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A ciência identificou a base neurológica da sabedoria. A partir da meia-idade as pessoas podem até esquecer nomes, mas tornam-se – acredite – mais inteligentes. Existe outro lado, positivo, das transformações cerebrais trazidas pelo tempo. Cristiano Carvalho Assis comenta.

  • Data :12/09/2011
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Como a idade faz nosso cérebro florescer

A ciência conseguiu identificar a base neurológica da sabedoria. A partir da meia-idade as pessoas podem até esquecer nomes, mas tornam-se – acredite – mais inteligentes

Marcela Buscato. Com Bruno Segadilha e Teresa Perosa

A partir de um certo momento da vida, que, para a maioria de nós, começa depois do aniversário de 40 anos, a grande questão neurológica se resume a uma pergunta: aonde diabos foram parar todos os nomes que eu esqueço? No início, desaparece o nome de uma atriz famosa. Depois, some o nome dos filmes que ela fez. Mais adiante, você não consegue achar no mar de neurônios o nome do famoso marido dela, muito menos o do outro ator, manjadíssimo, com quem ela contracenou em seu trabalho mais célebre. A débâcle ocorre no almoço de domingo em que você se percebe, diante da cara divertida de seus filhos, tentando explicar: “Aquele filme, com aquela atriz australiana, casada com aquele outro ator…”

Essa, você já sabe – ou vai descobrir dentro de algumas décadas –, é a parte chata de um cérebro que bateu na meia-idade. Ela vem junto com muitas piadas e uma dose elevada de ansiedade em relação ao futuro. O que você não sabe, mas vai descobrir nas próximas páginas, é que existe outro lado, inteiramente positivo, das transformações cerebrais trazidas pelo tempo. “Conforme envelhecemos, o cérebro se reorganiza e passa a agir e pensar de maneira diferente. Essa reestruturação nos torna mais inteligentes, calmos e felizes”, diz a americana Barbara Strauch, autora de O melhor cérebro da sua vida . O livro, recém-lançado no Brasil pela editora Zahar, reúne argumentos que fazem a ideia de envelhecer – sobretudo do ponto de vista intelectual – bem menos assustadora do que costuma ser.

Editora de saúde do jornal The New York Times , um dos mais influentes dos Estados Unidos, Barbara resolveu investigar o que estava acontecendo com seu cérebro. Aos 56 anos, estava cansada de passar pela vergonha de encontrar um conhecido, lembrar o que haviam comido na última vez em que jantaram juntos, mas não ter a mínima ideia de como se chamava o cidadão. Queria entender por que se pegava parada em frente a um armário sem saber o que tinha ido buscar. Barbara não entendia como o mesmo cérebro que lhe causava lapsos de memória tão evidentes decidira, nos últimos tempos, presenteá-la com habilidades de raciocínio igualmente surpreendentes. Ela sentia que, simplesmente, “sabia das coisas”, mas, ao mesmo tempo, se exasperava com a quantidade imensa de nomes e referências que pareciam estar sumindo na neblina da memória. Como pode ser?

É provável que essa mesma pergunta já tenha passado pela cabeça de muitos que chegaram aos 40 anos rumo às fronteiras da meia-idade, um período cada vez mais dilatado em que podemos passar um tempo enorme de nossa existência. Com o aumento da expectativa de vida, a fase intermediária da vida, entre os 40 e os 68 anos, tornou-se uma espécie de apogeu. Nesses anos é possível aliar o vigor reminiscente da juventude à sabedoria da velhice que se insinua – desde que se saiba identificar, e abraçar, as mudanças que acometem o cérebro maduro. Ele já não é o mesmo que costumava ser. Mas as mudanças o transformaram num instrumento melhor. “Para o ignorante, a velhice é o inverno; para o sábio, é a estação de colheita”, diz o Talmude .

Matéria publicada na Revista Época , em 1º de julho de 2011.

Cristiano Carvalho Assis comenta*

Através da leitura dessa reportagem, compreendemos que existe uma idade em que a constatação do decréscimo de algumas capacidades cognitivas e físicas nos instigam para preciosos momentos de introspecção e de descobertas íntimas. Na área da Psicologia este período já foi estudado e denominado pelo termo de meia-idade, proposto por Jung. “Estabelecer-se no mundo, cortar os vínculos com a infância que nos ligam aos pais, arranjar um parceiro sexual e iniciar uma nova família constituem, para Jung, a tarefa do indivíduo na primeira metade da vida… No período da meia-idade, que o homem começa a questionar o significado da vida, indagando-se se não haveria alguma coisa mais para se conquistar. Para Jung, se ele quiser alcançar a serenidade e a harmonia interior, iniciando uma nova fase criativa em sua vida, ele deverá voltar-se para o seu inconsciente, a fim de descobrir as renúncias que, conscientemente, realizou para obter o sucesso, reavaliando algumas escolhas.” (Ana Paula Paes, “meia-idade, individuação e organizações”.)

