Carregando...

  • Início
  • ‘Não adianta procurar vida inteligente fora da Terra’

Em seu novo livro, Alone in the Universe: Why Our Planet is Unique (Sozinhos no Universo: Por que Nosso Planeta É Único ), o astrofísico inglês John Gribbin afirma que pode existir vida em outros planetas, mas somente a Terra abriga algum tipo de civilização. Breno Henrique de Sousa comenta.

  • Data :21/04/2012
  • Categoria :

21 de abril de 2012

‘Não adianta procurar vida inteligente fora da Terra’

Em seu novo livro, o astrofísico inglês John Gribbin afirma que pode existir vida em outros planetas, mas somente a Terra abriga algum tipo de civilização

Raphael Veleda

Estamos sós, garante o astrofísico inglês John Gribbin, autor de Alone in the Universe: Why Our Planet is Unique (Sozinhos no Universo: Por que Nosso Planeta É Único , sem edição no Brasil). No livro recém-lançado nos Estados Unidos, o cientista joga um balde de água fria na crença de que há vida inteligente fora da Terra. Gribbin defende que a vida pode existir em outros planetas, sim, porém não complexa e inteligente como em nosso planeta. Para ele, é praticamente impossível que outro astro tenha passado pelos estágios necessários ao desenvolvimento de uma civilização. “A vida surgiu na Terra cerca de 4 bilhões de anos atrás. Mas a civilização só apareceu há cerca de 10.000 anos, e a era industrial, apenas há poucas centenas de anos”, justifica.

O que torna o planeta Terra único, na visão de Gribbin, é uma série de acasos que criaram o ambiente ideal para o surgimento da vida inteligente. A Terra teve a “sorte” de estar relativamente a salvo de uma série de perigos, como buracos negros, estrelas que emitem radiação mortal e supernovas, as enormes explosões de estrelas de grande massa. Além disso, a posição da Terra no Sistema Solar é relativamente protegida das grandes nuvens de meteoritos.

Gribbin também refuta o argumento mais usado pelos defensores de vida extraterrestre: de que em um universo com tantas estrelas e planetas é quase impossível que não exista vida inteligente em pelo menos um deles. “Apesar de a Via Láctea provavelmente ter cerca de um trilhão de estrelas, a enorme maioria delas não possibilita a existência da vida”, diz.

O senhor afirma que deve existir alguma forma de vida fora da Terra, mas não vida inteligente. Por quê? A vida deve ser extremamente comum no Universo, mas a vida inteligente, não. Uma maneira de entender isso é que a vida surgiu na Terra cerca de 4 bilhões de anos atrás, logo após o planeta se formar, mas a civilização só surgiu cerca de 10 000 anos atrás, e a era industrial ainda mais tarde, há poucas centenas de anos.

Um dos argumentos que o senhor usa é o de que existem bilhões de estrelas na Via Láctea, mas 95% delas têm menos massa do que o Sol, o que, se não impossibilita, dificulta muito a vida. Mesmo assim sobram muitas estrelas onde a vida pode ser possível, certo? A maioria das estrelas é menor que o Sol e isso faz com que seja improvável que possibilitem o surgimento de vida. O mesmo ocorre com estrelas muito maiores, que existem em menor número. Mas mesmo nas estrelas parecidas com o Sol, o surgimento da vida é difícil. Nosso Sol apresenta uma variação de brilho muito menor que estrelas similares a ele, e esse é um fator que favorece a vida.

O principal argumento dos defensores da possibilidade de vida inteligente fora da Terra é o número incrivelmente grande de estrelas e planetas. Não é um argumento forte? Não. É um argumento razoável para se dizer que ou somos os únicos ou que a inteligência é algo corriqueiro. E o que sabemos é que há oito planetas e várias luas no Sistema Solar e a vida só é conhecida em um deles.

Há bilhões de galáxias no universo. Qual é a chance da vida ter evoluído de forma inteligente em algumas delas? A discussão no meu livro está limitada à nossa própria galáxia, a Via Láctea. Em um universo infinito, tudo é possível. Mas a vida em galáxias distantes não é palpável para nós. Assim como nós não somos para os seres que possivelmente vivem a milhões de anos-luz de nós. Não vejo como poderíamos superar tamanha distância. A Via Láctea é uma ilha no espaço fora da qual não temos a esperança de conseguir explorar nada fisicamente em nenhuma escala de tempo possível.

