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  • A Finlândia está mudando 'um dos melhores sistemas de educação do mundo'

A Finlândia prepara uma mudança radical com o objetivo de aumentar ainda mais a qualidade de suas escolas. A partir de 2016, todos os centros de ensino do país nórdico começarão a aplicar um novo método conhecido como ‘aprendizado experimental’. Glória Alves comenta.

  • Data :09/01/2016
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9 de janeiro de 2016

Por que a Finlândia está mudando ‘um dos melhores sistemas de educação do mundo’?

Da BBC Mundo A Finlândia, país conhecido pelo sistema educacional considerado um dos melhores do mundo, prepara uma mudança radical com o objetivo de aumentar ainda mais a qualidade de suas escolas. A partir de 2016, todos os centros de ensino do país nórdico começarão a aplicar um novo método conhecido como “phenomenon learning” (que pode ser traduzido como ‘aprendizado experimental’). Segundo este sistema, as aulas tradicionais são substituídas por projetos temáticos nos quais os alunos se apropriam do processo de aprendizagem. “Na educação tradicional os alunos vão à sala de aula e têm aulas de matemática, depois de literatura e depois de ciências. Agora, em vez de adquirir conhecimentos isolados sobre matérias diferentes, o papel do estudante é ativo. Eles participam do planejamento, são pesquisadores e também avaliam esse processo”, disse à BBC Marjo Kyllonen, gerente de educação de Helsinque. Kyllonen afirma que a forma tradicional de educação, dividida entre matérias diferentes, não está preparando as crianças para o futuro, “quando precisarão de uma capacidade de pensamento transdisciplinar, olhar os mesmos problemas a partir de perspectivas diferentes e usando ferramentas de diferentes”.

Experiência colaborativa A capital finlandesa está na vanguarda do desenvolvimento desta nova metodologia na qual os alunos podem escolher um tema de seu interesse e planejar o desenvolvimento deste assunto com os professores. Kyllonen relatou à BBC um exemplo: alunos da quarta série que decidiram com o professor fazer um trabalho sobre o fenômeno dos smartphones. “Disseram que gostariam de saber sobre a história do desenvolvimento da telefonia”, disse. “Foi um tema que serviu para estudar matemática, estatística. Serviu também para saber quais as razões que levam as pessoas a usarem os telefones. Abordou também literatura e como as mensagens de texto mudaram a forma de escrever… (…). A ideia veio deles e, por isso, gerou uma conexão imediata com o tema”, afirmou. O “phenomenon learning” está sendo introduzido gradativamente nas escolas do país nos últimos dois anos. Todas as escolas são obrigadas a ter pelo menos um período durante o ano escolar - geralmente de várias semanas - para desenvolver esta nova forma de aprendizagem por experiência. No caso de Helsinque, as escolas foram estimuladas para estabelecer dois períodos como este por ano.

Mudança para os professores As mudanças no sistema educacional da Finlândia também trazem mudanças importantes para os professores, que não terão mais o controle sobre seus cursos com o qual estavam acostumados. Eles deverão aprender a trabalhar de forma colaborativa com seus alunos e outros docentes. O trabalho deles não vai mais ter como base as aulas expositivas e será mais parecido com o trabalho de um mentor. Até março de 2015, 70% dos professores de Helsinque já tinham sido treinados para aplicar este novo método. “Não acho que os professores possam simplesmente se sentar e observar o que está acontecendo. Creio que seu papel é ainda mais importante do que no sistema tradicional, precisam ter muito cuidado na forma como aplicam este método”, disse Kyllonen.

Lições erradas? O novo método já foi alvo de críticas. A reportagem da BBC conversou com Leo, um estudante de uma escola de Helsinque, sobre a experiência do “phenomenon learning”. “Tem suas vantagens e desvantagens. É diferente e os professores têm a oportunidade de usar a criatividade e trazer novas fórmulas de ensinar e de aprender. E isto é divertido”, afirmou. “Mas eu não gostaria que durasse o ano inteiro, porque é muito bom ter certa liberdade criativa para aprender de vez em quando, mas também existe a educação tradicional, que também cumpre uma função”, disse o jovem. A BBC entrevistou o professor da Universidade de Cambridge Tim Oates que também afirmou temer que outros países tenham as lições erradas a partir da experiência educacional positiva da Finlândia. Oates afirmou que o sistema educacional finlandês teve seu melhor momento no ano 2000, quando o país obteve os melhores resultados no Programa Internacional para a Avaliação de Estudantes da OCDE, conhecidas como provas PISA. Mas, desde então, o país está caindo. E, de acordo com o especialista, os funcionários do setor de educação de várias partes do mundo começaram a analisar como eram as escolas da Finlândia neste momento, caracterizadas pela ampla liberdade e pelo fato de que os alunos não necessitavam fazer provas a cada ano para mudar de série. Oates adverte que as reformas que permitiram os bons resultados do ano 2000 foram postas em marcha ainda na década de 1970, com elementos muito diferentes como as decisões centralizadas, a presença de supervisores em cada sala de aula, grandes investimentos na formação dos professores e a aplicação de exames obrigatórios. Notícia publicada pela BBC Brasil , em 7 de dezembro de 2015.

