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O estranho que me habita: a síndrome do pânico numa perspectiva formativa

Na década de 1960, várias pesquisas científicas começaram a diferenciar inesperados ataques de ansiedade de outras manifestações de ansiedade. A classificação diagnóstica oficial de Síndrome do Pânico ocorreu em 1980, com a publicação, pela Associação Americana de Psiquiatria, do DSM III (Diagnostic and Statistical of Mental Disorders, 3rd Edition). Em 1987, o DSM III – R, versão revisada do manual, delimitou os critérios válidos até hoje.

Segundo a classificação do DSM, a Síndrome do Pânico pertence à classe dos Transtornos de Ansiedade, junto com as Fobias, o Estresse Pós-Traumático, o Transtorno Obsessivo-Compulsivo e o Distúrbio de Ansiedade Generalizada.

Apesar da classificação razoavelmente recente, encontramos na história descrições semelhantes à do Pânico, embora não existisse ainda a categoria diagnóstica Síndrome do Pânico. A reação de pânico pode não ser nova, mas é nova a sua classificação científica como Síndrome do Pânico ou Transtorno do Pânico, assim como há atualmente tentativas sistemáticas de compreensão do fenômeno.

DEFINIÇÃO E SINTOMAS

A Síndrome do Pânico caracteriza-se pela ocorrência de ataques de pânico inesperados e recorrentes.

Os ataques de pânico, ou crises, consistem em períodos de intensa ansiedade e são acompanhados de alguns sintomas específicos. Os mais comuns são taquicardia, sensação de falta de ar, dificuldade de respirar, formigamentos, vertigem, tontura, dor ou desconforto no peito, despersonalização, sensação de irrealidade, medo de perder o controle, medo de enlouquecer, sudorese, tremores, medo de desmaiar, sensação de iminência da morte, náusea ou desconforto abdominal, calafrios ou ondas de calor, boca seca e perda do foco visual.

Nem todos esses sintomas podem estar presentes nas crises, mas alguns sempre estarão. Há crises mais completas e outras menores, com poucas manifestações. Os sintomas começam de súbito e se acentuam rapidamente, muitas vezes acompanhados por uma sensação de catástrofe ou de morte iminente e por uma ânsia de escapar da situação. A freqüência dos ataques varia de pessoa para pessoa.

Enquanto, nas Fobias, a pessoa teme uma situação ou um objeto específico, fora dela, no Pânico, ela teme o que ocorre no próprio corpo. Podemos considerar os casos de Pânico como fobias nas quais o que assusta são as reações do próprio corpo; é para essas reações que se volta a atenção, como deflagradoras das crises de Pânico.

O Pânico é um Transtorno de Ansiedade; isso significa que os sintomas têm como carro-chefe a ansiedade - um estado emocional de apreensão, uma expectativa de que algo ruim aconteça, um medo sem objeto definido.

A crise de Pânico é uma experiência de pico máximo de ansiedade levada ao extremo. O pânico é o ultimo grau do continuum crescente atenção-ansiedade-pânico.

Ansiedade antecipatória

A expectativa constante de ter uma nova crise é uma das características da Síndrome do Pânico. Com essa ansiedade antecipatória, as pessoas passam a evitar certas situações e acabam restringindo suas vidas.

Podem ocorrer reações fóbicas secundárias, que geralmente estão relacionadas às situações nas quais a pessoa teve as primeiras crises (no elevador, dirigindo, passando por um determinado lugar etc.). A partir daí, a pessoa passa a associar essas situações às crises. Com o tempo, os sintomas do Pânico tendem a ocorrer também em outras situações, mas é muito comum continuar a temer situações específicas, que funcionariam como catalisadores de novas crises. Há uma classificação diagnóstica de Síndrome do Pânico com e sem agorafobia.

Muitas vezes, a pessoa com Síndrome do Pânico não se sente presente nas situações e não consegue responder a elas adequadamente. Em vez de se compor com o que está à volta, ela pode se sentir ansiosa na maior parte do tempo. A ansiedade pode dominar a cena num sentimento flutuante de ameaça interna, de perigo que vem de dentro e que deixa a pessoa se sentindo um tanto distante da situação presente, limitando sua capacidade, por exemplo, de sentir raiva pelo que a desagrada, tristeza pelo que não obtém, de se sentir desafiada pelo novo etc. Muitas pessoas com Pânico relatam que se sentem um pouco “de fora” das situações.

Quando a pessoa consegue se compor com o que vive, estando mais presente nas situações, tende a ir saindo desse estado constante de ansiedade. Como veremos, aprender como estar mais presente e poder lidar com as afetações dos encontros é ativar o processo de manejar a ansiedade, ponto básico no processo de superação das crises de pânico.

PÂNICO E ESTRESSE

O conceito de estresse, criado pelo cientista canadense Hans Selye, modificou profundamente a visão de saúde e doença em vários setores da Medicina. Sua força esclarecedora ainda está para ser assimilada por novas teorias na saúde mental. Stanley Keleman, em sua abordagem formativa, recorre constantemente à noção de estresse para pensar os seus efeitos sobre o processo formativo como, por exemplo, a interferência das experiências excessivas na capacidade de criação contínua de formas somáticas no processo de vida.