O impacto de um meteorito 65 milhões de anos atrás mudou o modo como a vida evoluiu na Terra, extinguindo os seres dominantes e dando a chance para que outros tomassem seu lugar. Esse evento foi o gatilho para o desenvolvimento da vida inteligente? Este é apenas um de muitos fatores. Impactos assim costumam trazer mais danos do que benefícios. Defendo que uma forma diferente de inteligência, evoluída dos dinossauros, poderia ter surgido 60 milhões de anos atrás se esse meteorito não tivesse atingido o planeta.

Mesmo em face de argumentos que o senhor aponta no livro, muitos astrônomos mostram otimismo sobre a possibilidade de encontrar vida inteligente. Essa crença é mais baseada na fé do que na ciência? É baseada mais na fé do que na ciência sim. E não acho que seja uma boa maneira de angariar fundos para pesquisa.

Por que estamos sozinhos no universo?

As principais razões apontadas por John Gribbin para explicar por que nossa civilização provavelmente é única

  1. Um em um trilhão

John Gribbin estima que haja um trilhão de estrelas na Via Láctea. Outros cientistas falam em números um pouco diferentes, mas com certeza existem algumas centenas de milhões de estrelas em nossa galáxia. Se o Sol é um em um trilhão, parece estatisticamente impossível que as mesmas condições que possibilitaram a vida por aqui não tenham ocorrido em outro lugar. Mas, apesar da abundância, estrelas muito mais ou muito menos massivas que a nossa tornam menor a possibilidade de vida, segundo o autor. E 95% delas são menos massivas.

  1. Zona habitável

“Mesmo entre as estrelas parecidas com ele, o Sol não é um astro comum”, escreve Gribbin. “O Sol é estável; seu brilho varia menos do que o de estrelas do mesmo tipo e isso não é nada usual”, complementa ele. Além disso, a estrela “certa” pode não ter planetas rochosos como a Terra orbitando na chamada zona habitável, onde a água pode existir em estado líquido. Uma zona que varia dependendo da idade da estrela. Quando o Sol era mais jovem, a Terra estava quase fora dela.

  1. Buracos negros e nuvens de meteoros

Assim como existe uma zona habitável nos sistemas solares, existe o mesmo na galáxia. O Sol orbita de longe o centro da Via Láctea, onde, acreditam os cientistas, deve existir uma buraco negro super massivo. As estrelas que estão mais próximas desse buraco negro giram em torno dele a velocidades incríveis; um liquidificador cósmico que impossibilitaria a vida. Sem falar na pressão gravitacional do buraco negro, que atrai planetas, estrelas e até a luz para a morte.

A nossa galáxia tem cerca de 100 mil anos luz de diâmetro. O nosso Sistema Solar está a cerca de 27 mil anos luz do centro da galáxia. Se bem perto dele o problema é um super buraco negro, pouco depois, na faixa entre 10 e 20 mil anos luz da região central, uma imensa nuvem de meteoros circula livremente, causando impactos seguidos nos planetas. Apesar de a Terra ter sido atingida por um deles há 65 milhões de anos, o que acabou com os dinossauros e abriu espaço para os nossos ancestrais, Gribbin afirma que os impactos são mais negativos do que positivos, pois interrompem a marcha da evolução. O advento da consciência é um estágio muito avançado da evolução, afirma ele, pois a vida existe no nosso planeta há 4 bilhões de anos e a civilização há cerca de 10 mil anos.

  1. Idade certa

O Sol e o Sistema Solar formaram-se juntos 4,5 bilhões de anos atrás, quando universo tinha dois terços da idade atual (13,7 bilhões de anos). Testes indicam que o Big Bang, evento fundador do Universo, só produziu, em grandes quantidades, hidrogênio e hélio, material que formou as primeiras estrelas. E essas primeiras gerações tiveram de morrer e, por meio de reações químicas, as estrelas mortas produziram elementos como oxigênio, carbono e nitrogênio, indispensáveis para formar um planeta como a Terra.

Perfil

JOHN GRIBBIN

Astrofísico de 65 anos, o britânico John R. Gribbin é um dos mais prolíficos escritores de livros de ciência na atualidade. No Brasil, tem publicados os livros Fique por Dentro da Física Moderna e a biografia Stephen Hawking - Uma Vida Para a Ciência, em coautoria com Michael White.

Estudou ciência, astronomia e astrofísica antes de começar a bem sucedida carreira de escritor. A origem do universo e o nascimento da vida estão entre seus assuntos favoritos.