Glória Alves* comenta

Lembro-me bem da época de criança, do antigo primário e admissão ao ginásio, lá se vão muitos anos… Como era prazeroso estudar, eu gostava muito de um livro chamado “A Mágica do Saber”, de Icles Marques Magalhães e Thereza Neves da Fonseca, Português e Matemática, quanta coisa ainda guardo na memória. História, Geografia, as capitais dos países…

Embora em 2012 a Finlândia tenha caído do topo para a 12ª posição do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), o principal exame internacional de educação, ela ainda é apontado pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) como “um dos líderes mundiais em performance acadêmica” e se destaca pela igualdade na educação, alta qualificação de professores e por constantemente repensar seu currículo escolar.

O Brasil, em 2015, enviou 35 professores de institutos federais brasileiros selecionados pelo programa Professores para o Futuro, do CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Ministério da Educação), para estudar a educação finlandesa como treinamento e capacitação.

Em nosso país, a maioria das escolas, trabalha ainda com a educação tradicional, onde as disciplinas como a Física, a Matemática, a História, e a Língua Portuguesa, entre outras, ainda são ministradas, em geral, de forma absolutamente independente, isolados, é a chamada disciplinaridade, isto é, não há nenhuma interação entre essas disciplinas, os professores não interagem os conhecimentos e os alunos são avaliados através de provas.

Atualmente, na Finlândia, em vez de conhecimentos isolados sobre matérias diferentes, é o aluno que vai buscar o seu conhecimento. “Eles participam do planejamento, são pesquisadores e também avaliam esse processo", disse à BBC Marjo Kyllonen, gerente de educação de Helsinque, e completa afirmando que essa forma de ensino tradicional não está preparando as crianças para o futuro, “quando precisarão de uma capacidade de pensamento transdisciplinar, olhar os mesmos problemas a partir de perspectivas diferentes e usando ferramentas de diferentes".

Segundo Jean Piaget, biólogo e que se dedicou a estudos na Psicologia voltados à Educação, a interdisciplinaridade seria uma forma de se chegar à transdisciplinaridade. A interdisciplinaridade considera um diálogo entre as disciplinas, porém continua estruturada nas esferas da disciplinaridade. A transdiciplinaridade, por sua vez, alcançaria um estágio onde não haveria mais fronteiras entre as disciplinas e se consideraria outras fontes e níveis de conhecimento.(1)

A professora Giani Barwald Bohm, do Instituto Federal Sul-rio-grandense, conta que o ensino fundamental finlandês continua dividido em disciplinas tradicionais, mas focado cada vez mais no desenvolvimento de habilidades dos alunos, e não apenas na assimilação de conteúdo tradicional. “São desenvolvidas competências do século 21, como comunicação, pensamento crítico e empreendedorismo”, diz ela.

Aqui, muitos alunos, por exemplo, não gostam e não percebem a importância do estudo da Filosofia, porque não conseguem contextualizá-la com as demais disciplinas, uma vez que os professores não trabalham conectados, falta o olhar interdisciplinar.

Por isso, a preocupação da Educação finlandesa é levar o educando a participar do processo de educação, colocá-lo inserido no contexto do seu aprendizado, conforme esclarece Marjo Kyllonen: “Agora, em vez de adquirir conhecimentos isolados sobre matérias diferentes, o papel do estudante é ativo. Eles participam do planejamento, são pesquisadores e também avaliam esse processo".

Como nos diz Piaget, é preciso ensinar os alunos a pensar, e é impossível aprender a pensar num regime autoritário. Pensar, é procurar por si próprio, é criticar livremente e é demonstrar de forma autônoma. O pensamento supõe então o jogo livre das funções intelectuais, e não o trabalho sob pressão e a repetição verbal. (…) Não é suficiente preencher a memória de conhecimentos úteis para se fazer homens livres: é preciso formar inteligências ativas.

As mudanças no sistema educacional da Finlândia também trazem mudanças importantes para os professores, que não terão mais o controle sobre seus cursos com o qual estavam acostumados. Eles deverão aprender a trabalhar de forma colaborativa com seus alunos e outros docentes. O trabalho deles não vai mais ter como base as aulas expositivas e será mais parecido com o trabalho de um mentor.