O que é estresse?

Estresse é uma reação básica que todo ser vivo apresenta frente a diversos tipos de afetações, boas ou ruins.

Quando encontramos alguém, recebemos uma notícia importante, brigamos, enfrentamos um trânsito lento, algo ocorre em nosso corpo, nosso estado interno muda, estamos afetados e temos uma resposta do organismo para dar conta desse estado de afetação.

A resposta biológica e comportamental para lidar com esse desequilíbrio interno produzido sobre o nosso estado anterior é o que denominamos estresse.

A reação do estresse permite ao organismo agrupar forças e recursos internos para lidar com a situação de estar sob efeito de um encontro desestabilizador. Frente a uma situação na qual uma determinada forma somática não dá conta, a reação de estresse participa na mobilização e na preparação de novas formas, novas respostas. O desconforto do estresse chama a mudança.

O estresse é uma reação à afetação sobre uma ordem estabelecida, um chamado para se compor com aquilo ou, no limite, diminuir os efeitos da afetação.

Há um aumento de atividade no organismo para lidar com o fato de estar afetado.

O problema é quando o nível dessa resposta é excessivo e permanente, não se desfazendo após a situação, deixando a pessoa paralisada num certo ponto de sua resposta de estresse.

Quando a carga de estresse é excessiva, além do que uma pessoa é capaz de suportar, pode se iniciar um processo que desencadeia várias reações emocionais e sintomas próprios; os estados de ansiedade e pânico fazem parte desse processo.

Territórios existenciais

A situação estressante pode ser, por exemplo, uma crise conjugal, um medo de estar doente ou até mesmo uma viagem ou uma promoção no emprego – algo aparentemente bom, mas que exige adaptações e mudanças internas.

A situação torna-se excessiva, muito estressante, quando exige da pessoa mais do que ela está conseguindo agenciar dos seus recursos pessoais, quando internamente ela não está dando conta da situação.

É sempre com as afetações dos encontros que temos que lidar: encontro com as coisas, com as pessoas, com os próprios sentimentos, encontros do “eu” – aquilo com que o “eu” se identifica – com o “não eu” – aquilo que está fora dos limites de um território existencial.

O “não eu” pode estar dentro de meu corpo, como um sentimento que eu não entendo e não aceito ter, um pensamento que eu rejeito, uma fantasia “perigosa”, uma sensação que eu temo, enfim todas essas partículas de experiência subjetiva que não fazem parte do território no qual o “eu” se reconhece.

Os territórios existenciais são campos compostos por um conjunto de formas somáticas, por alguns modos característicos de vinculação, por visões de mundo, modos de sentir, perceber, pensar, agir, por valores, preferências etc. São configurações de mundos, tantos quantos se possa imaginar.

A questão é como algo nos afeta e como podemos dar conta de um certo desmanchamento de nossos territórios existenciais que os encontros e afetações provocam; como se compor com os acontecimentos a partir das mudanças necessárias no processo da vida ou como ativar modos de limitar os efeitos desorganizadores do excessivo.

O continuum do susto

No plano comportamental, a resposta de estresse envolve a ativação de certas emoções e atitudes para dar conta desses encontros que nos desequilibram.

Quando vivemos uma situação que mexe muito conosco e nos desestabiliza, é ativada uma reação automática chamada reação de luta ou fuga. Essa reação faz parte da resposta biológica do estresse e nos prepara para respondermos à situação nova.

Há um continuum de formas somático-emocionais nessa resposta frente a qualquer situação desestabilizadora, que Keleman denomina continuum do susto.

O continuum do susto é a reação automática ativada quando uma experiência ultrapassa o limite de uma forma somática, o limite de um território existencial, chamando novas respostas para lidar com a situação.

Para desencadear o continuum do susto, é necessário um potencial de estranhamento, uma capacidade de tirar o organismo de sua estabilidade. O continuum do susto é a reação frente à falta de forma para lidar com uma situação.

Nós somos desestabilizados muitas vezes nos encontros, e nossa capacidade de nos compormos ou não nesses encontros determina a experiência do assimilável ou do traumático.

O ser suportável ou excessivo depende de quanto um organismo suporta de estranhamento em si, potencializando-se em movimentos de diferenciação e complexificação de formas e estratégias de vida ou paralisando-se em tentativas de reduzir os efeitos de desorganização, de perda de limites e referências.

O continuum do susto é uma seqüência de formas emergenciais no processo de lidar com o novo.

Num primeiro momento, há um aumento de atenção para o que está ocorrendo; há uma reação de alarme inicial, em que o organismo endurece um pouco, suspende a respiração, ativa os receptores (olhar, ouvir, cheirar e sentir) e dirige a atenção.

