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Todos os rumos de nossas vidas são definidos por decisões. Estudos revelam que a maneira como as escolhas são feitas pode determinar o sucesso ou o fracasso de cada um. Personalidades contam como fazem para tomar uma decisão importante. Claudia Cardamone comenta.

  • Data :22 Nov, 2009
  • Categoria :

A arte de decidir

Estudos revelam que a maneira como as escolhas são feitas pode determinar o sucesso ou o fracasso de cada um. Personalidades contam como fazem para tomar uma decisão importante

João Loes e Suzane G. Frutuoso

Todos os rumos de nossas vidas são definidos por decisões. Não passamos um dia sequer sem fazer escolhas, das mais simples, como que roupa vestir, às mais complexas. Casar ou não casar? Mudar de emprego ou não? Morar em outro país ou ficar onde está? Aguentar firme ou jogar tudo para o alto? Decidir pode influenciar não só os caminhos de quem escolhe, mas também dos que estão próximos ou dependem, de alguma maneira, daquele que deseja fazer modificações pessoais e profissionais. Não é fácil. Pode ser, inclusive, doloroso.

O assunto é tão complexo que já existem especialistas em ciência da decisão. Porém, são principalmente os bons exemplos, como os apresentados ao longo desta reportagem, que servem de inspiração. São brasileiros de destaque em suas áreas de atuação, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o publicitário Washington Olivetto, compartilhando experiências de como agem durante o processo decisório na hora H. E gente comum, como o ourives Thiago Mendes Joazeiro, que se jogou no meio de uma enxurrada para salvar uma desconhecida. Eles contam quais foram as mudanças cruciais enfrentadas em suas trajetórias e como fazem para tomar uma decisão importante.

Uma das novidades mais recentes sobre a tomada de decisão vem de um estudo da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. Os pesquisadores descobriram que, durante o sono, os neurônios fazem novas conexões cerebrais, estimulando a solução de problemas. A expressão “I will sleep on it” (algo como “vou dormir pensando nisso, deixar para amanhã”) dá uma ideia do que os cientistas querem comprovar.

A pessoa encontra uma saída melhor para a dúvida se parar de pensar nela exaustivamente. Dormir é o descanso ideal para o cérebro ativar a criatividade na fase REM (sigla em inglês para o movimento rápido dos olhos). Ela acontece depois dos sonhos. Nesse período, a questão permanece na mente, mas livre de preconceitos que acabam influenciando as decisões quando estamos acordados. “Esse estudo reforça outros trabalhos”, disse à ISTOÉ o psicólogo americano John M. Grohol, um dos entusiastas da tese. “Já existiam evidências de que, quanto mais pensamos sobre um assunto, pior a decisão tomada. No sono, o inconsciente trabalha sem teorias preconcebidas.”

Mas uma boa noite de sono sozinha não faz milagres. Há obstáculos a serem vencidos para que as escolhas sejam equilibradas. Entre eles, está o medo de perder vantagens. “Os pensamentos confusos que limitam as decisões têm origem no temor de ficar sem alguma coisa”, afirma a psicóloga Adriana de Araújo, especialista em hipnose e programação neurolinguística (PNL). Mas isso vai acontecer, independentemente da decisão. É o peso dos prós e contras que tornam as escolhas complicadas. O temor pelas responsabilidades que serão assumidas também é um problema. É preciso dar conta de tudo o que acompanha a nova conquista. Portanto, é essencial ter certeza absoluta de que o desejo não é fogo de palha.

Nada, no entanto, é tão inimigo da tomada de decisão quanto a impulsividade. “A emoção é uma catástrofe nessas horas”, diz o coach Sulivan França, presidente da Sociedade Latino Americana de Coaching. “Quanta gente não chuta o balde no trabalho em um momento emocionalmente tenso, vai para outra empresa e o lugar é pior?” Ele garante que 90% das vezes em que a escolha é impulsiva o resultado é o arrependimento.

Por outro lado, a indecisão pode gerar problemas tão graves quanto a impulsividade ou uma escolha equivocada. Porque quem empurra as decisões com a barriga verá a vida ou alguém decidindo por ele. Parece cômodo, mas não é. O impacto é negativo. “A pessoa pode ver o tempo passar e se sentir frustrada por não realizar nada”, diz Fernando Montero da Costa, diretor de operações da Human Brasil, empresa de orientação profissional. “Ou culpar os outros por algo que tenha dado errado para ela, um considerável prejuízo para suas relações.” Para não delegar a terceiros as próprias decisões, um caminho é se informar ao máximo sobre um assunto para se sentir seguro. Um estudo da Universidade de Sydney, na Austrália, indicou que pacientes menos instruídos e conhecedores de seus problemas de saúde deixam nas mãos dos médicos a decisão pelo tratamento com mais frequência, aceitando sem questionar ou pedir outras alternativas.

