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Um estudo coordenado por Richard Stephens, da Universidade Keele, na Inglaterra, sugere que, de vez em quando, vale a pena esquecer o que os pais e as aulas de boas maneiras ensinaram: em momentos de dor, xingar pode ajudar, e muito. Jorge Hessen comenta.

  • Data :06 Dec, 2009
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Xingar alivia a dor, sugere estudo de psicólogo britânico

DENISE MOTA colaboração para a Folha de S.Paulo

De vez em quando, vale a pena esquecer o que os pais e as aulas de boas maneiras ensinaram: em momentos de dor, xingar pode ajudar, e muito.

A descoberta partiu de um estudo coordenado pelo psicólogo Richard Stephens, da Universidade Keele, na Inglaterra.

Intrigado com o uso automático de palavrões como reação imediata ao sofrimento físico, Stephens decidiu investigar o papel das expressões ofensivas na resposta do corpo à dor.

Fez um experimento com 67 estudantes: mergulhou a mão deles em um recipiente com água extremamente gelada e deixou que proferissem todos os xingamentos que quisessem. Em um segundo momento, repetiu a experiência, mas não foi permitido que falassem palavrões. Quando xingaram, resistiram por 30 segundos a mais à baixa temperatura.

O estudo constatou que dizer palavrões aumenta os batimentos cardíacos e diminui a percepção da dor. Tais efeitos podem ocorrer porque praguejar induziria no corpo a anulação do vínculo entre medo e percepção da dor. Uma ressalva: recorrer a palavrões não amenizaria os padecimentos de homens acostumados a usar essa linguagem. Para se beneficiar da “boca suja”, é necessário utilizá-la com moderação.

Antes de mergulhar no território do baixo calão, Richard Stephens, 41, já investigou os efeitos cognitivos da ressaca, das repetitivas cabeçadas realizadas por jogadores de futebol e até do hábito de mascar chicletes. Abaixo, trechos da entrevista concedida à Folha .

Folha - O que o levou a pesquisar a relação entre palavrões e dor?

Richard Stephens - Um dia, trabalhando no jardim da minha casa, acertei um dedo com o martelo e minha reação foi falar palavrões. Em outro momento, há quase cinco anos, enquanto minha mulher dava à luz nossa filha, ela xingou um pouquinho e então pediu desculpas. Foi quando uma enfermeira lhe disse: “Não se preocupe, a gente ouve palavrões durante o parto o tempo todo”.

Isso me fez pensar na ligação entre xingamentos e dor. Comecei a ler sobre o que já existia escrito a respeito do tema e, ainda que houvesse trabalhos sobre o porquê de as pessoas xingarem, ninguém tinha se proposto a entender por que as pessoas tinham na dor um estímulo para dizer palavrões.

Folha - Xingar traz analgesia?

Stephens - Xingar é uma linguagem emocional. Quando xingamos, desencadeamos efeitos emocionais nas pessoas e em nós mesmos. E isso pode ser útil para fazer com que sintamos menos dor. O estudo mostra que xingar aumenta os batimentos cardíacos, o que sugere uma resposta emocional.

E outra pesquisa indica que, se você tem uma resposta emocional do tipo “lutar ou fugir” [reação de defesa do organismo quando percebe ameaças externas ou tensões psicológicas internas], então sua tolerância à dor aumenta. O que mostramos é a mesma coisa, mas usando meios diferentes para disparar essa resposta, que foi o palavrão.

Folha - Em seu trabalho científico, o sr. vem se ocupando de aspectos bastante triviais do cotidiano, como chicletes, futebol e palavrões. Por que estuda esses temas?

Stephens - Eu olho para o que acontece no dia-a-dia e penso nessas coisas a partir de uma perspectiva psicológica. E então estudo e investigo o que me parece interessante.

Como professor, descobri que a maioria das coisas são pesquisáveis, e esses assuntos sempre estimulam a imaginação dos meus alunos.

Matéria publicada na Folha Online , em 25 de setembro de 2009.

Jorge Hessen comenta*

Temos ciência do poder que uma expressão verbal exerce sobre nossas emoções. Uma simples palavra, quando dita nas ocasiões “certas”, seja ela de estímulo ou de desestímulo, provoca indícios, em quem ouve, de que pode reagir, positivamente, e modificar a sua maneira de pensar sobre determinada circunstância da vida. Por outro lado, a mera palavra pronunciada em momento “inadequado” pode ser motivo de grandes dores morais. Nós não estamos habituados a refletir, sensatamente, sobre a força atuante que as palavras têm. A palavra, como uma articulação de sons provenientes de um determinado pensamento ligado a emoções e sentimentos específicos, serve como um detonador prático de tudo ligado a ela.

Muitas pessoas creem que o xingar é “apenas” uma resposta instintiva para algo doloroso e imprevisto como, por exemplo, bater a cabeça na quina do armário, uma topada inesperada em algum obstáculo ou, ainda, quando nos vemos diante de alguma frustração ou aborrecimento. Esses são os momentos mais comuns de as pessoas apelarem para as expressões de baixo calão, e muitos pesquisadores acreditam que eles “ajudam” a aliviar o estresse e a dissipar energia, da mesma forma que o choro para as crianças.

Todos os povos e religiões antigas possuíam ou possuem palavras consideradas sagradas e outras malditas, palavras que apresentam um poder de carga vibratória, assumindo mesmo, em certos casos, uma irretroatividade da mensagem, uma vez proferidas. Todos os idiomas possuem palavras obscenas, mas as que são consideradas como tal, o que elas significam e o impacto que elas causam quando pronunciadas mudam com o passar do tempo, assumindo novos sentidos. Em muitas línguas, palavras que, antes, eram consideradas tabus se tornaram comuns e outras passaram a ser entendidas como obscenidades.