Caso a intensidade dessa mobilização seja suficiente para dar conta do que ocorre, com um reconhecimento adequado da situação e de seus efeitos, a reação de alerta se desfaz, e se organiza um modo de se compor com a situação e os afetos.

No entanto, caso a experiência do estranhamento seja mais intensa, isto é, aquela afetação ameace algo em mim, posso me perceber organizado para defender o meu território, limitar a entrada do outro, criar um certo isolamento.

Avançando ainda mais no continuum da ameaça do estranho, posso agredir e atacar, buscando destruir o outro como modo de proteger o meu mundo. Há um aumento de minha força contra a ameaça do outro, um aumento da potência de um território contra o estrangeiro.

São graus de estranhamento – inicialmente, com mais atenção; em seguida, com criação de barreira e isolamento; depois, até com tentativas de agressão.

Com o avanço da presença do outro em mim – ameaça pelo aumento de potência do estrangeiro –, posso começar a entrar em estado de medo, no qual enfrentar a situação já não é uma solução eficaz; me sinto ameaçado demais e começo a querer fugir da situação. Não dá para me compor com o outro, com a afetação, com aquilo que não é assimilável; preciso evitar para me salvar.

Nesse momento, podem surgir experiências de ansiedade, confusão, pânico etc. Os estados de ansiedade e confusão interna marcam o conflito entre ficar para enfrentar a situação e fugir; expressam a coexistência de duas respostas simultâneas e contraditórias no comportamento - enfrentamento e fuga.

A intensificação do efeito de estranhamento do outro sobre mim me agride, me desorganiza, ameaça minha identidade, preciso recuar, para trás e para dentro de mim mesmo.

E, finalmente, não posso dar conta, não posso mudar a situação, nada me resta a não ser a entrega, a derrota, o colapso. Caio em apatia, tristeza e depressão. A afetação foi demais para mim, me agrediu demais e nada posso fazer para mudar.

Esquematicamente, o continuum do susto ficaria assim:

(1) Inicialmente, respondemos com mais atenção, cuidado;

(2) em seguida, se o grau de afetação for mais intenso e nos ameaçar, reagimos com isolamento, depois com enfrentamento e raiva.

(3) Caso a situação nos ameace ainda mais intensamente, começamos a nos sentir incapazes de dar conta do que ocorre e passamos a sentir medo, ansiedade, e

(4) podemos então caminhar para o pânico, grau extremo de uma situação excessiva, insuportável.

(5) Daí em diante, se a situação persistir, tendemos a recuar e começam a surgir as respostas de tristeza, abatimento, desânimo,

(6) colapso e depressão.

Nesse processo, há duas direções básicas de respostas: uma para reações de enfrentamento e luta (avançar), com aumento da organização das formas somáticas, e outra, quando a experiência é muito excessiva, para trás, para dentro, com respostas de fuga (recuar), com perda de organização das formas somáticas.

Quando não podemos avançar nem recuar, não conseguindo nos compor com a situação, ficamos no estado de ansiedade e pânico.

A ansiedade é a expressão de uma excitação interna com a qual o organismo não consegue encontrar um modo de se compor, uma forma para dar conta da excitação. Como dissemos antes, a experiência do pânico é o ápice do continuum crescente atenção-ansiedade-pânico.

Sempre temos que lidar com os efeitos e as reverberações dos acontecimentos em nós mesmos. Os limites e os modos de lidar são sempre pessoais, singulares a cada pessoa.

A experiência emocional de pânico

A experiência emocional de pânico é uma experiência normal, que muitos podem sentir numa situação muito intensa como, por exemplo, dentro de um edifício em chamas.

Nessa situação, o perigo é evidente e a reação de pânico mostra que se passou do limite de dar conta do que se está vivendo. Quando a pessoa está em pânico, já se encontra muito inundada pelo que está acontecendo, podendo, por exemplo, ficar num forte estado de confusão e se atrapalhar muito ao tentar sair do edifício, ficar paralisada e não conseguir fazer nada ou não suportar a situação e pular pela janela.

A pessoa atingiu um ponto no seu continuum do susto no qual o que a afeta é excessivo, ela não consegue organizar seus recursos internos.

A reação de pânico que ocorre nos estados de Síndrome do Pânico é basicamente a mesma, só que a pessoaestáreagindo a um perigo que vem de dentro dela.

Mas pânico frente a quê, a que perigo?

Essa é a questão mais importante a ser respondida para toda pessoa que apresenta Síndrome do Pânico, pois aponta para as causas que a levaram ao estado de Pânico. A resposta a essa pergunta é sempre singular, cada um tem os seus motivos, mas todos têm um motivo.

O estranho que me habita

O pânico é uma reação frente a uma experiência excessiva da qual a pessoa não está conseguindo dar conta. Na Síndrome do Pânico, o que produz o excessivo está dentro da pessoa; um estado interno indica haver coisas em sua personalidade que estão vivendo como estrangeiras dentro dela. Quando essas coisas começam a vir à tona, produzem as reações do continuum do susto no grau do Pânico.

Enquanto no edifício em chamas o perigo é visível, no Pânico o perigo é invisível.

