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Uma adolescente de 14 anos morreu após ter recebido 80 chibatadas em Shariatpur, cidade a 56 quilômetros de Daca, capital do Bangladesh, como punição por ter tido um relacionamento com um primo que era casado. Jorge Hessen comenta.

  • Data :26 May, 2011
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Menina de 14 anos morre em Bangladesh após receber 80 chibatadas

Uma adolescente de 14 anos morreu após ter recebido 80 chibatadas em Bangladesh, como punição por ter tido um relacionamento com um primo que era casado.

A sentença tinha sido decretada por um tribunal religioso na cidade em que a jovem vivia, Shariatpur, no sudoeste do país, a 56 quilômetros da capital, Daca.

Hena Begum foi acusada de ter mantido uma relação sexual com seu primo de 40 anos de idade, que era casado. Ele também foi condenado a receber cem chibatadas, mas conseguiu fugir.

A adolescente desmaiou enquanto recebia as chibatadas e chegou a ser levada para um hospital local, mas não resistiu aos ferimentos, morrendo seis dias após ter sido internada.

O caso teve grande repercussão no país e provocou protestos de moradores de Shariatpur. Há relatos na mídia de Bangladesh de que Hena, na verdade, foi raptada e estuprada pelo primo.

O imã (clérigo muçulmano) Mofiz Uddin, responsável pela fatwah (sentença) contra Hena, e outras três pessoas foram presas. O caso está sendo investigado.

‘Atos imorais’

Atraídos por gritos de socorro de Hena, moradores locais chegaram a acudir a adolescente. Mofiz Uddine também se dirigiu ao local, juntamente com professores da madrassa (escola de ensinamentos islâmicos) da região.

Os jornais bengalis informaram que em vez de tomar uma ação contra o autor do suposto estupro, os religiosos trancaram a jovem dentro de um quarto. No dia seguinte, o mesmo imã e representantes do Comitê da Sharia, o código de leis muçulmanas, acusaram Hena de ter cometido atos de “sexualidade imoral” fora do casamento.

Os religiosos disseram à polícia que Hena teria sido pega em flagrante quando mantinha relações sexuais com um morador do vilarejo.

Pessoas da família do primo casado também teriam espancado a adolescente, um dia antes da fatwa ter sido decretada.

Autoridades do vilarejo também exigiram que o pai da jovem pagasse uma multa equivalente a R$ 419.

Na quarta-feira, um grupo de moradores de Shariatpur foi às ruas em protesto contra a fatwa e contra os autores da sentença.

“Que tipo de justiça é essa? Minha filha foi espancada em nome da justiça. Se tivesse sido em um tribunal de verdade, minha filha jamais teria morrido”, afirmou Dorbesh Khan, o pai da adolescente.

Punições realizadas em nome da sharia (legislação sagrada islâmica) e decretos religiosos foram proibidos em Bangladesh, país secular, mas de maioria muçulmana, desde o ano passado.

Comitês que obedecem princípios religiosos vêm se tornando influentes em diferentes países com população de maioria islâmica, mesmo sendo ilegais em muitos deses países.

A sentença contra Hena Begum foi a segunda morte provocada por uma sentença ligada à sharia desde que a prática foi proibida pela Corte Suprema de Bangladesh.

Cerca de 90% dos 160 milhões de habitantes de Bangladesh são muçulmanos, dos quais a maior parte segue uma versão moderada do Islã.

Notícia publicada na BBC Brasil , em 4 de fevereiro de 2011.

Jorge Hessen comenta*

No Bangladesh, uma jovem desencarnou após ter recebido 80 chibatadas como punição por ter tido um relacionamento extraconjugal com um primo (casado). A sentença foi decretada por um tribunal religioso de Shariatpur, no sudoeste do país, a 56 quilômetros da capital, Daca. A adolescente desmaiou enquanto recebia as chibatadas e chegou a ser levada para um hospital local, mas não resistiu aos ferimentos, falecendo seis dias após ter sido internada.

O clérigo muçulmano Mofiz Uddin foi o responsável pela fatwah (sentença) contra Hena, e juntamente com outras três pessoas foram presas. Os religiosos disseram à polícia que Hena teria sido pega em flagrante. Porém, Dorbesh Khan, o pai da adolescente dissse: “Que tipo de justiça é essa? Minha filha foi espancada em nome do fanatismo religioso. Se tivesse sido julgada por um tribunal do estado, minha filha jamais teria morrido”, afirmou. Em verdade, punições realizadas em nome da sharia (legislação sagrada islâmica) e decretos religiosos foram proibidos no Bangladesh, por isso, um grupo de moradores de Shariatpur foi às ruas em protesto contra a fatwa e contra os autores da sentença.