A impulsividade é positiva em um cenário muito específico: o de risco.

No livro “Fontes do Poder - O Modo como as Pessoas Tomam Decisões” (Ed. Instituto Piaget), o psicólogo americano Gary Klein mostra que os profissionais próximos do perigo, como bombeiros e policiais, acabam por desconsiderar tudo o que estudaram anos a fio e seguem a intuição em momentos de pressão. Vem à tona o instinto de sobrevivência e a internalização do dever a que o indivíduo se comprometeu ao escolher o ofício. Não importa como salvar. O que importa é salvar. As outras pessoas também estão sujeitas a esse impulso, mas os profissionais treinados podem acessar instintivamente o que aprenderam, sem parar para pensar racionalmente, elevando a chance de essa decisão perigosa dar mais certo.

A tomada de decisão acontece no córtex pré-frontal, área do cérebro responsável, entre outras coisas, por gerar crenças e testar opiniões. É a parte da razão. A lucidez que nos indica o que é coerente e quais são as consequências das nossas ações. E quem consegue decidir sem nem um pouquinho de sentimento? Ninguém, graças à amígdala, região cerebral onde ficam guardadas as memórias ligadas à emoção.

A briga entre o córtex e a amígdala na hora da decisão pode ser compreendida pelos relacionamentos amorosos instáveis. Enquanto um diz “termine, você sabe que será magoado de novo”, o outro insiste: “Ah, lembra daquela viagem romântica, dos momentos tão especiais?” A motivação dirá quem vence a batalha. E ela depende muito de como o indivíduo desenvolveu a necessidade de decisão da infância à vida adulta. Isso inclui aprender a empreender, ter responsabilidades, pesar vantagens e desvantagens e saber perder.

O modelo de escolha saudável é reforçado pelas figuras que cercam cada um de nós. Na última semana, foi divulgada uma pesquisa da Universidade de Nova Gales, na Austrália, indicando que pessoas mal-humoradas e tristes têm melhor capacidade de julgamento. Mas não quer dizer que o sofrimento seja a chave da decisão coerente. O mesmo estudo mostrou ainda que um estado de ânimo positivo facilita a criatividade, outro fator do processo decisório.

Ser indeciso pode ir além de um comportamento inconveniente. Há casos em que a incapacidade de escolha vem da intolerância à incerteza, característica do Transtorno de Ansiedade Generalizado. O futuro é incerto para todos. Mas as pessoas se programam para fazer escolhas e levar projetos adiante da mesma maneira. Para o portador do distúrbio, a falta de certeza causa uma preocupação tão intensa que ele simplesmente paralisa ou sofre por antecipação. “Esse indivíduo pensa que é melhor ficar arrasado antes até de tentar, já que pode não dar certo”, diz o psiquiatra e psicoterapeuta Geraldo Possendoro, professor de atualização profissional em medicina comportamental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Casos assim pedem tratamento com remédio e psicoterapia. Não significa que todo ansioso tem o transtorno. Mas quem depende de se sentir no controle e sofre demais para tomar decisões também pode se beneficiar da psicoterapia. Outro distúrbio caracterizado pela dificuldade de escolha é a personalidade obsessiva compulsiva. Nesse quadro, porém, a indecisão surge devido ao perfeccionismo. Tudo tem que ser feito como a pessoa preestabeleceu. E isso pode demorar. E a decisão nunca chegar. Também aqui remédios e terapia são recomendados.

O uso da razão com a intuição é o melhor método de escolha, dizem os especialistas. Ponderar é fundamental. Assim como considerar sensações baseadas na experiência. A intuição, ao contrário do que muitos imaginam, não tem nenhuma relação com crenças ou poderes paranormais. Ela é reflexo das recordações de situações vividas anteriormente. Também a observação é importante, já que algumas lembranças parecidas são negativas - e isso pode ser traiçoeiro para uma boa decisão. Em geral, todo mundo tem a chance de fazer boas escolhas. É possível, inclusive, aprender a desenvolver esse talento com cursos específicos e terapias. Mas, para chegar lá, é preciso ser honesto consigo mesmo nas avaliações mais íntimas, pesando as emoções que cada possibilidade causa. Como provam os entrevistados, uma decisão acertada se torna uma grande conquista.

