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Novas experiências no ensino visam o fim das aulas palestradas. Uma das tendências é a neurodidática, que propõe suportes visuais, como mapas conceituais ou vídeos com diferentes suportes informativos. Telma Simões Cerqueira comenta.

  • Data :24/12/2018
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Novas experiências no ensino visam o fim das aulas palestradas. Uma das tendências é a neurodidática.

Por REDAÇÃO PSICOLOGIAS DO BRASIL

Em 2010, uma equipe de pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), em Boston, colocou um sensor eletro-térmico no pulso de estudante universitário de 19 anos para medir a atividade elétrica de seu cérebro 24 horas por dia durante sete dias. O experimento produziu um resultado inesperado: a atividade cerebral do aluno quando assistia a uma aula palestrada era a mesma de quando ele assistia televisão; praticamente nulo. Os cientistas poderiam provar que o modelo pedagógico baseado em um aluno como um receptor passivo não funciona.

“O cérebro precisa se mexer para aprender”, explica José Ramón Gamo, um neuropsicólogo infantil e diretor do Mestrado em Neurodidática na Universidade Rey Juan Carlos. Nos últimos cinco anos, diferentes correntes surgiram na Espanha que querem transformar o modelo educacional e uma delas é a neurodidática .

Não é uma metodologia, mas um conjunto de conhecimentos que está contribuindo com a pesquisa científica no campo da neurociência e sua relação com os processos de aprendizagem. “Antes só podíamos observar o comportamento dos alunos, mas agora, graças às máquinas de neuroimagem, podemos ver a atividade cerebral durante a execução das tarefas”, acrescenta Gamo. Essa informação ajuda professores e pedagogos a decidir quais métodos são mais eficazes.

Gamo, que estuda as dificuldades de aprendizagem das pessoas com dislexia ou TDAH por mais de 20 anos, observou que na maioria dos casos esses problemas não estavam relacionados a essas síndromes, mas à metodologia da escola.

Ele e sua equipe identificaram que 50% do tempo em aulas tradicionais na Espanha é baseado na transmissão de informações para os alunos verbalmente, algo que acontece na escola secundária em 60% do tempo e em bacharelado quase 80%. “Perguntamos sobre o que estava acontecendo nas salas de aula e queríamos saber o que a ciência estava dizendo sobre isso, se esse método seria justificado por algum estudo.”

Com base em diferentes investigações científicas e em suas próprias, eles concluíram que, para a aquisição de novas informações, o cérebro tende a processar dados do hemisfério direito – mais relacionados à intuição, criatividade e imagens.

“Nesses casos, o processamento linguístico não é o protagonista, o que significa que a conversa não funciona. Os gestos faciais e corporais e o contexto desempenham um papel muito importante. Outro exemplo da ineficácia da aula palestrada”, explica Gamo.

Portanto, a neuro-didática propõe uma mudança na metodologia de ensino para substituir as aulas palestradas por suportes visuais, como mapas conceituais ou vídeos com diferentes suportes informativos, como gráficos interativos que exigem a participação do aluno. Outra aposta é o trabalho colaborativo. “O cérebro é um órgão social que aprende fazendo coisas com outras pessoas”, acrescenta.

Nos últimos cinco anos, Gamo formou trinta professores de escolas públicas em diferentes comunidades autônomas em neurodidáticas.

O principal problema, em sua opinião, é que as escolas não estão tomando a decisão sobre onde querem inovar, isto faz com que que ninguém as acompanhe na implementação das novas metodologias. “Os esforços dos centros educacionais estão empacados em métodos tradicionais baseados em palestras, memorização e exames escritos.”

Neste cenário coexistem centenas de professores e entre eles há aqueles que não se conformam com a didática estabelecida. Chema Lázaro, de 34 anos, dá aulas para alunos do sexto ano em uma escola em Moralzarzal e há dois anos e meio aplica a neurodidática na sala de aula. “Meus alunos sempre me disseram que eu era muito legal, mas que minhas aulas eram uma porcaria”, diz ele. Então começou a pesquisar metodologias alternativas e criou o blog Pizarras Abertas, que em 2013 lhe valeu o prêmio nacional em TIC na sala de aula do Ministério da Educação. Lázaro procurava uma base científica para apoiar sua aposta: fazer seus alunos aprenderem para a vida sem memorizar.

