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A crença no retorno da alma à vida corporal é tão antiga quanto se tem notícia na História. Desde que Pitágoras trouxe do Egito para a Grécia a ideia da transmigração, pôde-se perceber o quanto era ela natural ao pensamento humano. Desde Jesus se espantando com Nicodemos – Como és mestre em Israel e ignoras essas coisas? –, até o imaginário popular – Isso só pode ser coisa de outra vida –, chegando aos filmes nos cinemas, tudo evidencia a simplicidade desse conceito. É fácil notar que uma criança tem muito mais facilidade em entender a reencarnação do que conciliar um Deus justo com uma só existência física. Por se tratar de uma ideia inata, todos os esforços para deter sua propagação, por dezenas de séculos, foram e continuarão sendo infrutíferos. Mas que impactos esse fundamento traz ao nosso comportamento diário?

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A crença no retorno da alma à vida corporal é tão antiga quanto se tem notícia na História. Desde que Pitágoras trouxe do Egito para a Grécia a ideia da transmigração, pôde-se perceber o quanto era ela natural ao pensamento humano. Desde Jesus se espantando com Nicodemos – “Como és mestre em Israel e ignoras essas coisas?” –, até o imaginário popular – “Isso só pode ser coisa de outra vida” –, chegando aos filmes nos cinemas, tudo evidencia a simplicidade desse conceito. É fácil notar que uma criança tem muito mais facilidade em entender a reencarnação do que conciliar um Deus justo com uma só existência física. Por se tratar de uma ideia inata, todos os esforços para deter sua propagação, por dezenas de séculos, foram e continuarão sendo infrutíferos.

Mas que impactos esse fundamento traz ao nosso comportamento diário? Seria natural que, conhecendo a multiplicidade das passagens pelo mundo corpóreo, o ser humano se tornasse, por esse simples motivo: mais generoso, mais fraterno, menos preconceituoso, mais cuidadoso com o meio ambiente, etc., nem que fosse por interesse - quem iria querer nascer num planeta sujo e miserável num futuro próximo? Mas nem sempre é assim. Temos tanta criatividade que inventamos maneiras de nos enganarmos, ou de tentarmos ludibriar Deus – como se fosse possível –, usando, pasmem, esse mesmo princípio. Como?

Embora saibamos que as recordações de vidas anteriores sejam raras e cumpram sempre um objetivo útil, às vezes criamos fantasias para satisfazer nossos egos ou criar pseudoexplicações para situações que criamos agora e sobre as quais não queremos agir por comodismo.

À época de Cristo, os historiadores estimam que, em toda a Palestina, existiam 2 milhões de pessoas – menos de um terço da população da cidade do Rio de Janeiro em 2010. Dessas, algumas centenas tiveram contato direto com ele, e, dentre essas, apenas poucas dezenas o seguiram, sendo apenas doze seus apóstolos. Se todos os então discípulos do Cristo estivessem neste instante reencarnados ao mesmo tempo no mundo – o que é altamente improvável –, as chances de ser um deles seria de aproximadamente 1 em 70 milhões. Para compararmos: ganhar na Mega Sena jogando apenas 6 números nos dá 1 chance em 50 milhões. Por que então vemos tantos relatos, mesmo no meio espírita, de supostas lembranças dessa época ou de uma familiaridade com Jesus reencarnado? Quantas Cleópatras ou Napoleões “reencarnados” existem? Dez segundos de reflexão sem concentração já nos dão a resposta.

Os Espíritos são muito diretos quanto dizem que só há um meio seguro de saber sobre as experiências passadas: estudando nossos próprios pendores. Como poderia alguém que supostamente participou da Revolução Francesa ter uma personalidade passiva perante os desmandos políticos de nosso país? Outro que foi, segundo julga, espírita com Kardec ter uma postura dogmática ou eclesiástica perante a prática espírita? Seria razoável supor um companheiro que se diga muito familiarizado com pretos velhos ou índios do Plano Espiritual pregando a dizimação de sua cultura para o crescimento econômico capitalista desenfreado? Não estamos aqui falando de diferentes formas de conhecimento, mas de uma incompatibilidade ético-moral, já que o Espírito não retroage.

Ocorre também o oposto: dificuldades na experiência carnal atual serem justificadas por pretensas vidas anteriores. “Na última vida, devo ter sido um grande ladrão que matava pessoas, hoje só desvio dinheiro público” (sim, essa frase não é invenção didática, ela existiu) ou “Devo ter sido muito humilhada, porque gosto de pisar nos outros” não são pensamentos incomuns. Essas frases não suportam uma só crítica fundamentada. Primeiro porque, segundo os Imortais, Deus não dá a ninguém missão que não possa cumprir e não há determinismo moral. O que isso significa? Que ninguém é obrigado a fazer o mal. Nunca. Ainda nos afirmam os Superiores que o Espírito reencarna para progredir – se não fosse assim, ainda estaríamos na pré-história e jamais teríamos inventado o fogo –, portanto, não devemos nem podemos lançar uma âncora no passado. Temos que usá-lo para impulsionar o futuro.

Quando Pitágoras trouxe o conhecimento hindu, através dos egípcios, da pluralidade das vidas corporais, certamente foi movido por uma vontade de iluminar o pensamento ocidental, formando uma sociedade melhor. Não quis o velho matemático-filósofo que a usássemos como desculpa para nossas próprias imperfeições, nem que ficássemos presos a ela como forma de congelarmos nosso progresso.

Tudo de nosso passado que nos interessa está expresso em que somos agora. Glória não vem do que fizemos ou deixamos de fazer, mas do que nos impomos como esforço para sermos amanhã melhor do que somos hoje.

Deus é sábio. No dia em que tivermos mais vergonha na cara para lidarmos com as verdades da Vida Imortal, Ele certamente levantará mais um pouco o véu que encobre nosso passado. Por hora, o melhor é tirar nosso retrovisor para que não desviemos nossa atenção da estrada à frente. Então, sem mais escusas e mãos à obra!

7 de agosto de 2014