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‘Quando cheguei, meus pais me trataram como um garoto de ouro. Tive uma infância encantada, nunca fui abusado. Ninguém fez nada de ruim o suficiente para me transformar em um assassino’, disse o neurocientista James Fallon. Jorge Hessen comenta.

  • Data :22/12/2013
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22 de dezembro de 2013

Neurocientista estuda o próprio cérebro e descobre que é um psicopata

“Quando cheguei, meus pais me trataram como um garoto de ouro. Tive uma infância encantada, nunca fui abusado. Ninguém fez nada de ruim o suficiente para me transformar em um assassino”, disse o neurocientista

James Fallon estava sentado em seu escritório, em outubro de 2005, vasculhando exames de pessoas que sofrem de transtornos psiquiátricos graves quando se deparou com a imagem que mostrava o cérebro de um psicopata – o seu. O neurocientista, da Universidade da Califórnia, passou anos investigando o cérebro de potenciais assassinos. Fallon, professor de psiquiatria e comportamento humano viveu os primeiros 58 anos de vida pensando ser um homem bem ajustado, com uma distinta carreira na academia e uma família amorosa. Fallon se casou com sua namorada do colégio, Diane, que conheceu aos 12 anos, e teve três filhos.

No entanto, naquela tarde de outubro, Fallon descobriu uma verdade chocante que iria levá-lo a questionar a própria identidade. “Eu estava olhando para muitos scans, scans de assassinos misturados com esquizofrênicos, depressivos e outros cérebros normais”, disse a revista Smithsonian . Por acaso, na mesma época, o neurocientista também estava envolvido em um estudo de Alzheimer e havia feito exames de seu próprio cérebro e de familiares.

Um dos exames chamou a atenção do neurocientista, que curioso sobre a identidade da pessoa cujo cérebro foi retratado na digitalização, descobriu, para seu espanto, que o cérebro era o dele. Ao invés de esconder a verdade inquietante,  o professor veio a público para falar sobre o assunto.

O médico descobriu que o seu cérebro tem inativa uma região ligada ao comportamento ético e à tomada de decisão. Viu também que possui genes ligados à violência. Seria uma pesquisa comum, não tivesse ele decidido escancear o próprio cérebro - e ver o mesmo padrão de serial killer. O neurocientista escreveu um novo livro chamado O psicopata no interior, em que procura explicar como um pai feliz no casamento também pode ser um psicopata com as mesmas características genéticas que assassinatos em massa.

“Eu nunca matei ninguém, ou estuprei alguém”, disse ele. “Então, a primeira coisa que pensei foi que talvez a minha hipótese estivesse errada, e que essas áreas do cérebro não são reflexo de psicopatia ou comportamento assassino. Fallon, em seguida, foi submetido a uma bateria de testes genéticos, que mostraram que ele tinha uma predisposição para agressão, violência e a baixa empatia. O que o distingue de um Charles Manson, no entanto, é que ele não age sobre suas tendências agressivas. O neurocientista explica também, que nunca sofreu abuso severo na infância, necessário para expressar o gene.

Em retrospecto, a revelação de que Fallon tinha muito em comum com maníacos homicidas não veio como uma completa surpresa: o professor de 58 anos descobriu ter ao menos 6 assassinos na família do pai. Um homem foi enforcado em 1673 por matar a mãe. Outro parente de Fallon é Lizzie Borden, que foi levado a julgamento, mas absolvido, dos assassinatos de seu pai e a madrasta em 1892.

É difícil definir exatamente o que faz de uma pessoa um psicopata. Na verdade, a psicopatia tem uma variedade de sintomas que nem sequer aparecem no manual de diagnóstico de transtornos mentais. O neurocientista acredita que, graças em grande parte à sua educação e apoio de sua família, ele tem sido capaz de canalizar suas tendências psicopatas.

“Enquanto eu estiver agressivo, mas a minha agressão é sublimada, eu prefiro bater em alguém em uma discussão do que vencer na briga física.” Segundo a teoria de Fallon, sua capacidade de não agir como um psicopata está enraizada no amor incondicional que seus pais lhe deram. O neurocientista explicou que a mãe teve 4 abortos naturais, antes de tê-lo. “Quando cheguei, me trataram como um garoto de ouro. Eu tive uma infância encantada, nunca fui abusado. Ninguém fez nada de ruim o suficiente para me transformar em um assassino”, disse ele. “Isso mostra que os genes não são uma sentença de prisão.”

Notícia publicada no Portal Terra , em 25 de novembro de 2013.