Esse estranho não tem nome, é um desconhecido que habita e domina a vida da pessoa. São sentimentos, sensações, micropartículas de experiência que estão marginalizadas de um território existencial dominante.

A pessoa se descobre ativada em suas respostas-padrão de luta ou de fuga frente a algo desconhecido, ao estranho dentro de si. Por isso a reação parece tão sem sentido; o visível é apenas a taquicardia, a falta de ar etc.

Há algo pedindo passagem que não encontra lugar ao sol, que fica rejeitado, cindido da percepção consciente e que, quando emerge, produz uma intensa reação de estranhamento e desencadeia o reflexo do susto. Há uma reação de susto frente a uma excitação interna que não encontra modo de expressão, uma excitação sem forma.

DESCONEXÃO: A SINGULARIDADE DO PÂNICO

O pânico é uma resposta de alta excitação numa situação limite em que não há possibilidade de se compor com o que afeta e, ao mesmo tempo, em que não há recurso viável de fuga; não dá para lutar e não dá para fugir daquilo que está dentro da pessoa e que ela não reconhece.

Só é possível cindir partes da experiência, dividir-se a si mesmo em compartimentos, perceber e se identificar apenas com algumas partes e deixar outras ignoradas.

No Pânico, a reação ativada é a de desconectar a experiência somática, ver o problema objetificado no corpo e pensar: “estou tendo um ataque cardíaco”, “vou morrer” etc. É interessante notar que, geralmente, as pessoas com Pânico vivem como se o seu corpo fosse uma ameaça constante. A percepção se volta para as manifestações orgânicas, que parecem caóticas, levando a uma experiência de intensa ansiedade, com medo de morrer, de ter um ataque cardíaco etc. Há uma falência de sentido para o que está acontecendo.

A pessoa percebe a sua reação de susto frente a algo, mas não percebe esse algo, que está desconectado, separado da percepção, produzindo a resposta emocional de pânico.

Nas Fobias, eu fico ansioso frente a objetos e situações; no Transtorno Obsessivo-Compulsivo, eu reajo aos pensamentos e às compulsões; no Pânico, eu me desespero por aquilo que está agindo em meu corpo, produzindo aquelas reações.

Assim, nos aproximamos da singularidade do processo que leva ao Pânico: a desconexão entre a experiência somática e a experiência cognitiva.

A percepção das emoções

Segundo Nina Bull, em toda emoção (tristeza, raiva, alegria etc.) há pelo menos três componentes:

– um componente fisiológico, como as alterações respiratórias, cardíacas, vasculares, digestivas etc.;

– um componente postural, muscular, que organiza um esboço de ação; na raiva, por exemplo, uma preparação para brigar;

– um componente cognitivo, que pode reconhecer a reação interna e o estímulo/situação que desencadeou a emoção.

A integração desses três componentes (visceral, postural e cognitivo) possibilita a discriminação consciente do que uma pessoa está sentindo e uma atitude orientada frente ao mundo. A percepção combinada das reações orgânicas, das alterações posturais e da situação vivida constitui o que podemos chamar de emoção.

Assim, se uma pessoa se percebe com determinadas tensões musculares, o coração batendo forte, a respiração acelerada e encontra uma situação da sua vida relacionada a essa reação, pode discriminar que está sentindo raiva e até saber o motivo.

Algumas vezes, a pessoa pode não saber o motivo, mas tem suficiente discriminação para perceber, pela sua organização somática, o tipo de emoção que está se organizando. Por exemplo, se uma atitude postural está organizando uma tendência motora de bater, xingar etc., pode-se identificar a emoção de raiva. Há uma percepção de direção e intenção nas reações do corpo, há um senso de orientação interno.

Esse senso faz com que haja uma integração entre o sentido da experiência e as reações do corpo.

Quando não há essa integração, a atenção recai sobre as “reações estranhas” que estão ocorrendo no corpo.

Esse é o processo que ocorre nas pessoas com Pânico: há uma certa desconexão entre as reações somáticas e o sentido mental da experiência.

As pessoas que têm pânico freqüentemente se “desligam”, “ausentam-se” da situação presente pouco antes de as crises começarem. Isso permite pensar que, frente ao estranho que se anuncia dentro de si, inicia-se um processo de desconexão, que faz com que a pessoa se afaste do corpo e, logo depois, perceba as sensações como estranhas e ameaçadoras, respondendo com ansiedade e pânico. A pessoa se desconecta de seu corpo e aí a crise se instaura, com um grande susto em relação ao que nele ocorre.

As manifestações orgânicas “separam-se” da dimensão cognitiva, tornando-se sem sentido, estranhas à consciência. A ansiedade decorre desse estado: é uma reação frente a algo interno desconhecido; a pessoa se assusta com o que sente em seu corpo. A partir daí, desencadeia-se um movimento crescente de ansiedade que caracteriza as crises de Pânico.