Ermance Dufaux, no livro “Prazer de Viver”, relata sobre a meia-idade: “Evidentemente, fatores de ordem espiritual regulam a natureza desse autoencontro na meia-idade. Independentemente de quaisquer variáveis, este ciclo da existência é marcado por uma crise sem precedentes. Para quem se encontra adormecido nas poltronas cômodas da zona de conforto, ela vem de fora, por meio de dolorosos solavancos em forma de perdas, doença e provas diversas. Para quantos já vêm examinando seu mundo pessoal, ela chega como angústia e depressão, concitando escolhas e exames mais cuidadosos de si.

Depois que o homem e a mulher fazem o trajeto básico das vitórias em família e na profissão, na educação de filhos ou nas realizações sociais, vem essa meia-idade e os devolve a si mesmos. A ocupação principal é a busca da vitória interior.”

Quantos de nós procuramos abafar esta fase buscando prazeres transitórios, trabalhando a toda hora ou nos entupindo de remédios para que essa busca interna não seja feita? Quantos desenvolvem depressões por sentirem um vazio existencial e não conseguindo dar sentido para a vida? Quando entendermos que a vida tem suas fases naturais de mudanças que necessitam de ser aceitas e vivenciadas, seremos mais felizes. Novas situações requerem novos posicionamentos e novas condutas. Isto parece óbvio, mas como é difícil aplicá-lo na prática! Quem nunca desejou prolongar o período da juventude por um tempo indeterminado? Mas a vida e nosso corpo mudam constantemente e nós teimamos em não largar os mesmos pensamentos, reações e comportamento físico de antes.

O que era adequado a uma época não tem de servir necessariamente em outra. A ansiedade pelo “TER” da juventude precisa ser substituído pelo “SER”, pois a maior estabilidade ou um crescente cansaço físico assim o exigirão. Mas evitamos isso a todo o custo pois o sentido da vida que nos é transmitido pela sociedade é o de conquistar a tudo e a todos. Entretanto, a meia-idade e a velhice nos mostram como essas ideias se encontram equivocadas. Então, em muitas ocasiões é despoletada uma luta intensa entre a vontade do espírito, as necessidades do corpo e as exigências do nosso ego. O espírito com sua vontade de crescer e evoluir clama por posicionamentos diferentes. O corpo, como vemos na reportagem, se prepara para raciocínios de maior profundidade e o nosso ego ainda luta para manter a ilusão do mundo que o rodeia. As consequências deste combate íntimo dependem do nosso posicionamento: o desequilibrado, se insistirmos numa luta que nos conduz à revolta, desânimo e depressão; o equilibrado, ao aceitarmos a realidade, fazendo os ajustes necessários que nos empurram para a transformação e para o crescimento espiritual.

Muitas vezes não queremos enxergar que cada momento de nossas vidas tem uma função fundamental no desenvolvimento espiritual e por isso vamos deixando de fazer o que deveria ser feito, adiando e esperando momentos mais propícios. Só que às vezes as contingências da vida nos surpreendem mais cedo do que imaginamos e nos encontramos na necessidade de enfrentar nossas desilusões pós-desencarne, necessitando de novas existências para aprender as lições ainda não assimiladas.

A psicologia estudou, a ciência está descobrindo e o Espiritismo atesta que a vida nos proporciona constantes oportunidades de nos voltarmos para dentro de nós mesmos. Independentemente dos agentes que dão origem a essas oportunidades, alguns orgânicos e outros espirituais, o mais importante é compreender que o objetivo de toda essa revolução fisiológica e íntima é crescermos espiritualmente e moralmente. Aproveitemos todas as oportunidades e ensinamentos que as diversas fases da vida nos transmitem e tenhamos sempre a humildade e a confiança em Deus para conseguirmos aprender.

  • Cristiano Carvalho Assis é formado em Odontologia. Nasceu em Brasília/DF e reside atualmente em São Luís/MA. Na área espírita, é trabalhador do Centro Espírita Maranhense e colaborador do Serviço de Atendimento Fraterno do Espiritismo.net.