deveria estudar isso. Dizem que ’explicar o arco-íris estraga a sua beleza’.(3)

Do ponto de vista espírita, no século XIX Kardec indagou a espiritualidade se duas pessoas que se conhecem podem se visitar durante o sono. A explicação dos Espíritos demonstra uma das possíveis relações com o déjà vu , observemos: “Sim, e muitas outras que creem não se conhecerem, se reúnem e conversam. Podes ter, sem disso suspeitar, amigos em outro país. O fato de ir ver, durante o sono, os amigos, os parentes, os conhecidos, as pessoas que vos podem ser úteis, é tão frequente que o fazeis quase todas as noites.”(4)

São tão complexas as análises, que especialistas reagem contra a limitação do “vu”, que restringiria ao mundo do que pode ser “visto”, e já utilizam formas paralelas que fariam referência mais específica aos vários tipos de situação: “déjà véanus” (“já vivido”), “déjà lu” (“já lido”), “déjà entendu” (“já ouvido”), “déjà visité” (“já visitado”) - o que pode, um dia, acarretar um “déjà mangé” (“já comido”) ou um “déjà bu” (“já bebido”).

Doutrinariamente sabemos que tudo o que vemos e nos emociona, agradável ou desagradavelmente, nesta e nas encarnações pretéritas, fica invariavelmente memorizado em alguma parte da região talâmica do cérebro perispiritual, e, em algumas ocasiões, a paramnésia emerge na consciência desperta. O fenômeno ainda pode ser uma manifestação mediúnica se o médium entra, em dado momento, em um transe ligeiro, sutil, e capta a projeção de uma forma-pensamento (ideoplastia) emitida por um desencarnado; essa é outra possibilidade.

Muitos já tivemos a sensação de ter vivido essa situação que acabamos de relatar. Como já ter estado em um determinado lugar ou já ter vivido certa situação presente, quando, na realidade, isto não era de conhecimento anterior. Em alguns casos, ocorre a habilidade de, até, predizer os eventos que acontecerão em seguida, o que é denominado premonição. Seria um bug cerebral, premonição ou mera coincidência? Como vimos a ciência e a Doutrina Espírita explicam a questão de formas desiguais.

Sabe-se que nossa memória, às vezes, pode falhar e nem sempre conseguimos distinguir o que é novo do que já era conhecido. “Eu já li este livro?” - “Já assisti a este filme?” - “Já estive neste lugar antes?” - “Eu conheço esse sujeito?” Estas são perguntas corriqueiras de nossa vida. No entanto, essas dúvidas não são acompanhadas daquele freudiano sentimento de “estranheza” que é imprescindível ao verdadeiro déjà vu .

Déjà vu é um fenômeno anímico muito comum, embora de complexa definição científica e doutrinária. Até porque há carências de publicações e depoimentos sobre este assunto. Apesar de não serem abundantes as publicações e depoimentos sobre o assunto, há teorias que associam o déjà vu a sonhos ou desdobramento do espírito, onde o espírito teria, realmente, vivido esses fatos, livre do corpo, e/ou surgiriam as lembranças de encarnações passadas, o que levaria à rememoração na encarnação presente.

Referências bibliográficas:

(1) Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/01/150124_dejavu_constante_ru >, acessdo em 17/12/2018;

(2) Idem;

(3) Idem;

(4) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, capítulo VIII, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000.

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (vinte e seis livros “eletrônicos” publicados). Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.