Assim, a característica mais específica da Síndrome do Pânico é essa desconexão entre a dimensão somática e a dimensão cognitiva, que explica como uma pessoa pode chegar a viver um enorme “estranhamento” em relação ao próprio corpo, em relação às sensações vividas dentro da pele.

As estratégias para lidar com o excessivo

As afetações dos encontros são desafios às formas dominantes; são oportunidades para o organismo ampliar suas estratégias de vida ao lidar com elementos novos e se compor com isso. No entanto, todo desafio tem potencial de ser vivido como agressão. A agressão significa que a experiência produziu abalos intensos na forma e no funcionamento de uma pessoa e entra no campo do não-assimilável, do traumático.

Tomado pelo excessivo da afetação, é possível, no entanto, minimizar os seus efeitos. Os recursos incluem transformações nos tecidos do corpo, como adensamento, enrijecimento, inchaço e colapso – alterações emergenciais das formas somáticas para limitar o efeito devastador da excitação excessiva, da ansiedade e do estresse.

A desconexão percepção-soma é um modo de proteção frente ao excessivo, um dos momentos do continuum do susto. Quando não há como enfrentar nem fugir, um dos recursos é distorcer a autopercepção, uma tentativa limite de evitar a avalanche do inassimilável.

Por exemplo, frente ao excessivo, certa pessoa infla e, assim, dilui a excitação, sentindo menos; outra adensa e contém a reação dos afetos; outra, ainda, desconecta a experiência somática da experiência cognitiva, tentando se desligar dos efeitos do encontro em seu corpo.

Todas essas respostas expressam modos distintos de responder ao estresse excessivo. São modos de lidar com os acontecimentos, modos que permitem regular as intensidades possíveis ou intoleráveis, o que é suportável e o que é insuportável.

Frente a uma experiência de estresse muito intensa, algumas respostas podem ficar cristalizadas e perdurar como padrões organizados somaticamente, denominados por Keleman padrões de distresse. Um padrão de distresse é um conjunto de respostas solidificadas e cristalizadas que passam a limitar a amplitude de comportamentos de um organismo frente aos encontros; são padrões de resposta somática frente ao estresse excessivo que não se desfazem sozinhos. As pessoas com Pânico, por exemplo, ativam facilmente o padrão de desconexão cognição-soma frente ao excessivo.

O que predispõe ao Pânico

Há diversos modos de resposta ao excessivo que levam aos chamados estados psicopatológicos: recuar e deprimir, inflar em mania, desconectar e entrar em pânico etc.

Essas respostas singulares dependem da história de agressões vividas pela pessoa, do seu modo de lidar com as experiências excessivas, do seu repertório de formas somáticas, das suas heranças constitucionais etc.

Algumas pessoas têm maior facilidade de desconectar a experiência cognitiva da experiência somática, fenômeno que ocorre no processo que leva ao Pânico. O surgimento dessa desconexão está relacionado às experiências emocionais muito intensas, tanto presentes quanto passadas.

Parece haver, no entanto, uma tendência à desconexão em pessoas que tiveram experiências traumáticas muito precoces, nos primeiros meses de vida, quando o mecanismo de desconexão era um dos poucos recursos de proteção disponíveis frente às experiências excessivas. Essas pessoas parecem ter mais chances de desenvolver Pânico em algum momento da vida, pois mantêm organizado um padrão de desconexão ao longo dos anos.

A falta de confiança no corpo

Na crise de Pânico, a pessoa vive um profundo estranhamento em relação às suas sensações corporais; seu corpo é vivido como uma fonte de ameaça. Essa é uma das características centrais do pânico: os perigos vêm de dentro, vêm do próprio corpo. Nessa experiência de perigo interno, a pessoa reage com ansiedade e pânico, o que leva aos vários sintomas físicos, emocionais e cognitivos característicos.

Há um modo singular pelo qual tais pessoas lidam com as sensações corporais. Cada sensação diferente ou mais intensa do corpo pode ser percebida como um sinal de início de uma nova crise, um sinal de que “aquilo está vindo de novo”. Isso leva a um patrulhamento constante de que algo possa sair do controle. As pessoas com pânico fazem constantemente interpretações equivocadas e catastróficas de suas sensações corporais.

A pessoa geralmente tem o ataque de pânico desencadeado por uma sensação do corpo que a assusta: uma alteração no batimento cardíaco, uma sensação de perda de equilíbrio, tontura, falta de ar, alguma palpitação ou tremor, por exemplo.

Uma das marcas desse processo é a falta de confiança no corpo. A pessoa vive uma profunda desconfiança do funcionamento do organismo e das sensações que dele derivam.

Os estados de ansiedade são acompanhados por alterações respiratórias que costumam produzir hiperventilação. Esta cria um desequilíbrio entre os níveis de oxigênio e gás carbônico no sangue, levando a várias manifestações perceptíveis, como formigamentos, aceleração dos batimentos cardíacos, tontura, sensação de falta de ar etc., sinais típicos das crises de Pânico.

