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Tragédia na região serrana provocou a morte de mais de 700 pessoas e existem 300 desaparecidas. Estas perdas afetaram a vida de milhares de pessoas, com um sofrimento que se manifesta em vários estágios emocionais. Marcia Leal Jek comenta.

  • Data :29/01/2011
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Sobreviventes da tragédia enfrentam a perda de seus familiares e amigos

A tragédia na região serrana provocou a morte de mais de 700 pessoas e ainda existem 300 desaparecidas. Estas perdas afetaram a vida de milhares de pessoas.

Giuliana Girardi São Paulo

Depois da tragédia, vem um luto coletivo, um sofrimento que se manifesta em vários estágios emocionais.

Leandro não estava em casa no dia dos deslizamentos em Nova Friburgo, mas a mulher, a mãe e o filho de apenas dois anos estavam. Os três morreram em uma área destruída pela enxurrada. Mesmo desesperado, o pedreiro buscou forças e resolveu ajudar os bombeiros no resgate das vítimas. Se tornou um voluntário. “A minha casa está lá em cima. Deus vai colocar em bom lugar. E vejo que várias pessoas, que eu acho que eu chegar a tempo eu poderia tirar eles até mesmo com vida”, acredita Leandro Machado, pedreiro.

Em Sumidouro, o agricultor Valduíno perdeu a mãe, o irmão, a cunhada e três sobrinhos. Voltou ao trabalho para esquecer a dor. “O trabalho ajuda, que a gente trabalha, tem os amigos que nos ajuda. Tem muita família sofrendo”, diz Valduíno Silva, agricultor.

As reações do agricultor Valduíno e do pedreiro Leandro de seguir em frente, mesmo diante de um sofrimento tão grande são normais, segundo os psicólogos.

Em situações trágicas, é comum num primeiro momento, com o impacto da notícia, a pessoa ficar anestesiada, ou seja, ela não acredita, nega o que aconteceu. “Sofre, chora às vezes, mas não tem noção, não deu para ter a vida sem a família toda. Mudou a vida toda”, explica Leila Cury Tardivo, psicóloga.

Segundo a psicóloga, depois da negação, essas pessoas deverão passar por uma segunda etapa na vida. Quando a rotina é retomada e elas se dão conta da situação. O resultado pode ser a revolta, a depressão, uma profunda tristeza. “As pessoas que viveram essa situação diretamente estão submetidas a um estresse trágico, intenso, desmedido”, alerta a psicóloga.

Nesse momento de dor, dizem os psicólogos, o terceiro e último estágio é a aceitação. É viver uma nova realidade, apesar de tanto sofrimento. “Vão poder ter uma nova vida produtiva, vão poder ter vínculos afetivos, vão poder se sentir úteis, vão poder encontrar um motivo porque não morreram, se elas continuaram é porque elas têm uma missão. Então elas vão ter que encontrar ações e de preferência encontrar em grupos”, declara.

Notícia publicada na página do Jornal Hoje , em 20 de janeiro de 2011.

Marcia Leal Jek comenta*

Se fizermos uma pesquisa sobre esta notícia, veremos que muitas pessoas dizem que essas mortes coletivas são culpa de Deus. Já para outras, a maioria, Deus não tem nada a ver com isso. Outra indagação acorre à mente: Por que alguns foram poupados e outros não?

A dolorosa ocorrência na região serrana, provocando a morte de mais de 700 pessoas e ainda existindo 300 pessoas desaparecidas, traz novamente, de forma mais intensa, a pergunta: Por que acontecem essas tragédias coletivas?

Somente o Espiritismo tem as respostas lógicas, profundas e claras que explicam, esclarecem e, por via de consequência, consolam os corações humanos.

Jamais devemos pensar que Deus é injusto, porque senão cai por terra toda e qualquer noção acerca do criador. O Espiritismo nos mostra que Deus é perfeito, e não poderia ser de outra maneira, porque Deus é soberanamente justo e bom, e, neste caso, quando acontece alguma coisa na nossa vida, não foi Deus que programou isso querendo que seus filhos fiquem sofrendo. O nosso destino é a felicidade.

Entretanto, nós mesmos, através de nossas reencarnações sucessivas, cometemos erros e atraímos para nós as leis divinas. Temos que lembrar que Deus institui as leis, e se Ele é eterno suas leis também o são. Quando o ser humano caminha ao contrário das leis divinas, aí sim vem a resposta que ocorre automaticamente.

Temos, como exemplo, nosso planeta. O ser humano o tem agredido tanto, devastando suas reservas naturais, que a resposta vem imediata; são as leis naturais. Com isso, o ar e os rios ficam poluídos, há ameaça de faltar água no planeta. Isso é consequência dos atos humanos, do nosso livre-arbítrio, e quando ocorrem as mortes coletivas, aquelas pessoas que se reuniram estavam com o mesmo tipo de necessidade de vivenciar aquela situação para se libertar do passado. Com isso, com a nossa insensatez, buscamos situações assim tão negativas.

A doutrina espírita nos fala que Deus, na sua magnanimidade, vai propiciar, através de espíritos protetores, a suavização daquelas pessoas que estão passando por extrema dor. Ali estão espíritos protetores porque Deus não instituiu para nós a dor e o sofrimento, e sim a felicidade e o amor.

Àqueles que não têm que passar por esta prova, como exemplo do pedreiro Leandro e muitos outros que não foram citados pela notícia, está sendo oferecida a oportunidade de ressarcir os erros. Eles não são privilegiados. Foi através do livre-arbítrio deles que prepararam sua caminhada.

Mas, e as crianças? Por que elas sofrem?

A criança é um espírito antigo. Ela não é um espírito recém-criado, que está começando a escrever uma nova história. Ela está escrevendo uma nova página no seu livro da vida. E ela está vivendo de acordo com as obras que plantou no passado.

Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, interrogou os Espíritos Superiores quanto às provas coletivas, no item intitulado Flagelos Destruidores, conforme vemos em O Livro dos Espíritos , nas questões 737 a 741, que recomendamos ao leitor o estudo.

Vamos aproveitar esse momento e nos convocar a participar com nossas preces pelos governantes e também pelos demais irmãos que estão neste momento envolvidos nesta situação. A nossa tarefa é transformar o pensamento em torno desta questão, através da oração, envolvendo a todos.

  • Marcia Leal Jek estuda o Espiritismo há mais de 25 anos e é trabalhadora do Centro Espírita Francisco de Assis, em Jacaraipe, Serra, ES.