“Meu método respeita o processo pelo qual o cérebro aprende: primeiro vai a motivação, depois a atenção e finalmente a memória. Nessa ordem.” Para explicar o antigo Egito, ele tenta capturar o vínculo emocional das crianças. Através de seu canal no YouTube, apresenta hieróglifos em vídeos com o formato de um trailer de filme. “Com esse material eles estão motivados e por isso tenho alunos atentos”, continua ele. Ele usa *gamification * e as capitais são aprendidas ganhando pontos na plataforma Kahoot. Para ver as pirâmides, usa vistas de um drone ou do Google Earth.

“Partimos do fato de que o treinamento on-line não funciona, apenas 10% daqueles que se inscrevem em um MOOC – cursos on-line massivos e gratuitos – terminam com isso”. Em uma plataforma tradicional há conteúdo, enquanto em Neurok há debates.

Cuenca e uma equipe de 10 pedagogos e professores universitários e primários aplicaram os formatos Twitter e Facebook à educação. “Antes você sempre sabia quem pedir as anotações do caderno. Agora você decide quem seguir nessa rede social na qual todos os alunos compartilham conteúdo e discutem tópicos diferentes. O professor atua como guia e fornece critérios sobre qual conteúdo é de qualidade”, explica Cuenca. A parte mais difícil desse modelo de aprendizado, reconhece, é a participação. O sistema possui hashtags, menções ou notificações no celular, entre outros serviços. A ideia da Neurok é ser usada como uma plataforma de suporte para aulas presenciais ou diretamente como o suporte de um curso on-line.

É o que acontece com o Mestre em Neurodidática do Rei Juan Carlos, um curso misto no qual 80% do conteúdo é ensinado na rede. Até agora, eles também usaram Neurok na UNED e na Universidade da Extremadura, com a qual eles estão colaborando em uma pesquisa para medir a qualidade dos conteúdos compartilhados pelos alunos e seu nível de interação na plataforma.

“Ainda há muitas pessoas que desconfiam desses métodos, mas em cerca de 15 anos começarão a ver os resultados”, diz Cuenca, que já assessorou mais de 30 escolas públicas de diferentes comunidades autônomas por meio da consultoria educacional Niuco. Para todos aqueles que buscam evidências científicas de neurodidatismo, o professor da Universidade de Barcelona Jesús Guillén disponibiliza em seu blog Escuela con cerebro as últimas pesquisas realizadas em diferentes partes do mundo.

Texto traduzido e adaptado de Ana Torres Menárguez para o El País

*O conteúdo do texto acima é de responsabilidade do autor e não necessariamente retrata a opinião da página e seus editores.

Matéria publicada no site Psicologias do Brasil , em 4 de junho de 2018.

Telma Simões Cerqueira** comenta

“O cérebro precisa estar animado para aprender.” (José Ramón Gamo. Neuropsicólogo infantil e diretor do Mestrado em Neurodidática da Universidade Rey Juan Carlos)

Através dessa matéria, vemos que a neurodidática lança mão de estudos científicos e questiona os métodos tradicionais de ensino. O que antes só era possível observar através do comportamento dos alunos, agora graças a aparelhos de neuroimagem é possível ver a atividade cerebral durante a execução de tarefas. Nesses casos, o processamento linguístico não é o protagonista, o que significa que só a conversa não funciona. Gestos faciais e corporais desempenham um papel muito importante. E o professor Ramón explica: “Meu método respeita o processo pelo qual o cérebro aprende: primeiro vai a motivação, depois a atenção e finalmente a memória.

O que entendemos nesse artigo é que ao ensinar uma criança, é importante levar em conta que não basta transmitir um conhecimento. É também fundamental despertar a atenção dela e reconhecer as vitórias do aprendizado, isto é, a criança precisa de motivação.