A ansiedade desperta muitas sensações, decorrentes da hiperventilação, que tendem a ser interpretadas pelas pessoas com Pânico como indícios de uma crise iminente. A ansiedade dessa sensação de iminência leva a mais ansiedade e, conseqüentemente, a mais hiperventilação, com mais sensações, num labirinto crescente em direção ao pânico.

O controle da hiperventilação, por meio de exercícios respiratórios específicos, é um recurso importante no controle das crises de Pânico.

OS MOMENTOS DE TRANSIÇÃO

Todos os momentos de transição na vida podem ser pontos críticos que levam às experiências excessivas, que ultrapassam as possibilidades de assimilação de uma pessoa. São momentos favoráveis para a eclosão dos muitos tipos de sofrimento emocional, entre os quais a Síndrome do Pânico.

As transições difíceis podem ocorrer nas mudanças de fases da vida, como a passagem pela puberdade, a saída da adolescência, a passagem para a vida adulta, para o adulto maduro, para a terceira idade.

Há inúmeros outros momentos e situações críticas de transição - o crescimento dos filhos, a perda de satisfação e de sentido no trabalho, o fim de um relacionamento afetivo, o nascimento de um filho, entre vários e vários outros.

Todas essas situações de transição podem produzir abalos intensos no modo de vida de cada um. Muitas pessoas não se dão conta dessas passagens, dessas “crises”; apenas sentem seus efeitos posteriores e sintomas.

Esses momentos críticos são favoráveis para iniciar o processo de desequilíbrio interno, de marginalização de partes de si, que poderá levar algumas pessoas a desenvolverem Síndrome do Pânico. Essa é uma forte possibilidade reativa em pessoas que já apresentam uma acentuada tendência à desconexão psique-soma.

A origem da Síndrome do Pânico precisa ser buscada na história de vida da pessoa, geralmente na época em que começaram as crises, quando aspectos importantes de sua vivência foram deixados de lado e retornam como elementos estranhos à própria pessoa, levando à resposta de pânico.

O excessivo nas transições

Vamos falar de um caso, entre muitos outros, em que a transição foi notadamente o deflagrador de um processo que levou à Síndrome do Pânico.

Uma mulher chega à terapia com uma história de 12 anos de Pânico. Pudemos observar, ao longo de seu processo, sua dificuldade em lidar com as mudanças decorrentes do avançar para a terceira idade, as mudanças em seu corpo, nos ritmos internos, na imagem social, na situação econômica etc.

Na época que se seguiu à menopausa, essa pessoa foi endurecendo seu corpo, numa tentativa ferrenha de manter uma situação interna que buscava negar as mudanças em andamento. Ela criou uma batalha interna silenciosa, para manter um modo de funcionamento e uma imagem de si – “ativa e alegre” como antes –, deixando uma parte de si marginalizada, escondida de si mesma.

Essa pessoa insistia em um modo de viver que não condizia com sua realidade interna nem externa, tentando negar as afetações das transformações que ocorriam em seu corpo e outras mudanças em sua vida, como seu padrão econômico, que caiu com o envelhecimento do marido, o provedor da casa.

Conforme os acontecimentos se faziam mais evidentes e a estratégia de negar partes de si não dava mais conta, essas partes negadas, excluídas, foram voltando, minando aos poucos a aparente segurança conquistada. Essas afetações expulsas retornavam como sensações e sentimentos não assimilados, que eram, então, vividos como estranhos dentro dela.

Ela sentia coisas que não conseguia nomear, identificar, e, assim, surgia a ansiedade – que é uma reação frente ao desconhecido dentro de si. A pessoa estranhava o que tais sensações e sentimentos produziam e reagia com ansiedade e pânico frente àquelas experiências.

As sensações não tinham nome, não tinham sentido, e eram vividas como se fossem reações estranhas, loucas, que ameaçavam a integridade de sua vida, desencadeando respostas de intensa ansiedade.

Tudo parecia sem sentido, mas, na realidade, tudo tinha um sentido, desconhecido para a pessoa.

Reconhecendo as transições, elaborando os processos em andamento, reconectando-se com suas experiências somáticas, modulando suas formas somáticas para acolher as novas afetações, essa mulher pôde sair do estado de Pânico e encontrar modos mais formativos em sua existência.

O estranhamento de coisas em si produz ansiedade como reação ao desconhecido. O estado de ansiedade produz ainda mais reações no corpo, como hiperventilação, reações nos batimentos cardíacos, no fluxo de sangue, no estado de consciência etc. A pessoa vai sendo tomada por uma avalanche de reações que parecem sem sentido, como se fossem levá-la à loucura, à morte.

Podemos dizer que as causas do processo que leva ao pânico são experiências internas não assimiladas. A pessoa não consegue identificar o que está vindo junto com as crises, todas as experiências de vida que foram negadas, excluídas de seu mundo, e, assim, acaba tendo crises de pânico frente ao desconhecido que a invade por dentro.

A essas experiências não assimiladas, a pessoa reage com uma desconexão cognição-soma, o que leva às crises de pânico.