Um estudo da Escola de Psicologia, da Universidade de Keele, na Inglaterra, publicado pela revista especializada NeuroReport, afirma que falar palavrão pode aliviar a dor física, posto que acelera o ritmo de batimentos cardíacos, o que pode diminuir a sensação de dor. (!?…) Para comprovar essa estranha tese, o psicólogo Richard Stephens decidiu investigar o papel das expressões ofensivas na resposta do corpo à dor, e propôs, a 64 voluntários, que colocassem suas mãos em baldes de água, cheios de gelo, enquanto falavam um palavrão escolhido por eles próprios. O batimento cardíaco dos voluntários foi medido durante a experiência e, realmente, mostrou-se mais acelerado quando eles falavam palavrões. Um estudo anterior, da Universidade de Norwich, tentou mostrar que o uso de palavrões ajuda a diminuir o estresse no ambiente de trabalho. Para tais estudiosos, falar palavrões provoca, não apenas, uma resposta emocional, mas também uma resposta física. Para tais estudiosos, falar palavrões existe há séculos e é quase um fenômeno linguístico humano universal. (!?..)

Afirmam que, no início da infância, o choro é uma forma aceitável de demonstrar as emoções e aliviar estresse e ansiedade. Conforme as crianças crescem, principalmente os meninos, a sociedade ocidental os desencoraja a chorar, principalmente em público, mas elas, ainda, precisam de um escape para as emoções mais fortes, e é aí que apelam para os palavrões. A sociedade considera que palavrão é coisa de homem e não de mulher. A impressão que se tem é a de que as mulheres, que falam palavrões e xingam, quebram mais tabus sociais do que os homens. Elas também são mais julgadas e condenadas pelo uso de palavras obscenas. A sociedade, em geral, também considera imorais as mulheres que falam palavrões e usam gírias. Estudos demonstram que o hemisfério esquerdo do cérebro é responsável pela linguagem. O hemisfério direito cria o conteúdo emocional. O processamento da expressão verbal é uma “alta” função do cérebro e ocorre no córtex cerebral, que possui áreas pré-motoras e motoras que controlam a fala e a escrita. A área de Wernicke processa e reconhece as palavras faladas. O córtex pré-frontal controla a personalidade e o comportamento social adequado.

Por sua vez, as emoções e instintos são “baixas” funções do encéfalo e ocorrem no interior do cérebro. Muitos estudos sugerem que o cérebro processa os palavrões em regiões mais baixas, junto com as emoções e o instinto.

Cientistas concluíram que, em vez de processar um palavrão como uma série de fonemas, ou unidades sonoras que devem ser combinadas para formar uma palavra, o cérebro armazena os palavrões como unidades inteiras. Portanto, o cérebro não precisa da ajuda do hemisfério esquerdo para processá-las. Falar palavrões envolve, especificamente, o sistema límbico, que, também, hospeda a memória, as emoções e os comportamentos primários e o gânglio basal, que tem grande participação no controle de impulsos e funções motoras.

Estudos com ressonância magnética mostraram que as partes mais altas e mais baixas do cérebro podem brigar entre si quando uma pessoa xinga ou fala palavrão. Por exemplo, cérebros de pessoas que se orgulham de ser educadas respondem a gírias e frases “ignorantes” da mesma forma que reagem a palavrões. Além disso, em estudos em que as pessoas devem identificar a cor em que uma palavra é escrita (no lugar da palavra correta), os palavrões distraem os participantes e os atrapalham no reconhecimento da cor.

Dizem os especialistas, que conseguimos lembrar de palavrões quatro vezes mais do que de outras palavras. Falar palavrões, também, pode ser um sintoma de doença ou um resultado de danos a partes do cérebro.(1) Para muitos estudiosos, a tendência por falar coisas obscenas (palavrões), por qualquer motivo, é um indício de distúrbio, tanto psíquico quanto moral. Em verdade, teoricamente falando, a aparelhagem fonética do ser humano evoluiu em uma direção: a ideal para nosso aprimoramento espiritual.

Dos sons guturais emitidos por nossos antepassados hominídeos, passamos a uma grande gama de vocábulos, cujos significados intrínsecos ou explícitos são muito amplos. Assim, uma oração, oriunda dos bons pensamentos e originada do mais elevado sentimento, é um instrumento para o bem, para a beleza e para a perfeição divina, atuante, em nós, no ambiente e em prol do interlocutor. Contudo, uma maledicência, ou uma acusação, ou, ainda, um xingamento, ou mesmo um termo chulo, consubstanciam uma onda negativa de formas-pensamento, que atuam em moto contínuo, alimentados pela mente e pelos sentimentos, vibratoriamente, similares.

Por isso, fujamos de palavrões! Que de nossa boca sejam apenas emitidas palavras voltadas ao bem e à paz. Para esse objetivo, devemos intensificar o treinamento constante, pois que na vida social estamos viciados a lidar com nossa expressão verbal muito levianamente. Lembremos, porém, que sempre seremos responsáveis pelas consequências, diretas e indiretas, das palavras que proferimos a esmo.

Quem tem sede de se aprimorar, espiritualmente, deve analisar, com critério, o que verbaliza, diariamente. Espíritos elevados não se expressam de forma vulgar, pois fazem uso, unicamente, do verbo elevado.

Referência:

(1) Disponível em http://pessoas.hsw.uol.com.br/palavroes-e-xingamentos4.htm .

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal lotado no INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.