Jorge Hessen comenta*

James Fallon, neurocientista, professor de psiquiatria e comportamento humano da Universidade da Califórnia, passou anos pesquisando o cérebro de potenciais homicidas. Aos 58 anos de vida acreditava ser uma pessoa “normal”, tendo com referência a família equilibrada e intensa atividade acadêmica. Certa tarde de outubro de 2005, vasculhando exames de pessoas que sofrem desordens psiquiátricas graves, através das imagens cerebrais de assassinos misturados com esquizofrênicos, depressivos e outros cérebros “normais” teve uma singular surpresa. Na análise dos exames se deparou com determinada imagem que revelava o cérebro de um psicopata, todavia identificou que era o seu exame. Surpreendeu-se, afinal foi uma revelação chocante e começou a questionar a própria identidade.(1) Fallon descobriu que o seu cérebro apresenta “inativa” uma área ligada à conduta ética e à tomada de decisão. Observou igualmente que possui genes vinculados à violência.

Sob o guante das surpreendentes descobertas, publicou um livro intitulado “O psicopata no interior”. Na obra esquadrinha alguns argumentos sobre as causas de um homem feliz no casamento e na profissão pode ser um psicopata com as mesmas características genéticas de um serial killer.(2) É difícil determinar precisamente o que faz de uma pessoa um psicopata. Na verdade, a anormalidade mental tem uma variedade de sintomas que nem sequer aparecem no manual de diagnóstico de transtornos mentais. James Fallon acredita que, graças em grande parte à sua educação e apoio de sua família, tem sido capaz de canalizar suas tendências psicóticas.

Para os Espíritos, a nossa “mente é o campo da nossa consciência desperta, na faixa evolutiva em que o conhecimento adquirido nos permite operar”.(3) Destarte, “a mente transmite ao carro físico, a que se ajusta durante a encarnação, todos os seus estados felizes ou infelizes.”(4) Notamos, no neurocientista da Califórnia, que a plenitude do Espírito (estado mental), embora possa ser influenciado pelo universo cerebral, mantém preponderância sobre a “massa cinzenta”. Não fosse assim, seria ele, Fallon, um fantoche do mundo encefálico.

Para André Luiz, o cérebro é o ninho da mente. O cérebro é o veículo da inteligência no mundo carnal, por isso, muitos neurologistas fazem da personalidade um atributo do cérebro, porém sabemos que “a inteligência [individualidade] é um atributo essencial do Espírito”.(5) Kardec, explanando a questão 368, diz o seguinte: “pode-se comparar a ação que a matéria grosseira exerce sobre o Espírito a de um charco lodoso sobre um corpo nele mergulhado, ao qual tira a liberdade dos movimentos.”(6)

Atualmente há diferença essencial entre a neurociência acadêmica e a neurociência Espírita. Enquanto a primeira entroniza no cérebro o quartel-general da personalidade, a segunda faz da estrutura encefálica apenas mais um dos vários órgãos de manifestação do Espírito. Em que pese as limitações das capacidades do Espírito após a sua união com o corpo, por causa da densidade material, o corpo carnal não é mais que o invólucro do Espírito e este, ao se unir ao corpo, conserva os atributos  espirituais. Sem dúvida que o corpo físico é um obstáculo à livre manifestação das faculdades do Espírito, como um vidro opaco se opõe à livre emissão da luz.

Os órgãos são os instrumentos da manifestação das capacidades do Espírito. Essa manifestação está submissa ao desenvolvimento e ao grau de apuro dos atinentes órgãos. O Espírito tem sempre as aptidões que lhe são inerentes e não são os órgãos que lhe dão as capacidades, mas são as faculdades que impelem o desenvolvimento dos órgãos. Deste modo, a distinção das aptidões entre os homens dimana do estágio do Espírito. As qualidades do reencarnado, que pode ser mais ou menos adiantado, constituem o princípio, mas, obviamente, “é necessário ter em conta a relativa influência da matéria, que pode limitar mais ou menos o exercício dessas faculdades.”(7)

Sobre a questão do cérebro humano, o Espiritismo e a neurociência devem se complementar, pois as leis do mundo espiritual e as leis do mundo físico são expressões de uma realidade comum. A neurociência precisa do Espiritismo, tanto quanto o Espiritismo encontra apoio na neurociência; isolados, no estudo do cérebro, não chegarão a um resultado final e se submergirão no labirinto de hipóteses arriscadas. Lembrando, contudo, que o Espiritismo marcha ao lado da ciência, mas não se detém onde a ciência tem seus limites.