Conflito de formas

Um cliente de 46 anos chega para o tratamento com uma história de muitos anos de crises de Pânico e depressão. Fala de seu problema com uma certa distância e objetividade, como se se referisse a algo externo a ele, algo com que não está identificado. Conta histórias em que se mostra bastante orgulhoso de suas conquistas profissionais e financeiras, mas, ao mesmo tempo, diz que está sofrendo muito e que sua vida está um inferno. Em seu modo de falar, evidencia-se um elevado grau de autocontrole.

Deitado, já podendo se perceber mais, diz que sente uma grande tristeza no peito, com um forte desânimo; sente insegurança e fantasia perder todo seu dinheiro, o que diz ser racionalmente infundado, pois tem um bom patrimônio.

Observando suas expressões, gestos e formas, percebemos que seu rosto apresenta uma expressão em desacordo com o estado do seu peito.

Intensificando volitivamente essa expressão do rosto, vai se organizando em todo o seu corpo uma forma somática em que ele fica rígido e insensível em relação ao mundo e a si mesmo. Relata que essa é uma atitude muito conhecida sua, “para inibir o sofrimento” emocional; diz que tem muito “medo de sentir dor”, que luta para não sofrer com experiências como perdas afetivas e quebras de vínculos e que faz de tudo para “não sentir”. Ele já percebe que, por exemplo, quando vai cumprimentar alguém, muitas vezes acha que está sorrindo, mas de fato não está. Sente a alegria interna, mas a emoção não chega a ser expressa em seus gestos.

Conforme desorganiza vários graus de sua forma rígida, vão surgindo experiências mais profundas que lhe lembram a sua juventude, a época em que tocava um instrumento musical etc.

Assim, fomos cartografando suas organizações somáticas e encontramos duas formas e territórios conflitantes. Uma forma do “durão” e outra, mais suave e afetiva.

Seu repertório de formas somáticas falava de um garoto adolescente muito sensível, que endureceu para dar conta de sua fragilidade e poder “crescer na vida” a partir de um ambiente emocional familiar muito árido.

Essa forma do “durão” passou a inibir o seu modo suave, uma forma somática passou a impedir a emergência de experiências de outra ordem, o território do “durão” limitava muitas possibilidades de afetividade e sensibilidade em sua vida.

Essa pessoa havia criado uma estratégia de enrijecimento somático para escapar de uma situação de muita dor e fragilidade em sua vida e para alcançar um modelo de homem que ele havia idealizado. No entanto, havia instaurado dentro de si uma verdadeira ditadura de um modo rígido sobre um modo sensível.

Podemos observar, nesse caso, um funcionamento duplo, duas organizações somáticas, dois modos de ser brigando entre si. No jogo de forças instalado, cada forma somática representava uma ameaça à outra. Pela ótica do seu modo “durão”, o seu maior medo era perder o dinheiro e o status, as maiores conquistas desse modo de funcionar. Assim, o seu medo aparentemente “infundado” era, na realidade, a ameaça de rachar uma estrutura dura, porém frágil, construída literalmente com sacrifício de outras partes de si a partir de uma política interna opressiva.

Quando seus sentimentos cresciam, aumentava seu endurecimento, cindia a experiência somática da percepção consciente, até o ponto em que vivia suas sensações com profundo estranhamento e ameaça, o que o levava ao Pânico.

Esse homem oprimia havia muitos anos sua forma mais afetiva, numa luta constante para paralisar e negar as afetações dos encontros com o mundo, uma tarefa fadada ao fracasso, mas sempre reempreendida à custa de crises episódicas de pânico e de muita medicação para tentar calar o desconforto.

Encontramos freqüentemente, nos casos de Pânico, um conflito de formas somáticas, com uma história que fala de momentos de transição em que a organização de um modo de existência implica na tentativa de paralisação das afetações, dos acontecimentos, das transformações.

O Pânico é uma reação a um estado interno do qual a pessoa não dá conta, algo que ela sente e que não cabe em seu modo habitual de funcionar, algo que ameaça as suas formas dominantes e passa a incomodar por baixo, como excitação não assimilada, que não pode se expressar em formas somáticas novas. Frente a essa excitação, a pessoa reage com estranhamento, susto, ansiedade e pânico.

O TRATAMENTO

Padrões de distresse: a pré-crise constante

Se uma pessoa está muito paralisada num determinado modo de funcionamento, num padrão de distresse, seu repertório de respostas torna-se limitado e sua abertura e flexibilidade para lidar com diferentes situações, reduzidas. Essa pessoa será mais freqüentemente ameaçada pelo excessivo, pois terá menos possibilidades de modular suas formas somáticas para receber novas excitações, menos possibilidades de criar respostas diferentes, de se adaptar a uma nova situação.

Uma pessoa cristalizada no padrão de desconexão poderá, freqüentemente, responder com desconexões frente às afetações e, assim, reagir com crises de Pânico. É importante reconhecer e trabalhar esses padrões, para desativar o gatilho armado do Pânico e diminuir a ocorrência de crises.