Para comentar o fato sob o viés kardeciano é importante destacar que qualquer análise que façamos sobre o comportamento sexual dessa ou daquela pessoa, somos obrigados a lembrar sempre de Deus “que julga em última instância, que vê os movimentos íntimos de cada coração e que, por conseguinte, desculpa muitas vezes as faltas que censuramos, ou reprova o que relevamos, porque conhece o móvel de todos os atos. Lembremo-nos de que nós, que clamamos em altas vozes anátemas, teremos quiçá cometido falta mais grave”(1) do que a pessoa que censuramos.

No caso Hena, alguns dizem que ela sofreu violência sexual, contudo há os que afirmam que houve o adultério cometido pelo primo. De qualquer modo, o episódio remete-nos aos Códigos de Jesus que proclamou a sentença: “atire-lhe a primeira pedra aquele que estiver isento de pecado.”(2) Essa advertência faz da comiseração uma obrigação para nós outros porque ninguém há que não necessite, para si próprio, de indulgência. “Ela nos ensina que não devemos julgar com mais severidade os outros, do que nos julgamos a nós mesmos, nem condenar em outrem aquilo de que nos absolvemos. Antes de profligarmos a alguém uma falta, vejamos se a mesma censura não nos pode ser feita.”(3) É importante observar que Jesus, avaliando equívocos e quedas, nas aldeias do espírito, haja selecionado aquela da mulher, em falhas do sexo, para emitir a sua memorável sentença: “aquele que estiver sem pecado atire a primeira pedra”.

O sábio Espírito Emmanuel explica que “no rol das defecções, deserções, fraquezas e delitos do mundo, os problemas afetivos se mostram de tal modo encravados no ser humano que pessoa alguma da Terra haja escapado, no conjunto das existências consecutivas, aos chamados “erros do amor”.”(4) Penetremos cada um de nós os recessos da própria alma, e, se conseguimos apresentar comportamento irrepreensível, no imediatismo da vida prática, ante os dias que correm, indaguemo-nos, com sinceridade, quanto às próprias tendências. “Quem não haja varado transes difíceis, nas áreas do coração, no período da reencarnação em que se encontre, investigue as próprias inclinações e anseios no campo íntimo, e, em sã consciência, verificará que não se acha ausente do emaranhado de conflitos, que remanescem do acervo de lutas sexuais da Humanidade.”(5)

Por essas razões, personalizando na mulher sofredora a família humana, Jesus pronunciou a inesquecível sentença “atire-lhe a primeira pedra”, convocando os homens, supostamente puros em matéria de sexualidade, a lançarem sobre a mulher infeliz a primeira pedra.

Em verdade quando respeitarmos nosso semelhante em seu foro íntimo, os conceitos de adultério se farão distanciados do cotidiano, uma vez que a compreensão apaziguará o coração humano e a chamada desventura afetiva não terá razão de ser, ou seja, ninguém trairá ninguém em matéria afetiva.

Abstenhamo-nos, sob qualquer  hipótese, de censurar e condenar seja lá quem for em matéria de comportamento sexual. Recordemos que estamos emergindo de um passado longínquo, em que estivemos mergulhados nos labirintos dos desequilíbrios na área afetiva, a fim de que as bênçãos do aprendizado se nos fixem na consciência a Lei do amor. Achamo-nos muito longe da meta por alcançar é bem verdade! Por isso mesmo se alguém nos parece cair, sob enganos do sentimento, silenciemos e oremos a seu benefício.

Qualquer pessoa que se nos afigura desmoronar em delito sentimental sejamos caridosos! Nenhum de nós consegue conhecer-se tão exatamente, a ponto de saber hoje qual a dimensão da experiência afetiva que nos espera no futuro. Silenciemos ante as supostas culpas do próximo, porquanto nenhum de nós, por agora, é capaz de medir a parte de responsabilidade que nos compete a cada um nas irreflexões e desequilíbrios dos outros.

Jamais esqueçamos que todos somos componentes de uma só família (encarnada e desencarnada), operando em dois mundos, simultaneamente. Somos incapazes de examinar as consciências alheias e cada um de nós, ante a Sabedoria Divina, é um caso particular, em matéria de amor, reclamando compreensão. “A vista disso, muitos de nossos erros imaginários no mundo são caminhos certos para o bem, ao passo que muitos de nossos acertos hipotéticos são trilhas para o mal de que nos desvencilharemos, um dia! Abençoai e amai sempre. Diante de toda e qualquer desarmonia do mundo afetivo, seja com quem for e como for, colocai-vos, em pensamento, no lugar dos acusados, analisando as vossas tendências mais íntimas e, após verificardes se estais em condições de censurar alguém, escutai, no âmago da consciência, o apelo inolvidável do Cristo: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei”.”(6)

Referências bibliográficas:

(1) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, item 16, do Cap. X, Rio de Janeiro: Ed FEB, 1991;

(2) João Cp. 8:7;

(3) ______, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, item 13, do Cap. X, Rio de Janeiro: Ed FEB, 1991;

(4) Xavier, Francisco Cândido. Vida e Sexo, ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2000, Cap. 22;

(5) Idem;

(6) Idem Cap. 26.

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal lotado no INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.