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A iniciativa acontece há 1 década, discretamente, e, este ano, o programa Gente de Futuro, parceria com a Fundação Casa, ganha uma nova abordagem: além de formar esses jovens para o mercado de trabalho, a empresa dará suporte também às suas famílias. Jorge Hessen comenta.

  • Data :03/08/2014
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3 de agosto de 2014

Grupo contrata menores infratores há 10 anos: sigilo

O Grupo Pão de Açúcar (GPA) está empregando e orientando menores infratores sem contar para ninguém quem eles são - nem mesmo para os seus próprios funcionários.

A iniciativa acontece há 1 década, muito discretamente e este ano, o programa Gente de Futuro ganha uma nova abordagem: além de formar esses jovens para o mercado de trabalho, a empresa dará suporte também às suas famílias.

Desde 2004, a rede faz uma parceria com a Fundação Casa para recrutar e contratar pessoas que cumprem, ou já cumpriram medidas socioeducativas, para atuarem nos supermercados Pão de Açúcar e Extra e na sua sede administrativa, em São Paulo.

Mas foi em 2009 que a prática tomou forma de projeto.

“Não se trata de cotas legais a serem cumpridas, como acontece no Menor Aprendiz. É social mesmo”, diz Elisabete Fonseca, gerente de RH do grupo.

Requisitos

Para participar, os jovens com idade entre 17 e 21 anos precisam ser indicados pela instituição.

Depois, eles passam por um processo seletivo elaborado pela empresa.

O projeto tem duração de 12 meses e, a cada ano, são abertas de 20 a 30 vagas.

Para 2014, foram 70 candidatos pré-selecionados para 25 postos de trabalho abertos.

A seleção ainda está em curso e 10 deles já foram preenchidos.

A escolha, que deve terminar em julho, passa pela análise de uma consultoria e por uma entrevista com um gestor e leva em conta a vontade e o perfil do jovem. É depois de identificar o potencial dos candidatos que a varejista busca as vagas em lojas próximas à região onde eles moram - num processo inverso ao natural.

Preconceito

Depois de selecionados, os jovens são efetivados como qualquer outro funcionário do GPA.

O programa é sigiloso e só os gestores sabem quem são as pessoas que participam dele.

Para o restante da equipe, não há distinção para evitar qualquer possível preconceito.

As vagas

A maioria deles é contratada para atuar nas áreas de operação dos supermercados da rede e alguns (cerca de 20%) são destinados à sede administrativa da empresa.

“Muitos começam aprendendo um ofício como o de padeiro, ou açougueiro, e realmente constroem uma carreira nessas profissões”, conta Elisabete.

Treinamento

O único tratamento diferenciado que os integrantes do Gente de Futuro recebem é ter de participar de reuniões quinzenais que trazem treinamentos e palestras, organizados pela consultoria parceira.

Os encontros duram quatro horas e neles são tratados temas como o autoconhecimento, o diálogo, a relação com a família e o papel do jovem profissional na sociedade.

“São pessoas muito fortes, mas também muito machucadas e que, por isso, às vezes criam mecanismos de defesa”, justifica Elisabete sobre a necessidade desse tipo de orientação.

Gerenciamento

Os chefes que irão comandar funcionários do Gente de Futuro também são preparados especialmente para recebê-los.

Durante um dia, eles são treinados pela consultoria para “aprender a administrar as falhas dos jovens de maneira construtiva”, segundo explica Elisabete.

No decorrer do ano, os líderes também participam de pelo menos dois encontros com a equipe de RH da companhia e a consultoria para discutir o andamento do programa e discutir as dificuldades e oportunidades dos empregados que fazem parte dele.

Contratação

Passados os 12 meses, o funcionário do Gente de Futuro que estiver se dando bem no trabalho continua na companhia.

Na média, 50% deles permanecem no emprego depois desse período.

Elisabete conta que não há muitos registros de que o GPA precisou desligar os jovens.

“Só acontece em casos extremos. Mas alguns realmente desistem porque retornam à criminalidade”, afirma, sem falar em números.

Entre aqueles que não vão embora, uma média de 12% são promovidos.

“Quando eles ficam, o índice de engajamento é muito grande, porque nós os ajudamos a reconstruir a sua história”, diz a gerente.

Hoje, 10 funcionários que vieram do projeto ainda estão na companhia.

Deles, cinco já tem entre 5 a 9 anos de casa, sendo que um deles ocupa um cargo de média liderança.

“Tem também o caso de uma pessoa que nos deixou para ser sommelier em uma grande adega”, conta Elisabete.

Com informações da Exame e Planeta Sustentável

Notícia publicada no Portal Só Notícia Boa , em 6 de julho de 2014.