Tudo isso nos leva a refletir que estamos entrando num campo novo para a Ciência Pedagógica, porém a Doutrina Espirita nos apresenta, de modo fértil e profundo, conhecimento amplo sobre o assunto. Estamos, portanto, no campo do sentimento, da emoção, da sensibilidade e da vibração.

Se tomarmos como ponto de partida para a Educação do Homem, a célebre frase pronunciada pelo Espirito da Verdade: “Espíritas, amai-vos, eis o primeiro mandamento e instrui-vos, eis o segundo”, teremos a nossa frente uma filosofia educacional, que se identifica com esse contexto atual onde entendemos que deve haver a educação do conhecimento aliada à educação do sentimento.

Sentimos então a necessidade de reatar pela Educação o abismo existente entre o coração e o intelecto, porque só através da interação sentimento e inteligência, o ser espiritual encarnado poderá alçar voo mais alto.

Vivemos numa época onde a tecnologia nos leva a pensar e agir através do cérebro, desprezando os sentimentos que dulcificam o coração, que sensibiliza a mente. Não podemos esquecer que todos nós, crianças, jovens ou adultos, somos Espíritos em evolução, que renascemos na Terra com o objetivo de evoluir, desenvolver nosso potencial interior, corrigir erros do passado, superar defeitos e limitações e pouco a pouco, vibrar em sintonia com as leis divinas.

Certamente, o espírito evolui através do estímulo, do esforço próprio, do trabalho de si mesmo, porém a motivação é imprescindível para que ele possa continuar a se esforçar sempre, entendendo a sua necessidade diante do seu processo evolutivo.

Com base na Doutrina Espirita, podemos dizer que o conhecimento é o conjunto de vivências, observações, experimentações que passa o Espírito a buscar nos mais variados setores da vida. Todo conhecimento é buscado através do fazer, do observar, do ver e do sentir. É o acervo armazenado pelo Espirito através das múltiplas experiências.

**“O cérebro precisa se emocionar para aprender” ** , ou seja, desejoso de renovar os conceitos adquiridos, o Espírito aciona o pensamento, a vontade para novas realizações de ideias. Esse desejo transforma-se em busca, aprofundando seus conhecimentos. Isso traz uma contribuição grandiosa para a humanidade.

Surgem assim os homens de ciência. Espíritos que se interessam pelas mais variadas áreas humanas, atingindo o conhecimento e o sentimento. Devido ao alto nível de vaidade e egoísmo no coração do homem, essas áreas ainda são de difícil acesso, e tudo fica por conta da inteligência e do intelecto.

Portanto, o espírito deve ser estimulado, motivado. Quanto mais estímulos, maior disposição, maior será a participação do pensamento reflexivo diante das observações, das experiências. E como fazer isso se não pelo sentimento e pela emoção?

A motivação leva o Espirito através do conhecimento, desenvolver as suas potencialidades, e essas lhe assegura o equilíbrio das forças morais, que dão ritmo ao crescimento evolutivo.

Que Deus abençoe os homens de ciência que buscam através de suas pesquisas impulsionar a geração nova na sua trajetória rumo ao progresso e regeneração da humanidade!

Bibliografia consultada:

  1. Kardec, Allan. Obras Póstumas – As Aristocracias (tradução de Guillon Ribeiro) - Rio de Janeiro: FEB, 75ª edição;

  2. Incontri, Dora. A Educação segundo o Espiritismo – FEESP;

  3. Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos (tradução de Guillon Ribeiro) - Rio de Janeiro: FEB, 75ª edição;

  4. Pelos Caminhos do Entendimento do Espírito – Alzira Bessa França Amui;

  5. Educação do Espírito – Walter Oliveira Alves;

  6. Rivail, Hippolyte Léon Denizard: Plano proposto para a melhoria da educação pública, p. 12.

** Telma Simões Cerqueira é Bacharel em Nutrição pela Universidade Veiga de Almeida, artista plástica e expositora espírita. Nasceu em lar evangélico, porém se tornou espírita nos arroubos da juventude, conhecendo a Doutrina Espírita aos 23 anos. Sempre ativa no Movimento Espírita, participa das atividades do Centro Espírita Jorge Niemeyer, em Vila Isabel, Rio de Janeiro/RJ.