Matéria publicada na Revista Veja , em 12 de fevereiro de 2012.

Breno Henrique de Sousa comenta*

A Vida Fora da Terra

O astrofísico inglês John Gribbin parece estar na contramão do que afirmam a maioria dos astrofísicos e cientistas. Uma das primeiras estimativas a respeito da existência de civilizações extraterrestres foi a equação de Drake, também conhecida como equação de Green Bank, que diz que o número de civilizações com as quais podemos contatar na via láctea é de 10. A equação de Drake sofreu muitas críticas, dentre elas a de que faz deduções baseadas em dados pouco confiáveis. De fato, mais recentemente, com dados mais atuais, a estimativa caiu para 2 civilizações, entre as prováveis 200 que existem e estão fora da possibilidade de contato. A equação foi uma criação de Frank Drake, astrofísico americano que fez parte do projeto SETI, que busca inteligência extrarrestre.

Nos últimos anos foram descobertos mais de 300 planetas fora do sistema solar, com destaque para o planeta batizado Gisele 581, que se estima ter 5 vezes a massa da Terra e um raio 50% maior que o do nosso planeta. Gisele possui temperaturas próximas às da Terra e existe a possibilidade de ter água em forma líquida, essencial para a existência de vida. Baseado nesses novos dados de descobertas recentes de planetas, o astrofísico Duncan Forgan estima em 361 o número de civilizações existentes apenas em nossa galáxia e cerca de 38 mil fora dela.

Assim falam a maioria das vozes autorizadas, posto que eu, simples comentarista, não tenho nenhuma autoridade para avaliar as colocações do senhor Gribbin. Além disso, se opiniões individuais de cientistas devem sempre ser postas em dúvida, ainda mais cuidado devemos ter com aquelas que são limitantes e restritivas. Afirmações como a de que o telefone não serviria para nada, de que o homem não poderia ultrapassar a velocidade de 20 quilômetros por hora, de que a ciência já havia atingido seu ápice e de que nada mais havia por descobrir e dezenas de outras afirmações desta natureza foram postas abaixo deixando os seus proclamadores no ridículo ou no esquecimento. O cientista deve ter o fascínio de buscar o que se pensava ser impossível e inexistente. Quando um cientista afirma à priori que qualquer coisa simplesmente não existe, não parece muito contagiado pelo espírito científico. Talvez seja um tecnocrata da ciência, mas não alguém que tem alma de cientista.

Se as equações que estimam vida em nossa galáxia são limitadas e inexatas, limitado e inexato será certamente a estimativa de que não há nenhuma civilização inteligente em nossa galáxia. Entre as duas, fico com a primeira que me parece mais lógica, instigante e desafiadora. Parece desgastado o argumento de que seria um absurdo haver vida inteligente apenas na Terra quando existem tantas estrelas e tantos planetas. É como se em todos os mares, apenas uma gota fosse preenchida por vida. O argumento é velho, mas é válido e consistente.

A Doutrina Espírita tem como um dos seus princípios fundamentais e basilares a pluralidade dos mundos habitados. Existem inumeráveis mundos habitados no universo mais e menos adiantados do que a Terra, desde aqueles que se encontram em condições primitivas, como já esteve o nosso planeta; os mundos de provas e expiações – que ainda fazemos parte – os de regeneração – que estamos adentrando; os semi ditosos até os mundos ditosos. Todos os que habitam esses mundos são espíritos filhos do mesmo Deus. São comuns as migrações e emigrações de espíritos entre os planetas, principalmente nas fases de mudança quando os retardatários são exilados e espíritos mais adiantados encarnam para consolidar a nova fase de progresso no planeta.

Sobre esse assunto, sugerimos a leitura de “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, e a obra “A Caminho de Luz”, do espírito Emmanuel, psicografia de Chico Xavier.

TEKNOSPACE – TECNOLOGIA E ESPAÇO. A Equação de Drake. Disponível em: http://teknospace.no.sapo.pt/drake.htm . Consulta realizada em: 17 de abril de 2012.

TERRA. Existe Vida Inteligente em 38 mil Planetas. Disponível em:  http://inconscientecoletivo.net/existe-vida-inteligente-em-38-mil-planetas-estima-cientista/ . Consulta realizada em: 17 de abril de 2012.

  • Breno Henrique de Sousa é paraibano de João Pessoa, graduado em Ciências Agrárias e mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal da Paraíba. Ambientalista e militante do movimento espírita paraibano há mais de 10 anos, sendo articulista e expositor.