Jorge Hessen comenta*

A finalidade da lei correcional não é punir puramente, entretanto igualmente possibilitar a recuperação do criminoso. Para os especialistas do assunto, a pena é uma resposta punitiva estatal contra um determinado crime e deve ser proporcional à extensão do dano, jamais poderá violar a dignidade humana, pois estaria reparando um erro com outro erro. A punição por si só não muda o comportamento transgressor do ser humano socialmente opresso, é preciso reeducá-lo para que possa compreender a importância da liberdade.

O adolescente marginalizado é, quase que invariavelmente, vítima de desigualdade social, pois que não tem renda suficiente para usufruir de bens e serviços básicos, como saúde, educação, habitação e lazer. Situações determinantes para que o jovem se torne revoltado ou ansioso por experimentar o que da vida lhe é suprimido. Para tais adolescentes, o melhor recurso é o processo de ressocialização; não com vistas à repreensão judicial, mas à reinserção desse jovem infrator na sociedade que ele mesmo rejeitou. Por essa razão,  é auspicioso os programas de reeducação desses jovens que tendem aproveitar as oportunidades que algumas instituições de ressocialização lhes proporcionam.

No Brasil existem algumas empresas que agem semelhante a certa rede de supermercados que oferece emprego e orientações a esses adolescentes. A rede mantém um programa intitulado de “Gente de Futuro”, propondo formar os jovens para o mercado de trabalho, oferecendo apoio às suas famílias. O programa é executado em parceria com a Fundação Casa (antiga FEBEM) para recrutar e contratar jovens que ainda cumprem, ou já cumpriram medidas socioeducativas, para atuarem nos supermercados.(1)

A lógica do amor diz que os mais conscienciosos devem ajudar os mais atrasados, os mais inteligentes aos menos dotados intelectualmente, o maior ao menor, e assim por diante, inoculando, portanto, no tecido social, a vacina do Evangelho ao próximo. O menor infrator, portanto, deve ser alvo dessa intensa providência socioeducativa e de outros recursos psicoterapêuticos, para o seu regresso ao bom convívio social.

A reeducação de qualquer delinquente pode ser feita por meio da implantação de frentes de trabalho para profissionalização, como vimos acima, não apenas para tirar criminosos apenados da ociosidade, porém igualmente abrir perspectiva de integração futura na sociedade. Nesse sentido, reverenciamos os grupos de várias denominações religiosas que desenvolvem excelentes projetos de recuperação do encarcerado, por intermédio de uma efetiva programação de visitas permanentes aos centros de reclusão. Tais religiosos promovem palestras de valorização humana, divulgação doutrinária, instituição de voluntários padrinhos, contato com parentes, distribuição de cestas básicas para familiares dos recuperandos, objetivando o aumento do índice de recuperação dos internos nos presídios brasileiros.

Há dois mil anos, o Mestre forneceu importantes convites sobre esse trabalho. Recordemos Suas considerações sobre a prática de um sublime código de caridade, ante as questões da vida dos criminosos: “Senhor, quando foi que te vimos preso e não te assistimos?” Ao que Ele respondera: “Em verdade vos digo - todas as vezes que faltastes com a assistência a um destes mais pequenos. deixastes de tê-la para comigo mesmo."(2)

Somente a experiência do Evangelho pode estabelecer as bases da concórdia, da fraternidade e constituir os antídotos eficazes para minimizar a violência que ainda avassala a Terra. Na verdade, o homem cresce e se expande na medida em que se projeta no coração do semelhante. Assim, a realização de qualquer investimento de solidariedade, ante os presos de menor ou maior periculosidade, se consubstanciará no mais eloquente ato cristão.

A sentença “perdoar setenta vezes sete vezes”, proferida por Jesus, precisa ser aplicada ao limite máximo das nossas experiências cotidianas. Os Benfeitores Espirituais nos instruem que devemos “amar os criminosos como criaturas que são, de Deus, às quais o perdão e a misericórdia serão concedidos, se se arrependerem, como também a nós, pelas faltas que cometemos contra sua Lei”.(3) Em muitos casos, somos “mais repreensíveis, mais culpados do que aqueles a quem negamos perdão e comiseração, pois, as mais das vezes, eles não conhecem Deus como O conhecemos, e muito menos lhes será pedido do que a nós.”(4)

Referências bibliográficas:

(1) Disponível em http://sonoticiaboa.band.uol.com.br/noticia.php?i=5137 >, acessado em 18/07/2014;

(2) Mateus, 25:31-46;

(3) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XI, “Amar o próximo como a si mesmo - Caridade para com os criminosos”, RJ: Ed. FEB, 1990;

(4) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. XI, “Amar o próximo como a si mesmo - Caridade para com os criminosos”, RJ: Ed. FEB, 1990.

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.