Inaceitável é a ciência materialista insistir em algemar o Espírito no cérebro, como se ele fosse um cativo, para ser fartamente dissecado, a fim de ser comprovado que o cérebro é o agente integral da personalidade. Ora, em verdade o Espírito continuamente tem se esquivado incólume desse reducionismo materialista. No século XIX, Kardec, conhecedor das teses de Franz Josef Gall, médico alemão, teórico da frenologia,(8) indagou aos Espíritos o seguinte: “da influência dos órgãos se pode inferir a existência de uma relação entre o desenvolvimento dos do cérebro e o das faculdades morais e intelectuais?” A  resposta dos Mentores Espirituais é fulgente: “Não confundais o efeito com a causa. O Espírito dispõe sempre das faculdades que lhe são próprias. Ora, não são os órgãos que dão as faculdades, e sim estas que impulsionam o desenvolvimento dos órgãos.”(9)

Das relações existentes entre o desenvolvimento do cérebro e a manifestação de certas faculdades, concluíram alguns estudiosos materialistas que os órgãos do cérebro são a própria fonte das faculdades, ideia que tende para a negação do princípio inteligente estranho à matéria. Consequentemente, faz do homem uma máquina sem livre-arbítrio e sem responsabilidade por seus atos, pois sempre poderia atribuir os seus erros à sua organização e seria injustiça puni-lo por faltas que não teriam dependido dele. Ficamos, com razão, abalados pelas consequências de semelhante teoria. Até porque, “a psicologia e a psiquiatria, entre os homens, conhecem tanto do Espírito, quanto um botânico, restrito ao movimento em acanhado círculo de observação do solo, que tentasse julgar um continente vasto e inexplorado, por alguns talos de erva, crescidos ao alcance de suas mãos.”(10)

A Doutrina Espírita esclarece que “os órgãos têm uma influência muito grande sobre a manifestação das faculdades [espirituais]; porém, não as produzem; eis a diferença. Um bom músico com um instrumento ruim não fará boa música, mas isso não o impedirá de ser um bom músico.”(11) O Espírito age sobre a matéria e a matéria reage sobre o Espírito numa certa medida, e o Espírito pode se encontrar, momentaneamente, impressionado pela alteração dos órgãos pelos quais se manifesta e recebe suas impressões materiais”.(12)

Há outra questão a ser considerada a respeito da influência captável pelo cérebro humano. Tais impressões podem advir de outras mentes de “encarnados e desencarnados que povoam o Planeta, na condição de habitantes dum imenso palácio de vários andares, em posições diversas, produzindo pensamentos múltiplos que se combinam, que se repelem ou que se neutralizam. Correspondem-se as ideias, segundo o tipo em que se expressam, projetando raios de força que alimentam ou deprimem, sublimam ou arruínam, integram ou desintegram, arrojados sutilmente do campo das causas para a região dos efeitos”.(13)

Avaliando essas variáveis, é certo que o Espiritismo e a neurociência, no futuro, poderão se entender, não se contradizendo. Todavia, unidas, marchando conectadas, procurando todos os expedientes disponíveis, no sentido de compreender mais profundamente o homem. Caso contrário, a neurociência flutuará em um mar de equívoco, enquanto conceber que o Espirito está amarrado, unicamente, no universo  cerebral. Carece, pois, aos estudiosos distinguirem as causas físicas das causas espirituais nos fenômenos psicológicos, a fim de poder melhor explicar o enigma da função do cérebro humano.

Referências Bibliográficas:

(1) Na época, James Fallon também estava envolvido em um estudo de Alzheimer e havia feito exames de seu próprio cérebro e de familiares;

(2) É um tipo de criminoso de perfil psicopatológico que comete crimes com uma certa frequência, geralmente seguindo um modus operandi. Muitos dos que foram capturados aparentavam ser cidadãos respeitáveis - atraentes, bem sucedidos, membros ativos da comunidade. Geralmente os serial killers demonstram três comportamentos durante a infância, conhecidos como a Tríade MacDonald (Urinam na cama - Enurese noturna, Obsessão por incêndios - Piromania, Crueldade para com os animais);

(3) Xavier, Francisco Cândido. Pensamento e Vida, ditado pelo espírito Emmanuel, RJ: Ed. FEB, 4ª edição, 1975;

(4) _______, Francisco Cândido e Vieira, Waldo. Evolução em Dois Mundos, Ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed. FEB 2003;

(5) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Questão 24, Ed. FEB, 1999;

(6) Idem, questão 368;

(7) Idem, questão 367;

(8) Princípio que alega cada função mental a uma zona do cérebro, sustentando que a própria forma do crânio indica o estado das diferentes faculdades mentais;

(9) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 370, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1999;

(10) Xavier, Francisco Cândido. Roteiro, ditado pelo Espírito Emmanuel, cap. 25 - Ante a vida mental, RJ: Ed. FEB, 1972;

(11) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, questão 372;

(12) Idem, questão 375;

(13) Xavier, Francisco Cândido. Roteiro, ditado pelo Espírito Emmanuel, cap. 25 - Ante a vida mental, RJ: Ed. FEB, 1972.

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.