Na visão de Johann Heinrich Pestalozzi, educador suíço, o uso do “método intuitivo” requeria dos professores mais recursos intelectuais, mais presença de espírito, mais vontade de ensinar, ou seja, um contínuo aprimoramento do saber. O professor deve buscar seu material no próprio meio que envolve o aluno, em uma situação real.(2)

Dessa maneira, o modelo tradicional de escola não serve mais. Aulas expositivas, o chamado “cuspe e giz”, onde o aluno fica sentado na sua carteira, e praticamente não participa das aulas, desatento, pois muitas vezes essas aulas não o tocam profundamente. Os alunos, de uma forma geral, não veem o professor como um aliado para aprender, mas como um obstáculo que devem superar para a aprovação no final do período letivo.

No entanto, ainda que o “phenomenon learning” desponte como um método capaz de revolucionar a educação atual, ele também recebe críticas por parte de alunos, que sentem a falta de, em determinado momento, seguir algo pré-definido e pré-determinado, o tradicional não pode ser completamente excluído; acredito que o primeiro passo nessa direção é reconhecer que a disciplinaridade e a transdisciplinaridade não são excludentes, e, sim, que possuem uma dimensão complementar.

Vivemos numa sociedade midiática, internet, recursos tecnológicos, que possibilitam o acesso, a produção e a veiculação das informações com velocidade espantosa, sem limites temporais ou espaciais. Para os jovens de hoje em dia, é difícil imaginar como era o mundo antes das tecnologias de comunicação. Atualmente eles trocam mensagens pela internet, falam em tempo real com os colegas, usando o “zap”, usam uma linguagem própria para se comunicar e fazem praticamente tudo com o computador, celular ou tablet; e a informação está cada vez mais acessível neste contexto.

Os processos de ensino com uso de computadores e ambientes virtuais de aprendizagem sugerem transformações imediatas no redimensionamento do papel da escola e do professor. Com clareza, Peter Drucker, escritor e professor austríaco, chama nossa atenção quando afirma que “a tecnologia será importante, mas principalmente porque nos força a fazer coisas novas, e não porque irá permitir que façamos melhor as coisas velhas”.(3)

Tudo na vida segue a lei de progresso, a educação formativa, que instrui a criança também deve progredir. Assim como há o progresso da Ciência e consequentemente da Tecnologia, na educação não pode ser diferente, a educação tradicional não mais atende as necessidades do homem do terceiro milênio. Essencial, em verdade, é buscar entender essas necessidades; o que falta para darmos passos maiores em direção ao futuro? O modelo finlandês é inovador, sair do comum, procurar novos caminhos para educação. Excelente exemplo para a educação brasileira, ainda atrasada e não-compatível com os anseios atuais dos alunos.

“Educação é base para a vida em comunidade, por meio de legítimos processos de aprendizagem que fomentam as motivações de crescimento e evolução do indivíduo. Não apenas um preparo para a vida, mediante a transferência de conhecimentos pelos métodos da aprendizagem. Antes é um processo de desenvolvimento de experiências, no qual educador e educando desdobram as aptidões inatas, aprimorando-as como recursos para a utilização consciente, nas múltiplas oportunidades da existência.”

“Os métodos na experiência educacional devem ser consentâneos às condições mentais e emocionais do aprendiz. Em vez de se lhe impingir, por meio do processo repetitivo, os conhecimentos adquiridos, o educador há de motivá-lo às próprias descobertas, com ele crescendo, de modo que a sua contribuição não seja o resultado do pronto e concluído”, processo que, segundo a experiência de alguns, “deu certo até aqui”.(4)

Quanto mais se avança, mais se sente o que falta, sem, no entanto, poder ainda o definir claramente: é o efeito do trabalho íntimo que se opera para a regeneração; têm-se desejos, aspirações que são como o pressentimento de um estado melhor.(5)

Professores e alunos são fundamentais na articulação do projeto da escola e devem participar ativamente da sua construção. O professor é aquele que compreende o aluno de forma integral, buscando identificar suas necessidades de desenvolvimento no nível intelectual, físico, emocional, social, cultural e espiritual. Portanto, na Educação Integral, todos são corresponsáveis e devem trabalhar juntos na construção de uma educação que atenda o desenvolvimento do ser integralmente.

Bibliografia: (1) “Dicionário Interativo da Educação Brasileira” - Thais Helena dos Santos; Ebenezer Takuno de Menezes – Educabrasil;

(2) “Antologia de Pestalozzi” - J.H. Pestalozzi - Trad. Lorenzo Luzuriaga;

(3) “Sociedade pós-capitalista” - Peter Drucker;

(4) “S.O.S Família” - Cap. 15 - Educação – Espírito Joanna de Ângelis – Divaldo Franco;

(5) “Revista Espírita” – Allan Kardec - Ano 1866 - outubro.

  • Glória Alves nasceu em 1º de agosto de 1956, na cidade do Rio de Janeiro. Bacharel e licenciada em Física. É espírita e trabalhadora do Grupo Espírita Auta de Souza (GEAS). Colaboradora do Espiritismo.net no Serviço de Atendimento Fraterno off-line e estudos das Obras de André Luiz, no Paltalk.