Observamos que, geralmente, após as crises, a pessoa permanece em estado de prontidão para ter novas crises, pois ainda mantém organizados os padrões de distresse que a levaram ao Pânico. Aliás, foi a organização desses padrões ao longo da vida que preparou o terreno para o Pânico.

Por exemplo, a contração crônica do diafragma e a desorganização da autopercepção (desconexão) são traços psicofísicos que mantêm a pessoa em estado de prontidão para ter novas crises.

Precisamos desarmar esses gatilhos, por meio da desorganização dos padrões somáticos que deixam a pessoa ansiosa, em estado de pré-crise, e sem outro recurso para lidar com a excitação além da desconexão psique-soma ou da depressão.

A depressão é também um modo de lidar com a excitação interna, limitando e diminuindo a vitalidade e a pulsação emocional. Uma pessoa com Pânico que deprime pode estar lançando mão de um recurso de proteção pois, limitando sua mobilidade e motilidade, encontra um modo de diminuir a excitação e, assim, evitar o Pânico. A depressão pode ser também um modo de se proteger contra o Pânico, até que a pessoa tenha condições de lidar com um nível maior de excitação com forma e sentido.

Por trás da desconexão cognição-soma, há sempre uma excitação que não encontra modo de expressão. Esse processo atua como um deflagrador, levando uma pessoa a usar o recurso radical da desconexão para lidar com experiências internamente excessivas. Esse fato não é consciente, e o surgimento do Pânico parece sempre “sem motivo”. A identificação das transições em andamento, dos conflitos de formas, das afetações inaceitáveis, é fundamental para a superação da Síndrome do Pânico.

No trabalho terapêutico, atuamos sobre os padrões psicofísicos que constituem a resposta do Pânico em suas relações com a história de vida. Precisamos atentar para as interrupções do processo formativo, os padrões de distresse envolvidos, a dinâmica funcional dos sintomas, os fatores existenciais da história de vida, os processos vinculares e os fatores contextuais, como, por exemplo, ambientes com diferentes qualidades.

Um enfoque global permite tanto um alívio do sofrimento trazido pelas crises quanto a superação e a cura, por chegar às causas que precipitaram o Pânico.

Algumas pessoas chegam para tratamento muito paralisadas pelo excesso de crises de pânico. Nesses casos, podemos indicar a utilização de medicamentos específicos paralelamente ao tratamento psicoterapêutico.

As técnicas utilizadas

A pessoa aprende técnicas para influenciar as suas crises. Primeiro, aprende técnicas para diminuir a intensidade das crises; depois, como limitá-las e evitá-las, até atingir um ponto, no decorrer da terapia, em que não as têm mais.

Assim, a pessoa vai saindo da fase das crises, podendo assimilar os sentimentos e sensações que a haviam levado ao Pânico; vai reconhecendo as transições em sua vida que não estavam sendo elaboradas e encontrando modos mais vitais de lidar com as afetações e os encontros.

As principais técnicas utilizadas são o manejo postural dos estados de ansiedade, exercícios respiratórios, trabalhos com centralização da atenção e trabalhos de convergência binocular focal, entre algumas outras. Trata-se de técnicas com ação específica para a situação de Pânico, que ajudam a manejar as intensidades da ansiedade e do pânico.

Os exercícios somáticos são fundamentais por vários motivos:

– atuam sobre a questão central do pânico, a da integração cognição-soma;

– levam a resultados muito significativos no manejo dos estados de ansiedade e pânico;

– realizam uma verdadeira educação somática, ensinando meios para a pessoa gerenciar seu processo formativo, modulando suas formas somáticas, as matrizes dos territórios existenciais, aprendendo modos de navegar nos devires, participando ativamente da construção de sua própria existência.

Ampliando: transições e história de vida

Na terapia, buscamos ampliar a compreensão dos processos afetivos, recontando a história de vida a partir da realidade somática formativa, revendo os acontecimentos e os modos de lidar, para esclarecer os “nós” que levaram ao Pânico.

Mapeamos as transições, as crises e as pressões presentes nos momentos em que o Pânico começou, as formas e as estratégias de vida que não deram conta dos acontecimentos, as formas e os processos emergentes. Buscamos reconectar a pessoa ao seu processo formativo.

A superação da Síndrome do Pânico é possível pela aquisição de maior capacidade de elaboração das emoções, pela reorganização dos padrões de distresse que levaram ao Pânico e mantiveram-no e pela formação de outros modos de sentir, perceber e agir, criando caminhos pessoais mais satisfatórios.

No tratamento de uma pessoa com Pânico, precisamos aproximá-la das afetações em sua vida, do reconhecimento das formas que surgem dessas afetações e dos novos sentidos que podem derivar em sua vida a partir daí. Precisamos abrir os territórios existenciais a novos sentidos e afetos, à criação contínua de novas formas no processo de construção da existência.

Superar a experiência do Pânico pode ser uma grande oportunidade de crescimento pessoal; de uma retomada vital e contemporânea do processo formativo.

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Artur Thiago Scarpato

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