A decisão solitária do líder

Fernando Henrique Cardoso, 78 anos, ex-presidente da República (1994 a 2002). Está à frente do Instituto Fernando Henrique Cardoso

“Ao contrário do que muita gente pensa, minha decisão mais difícil no governo não foi a de deixar flutuar o real. Até porque aquilo não foi propriamente uma decisão, mas uma imposição do mercado. Minha decisão mais difícil ocorreu em 1994, quando eu ainda era ministro da Fazenda do presidente Itamar Franco. E foi justamente a de fazer o Plano Real. Havia muita dúvida sobre o sucesso do plano, muitos interesses contrariados e eu poderia ter agido como meus antecessores, que foram acomodando a situação. Houve momentos difíceis, de quase desistência. Mas, nessa hora, por mais que você consulte seus assessores, a decisão do líder é sempre solitária. É ele quem será julgado pela história. Depois disso, os momentos mais complicados foram as demissões de ministros e auxiliares - alguns amigos de várias décadas. Mas, nessas horas, é preciso saber separar a ética pessoal da ética pública.”

Impulso na situação-limite

Thiago Mendes Joazeiro, 23 anos, de São José do Rio Preto (SP), que se jogou em uma enchente para salvar uma desconhecida

“Em retrospecto, posso dizer que me jogar na enchente para salvar uma desconhecida foi a decisão mais difícil que tomei na vida. Sou casado e tenho um filho de três meses. Mas na hora você não pensa em nada. Estava voltando a pé do almoço e começou a chover. Vi uma moça em cima de uma moto sendo puxada pela correnteza. Umas 20 pessoas viram a cena comigo e todas diziam ‘alguém tem que ir lá ajudar’, mas ninguém ia. Aí fui. Um sujeito arrumou uma corda que amarrei na cintura para não ser levado pela correnteza. Foram quase dez minutos de luta para tirá-la da água. Não costumo ser impulsivo, mas acho que em situações limite a gente faz coisas que não entende. Não lembro de ter pensado nos riscos.”

30 segundos para decidir o futuro

Washington Olivetto, 57 anos, publicitário e presidente da W/

“No final de um episódio desagradável que vivi em 2001 (Olivetto passou 53 dias sequestrado - ele não usa a palavra sequestro desde que foi libertado), me dei 30 segundos para decidir se continuaria no Brasil ou venderia tudo para morar no Exterior, longe da violência da qual fui vítima. Esse tipo de coisa, se você não decide de forma definitiva e rápida, o atormenta o resto da vida. Então, nesses 30 segundos repensei os 53 dias e a carreira que construí como publicitário. Vi que o que me alimenta é o meu trabalho e é no Brasil que eu o faço melhor. Continuo na W/, fui pai de novo e vivo uma vida plena. Sou muito intuitivo. Costumo brincar que, em termos de intuitividade, sou uma comitiva de mulheres. Na hora de decidir levo em conta tanto interpretações racionais quanto percepções intuitivas. Se empatar, opto pelo que diz a minha intuição.”

Colaboraram: Greice Rodrigues, Hugo Marques, Leonardo Attuch e Sérgio Pardellas

Matéria publicada na Revista ISTOÉ , em 11 de novembro de 2009.

Claudia Cardamone comenta*

Enquanto esperava meu ônibus na rodoviária, para voltar para casa após um dia de trabalho, resolvi ler uma revista, e uma reportagem da Revista ISTOÉ, de novembro, me chamou a atenção: “Como as Pessoas Decidem. Pesquisas mostram os erros mais comuns na hora de fazer escolhas e o papel da intuição e da razão. Personalidades revelam como agem nesse momento.”

A princípio, parece um tema mais voltado ao segmento de auto-ajuda, sem muito a ver com a Doutrina Espírita, mas a medida que a lia, pude fazer reflexões interessantes a respeito do assunto.

Um comentário do Fernando Henrique Cardoso me chamou a atenção: “… Mas nessa hora, por mais que você consulte seus assessores, a decisão do líder é sempre solitária. É ele quem será julgado pela história…” Mas isto não ocorre apenas com líderes e presidentes, ocorre no dia a dia de nossas vidas. Porém, estas decisões afetam apenas algumas pessoas, pelo menos diretamente. Quando você está em crise no casamento, por exemplo, sem saber se investe ou se separa, pode buscar ajuda de psicólogos, de amigos, de padres e até de atendimento fraterno, porém as nossas decisões serão e são sempre solitárias. Jamais podemos dizer: “Fiz porque fulano disse que era para fazer assim.” Na verdade: “Fiz porque concordei com fulano para fazer assim.”

Outra informação interessante desta reportagem é a seguinte: “… Os pesquisadores descobriram que, durante o sono, os neurônios fazem novas conexões cerebrais, estimulando a solução de problemas. A expressão “I will sleep on it” (algo como “vou dormir pensando nisso, deixar para amanhã”) dá uma ideia do que os cientistas querem comprovar. A pessoa encontra uma saída melhor para a dúvida se parar de pensar nela exaustivamente. Dormir é o descanso ideal para o cérebro ativar a criatividade na fase REM (sigla em inglês para o movimento rápido dos olhos). Ela acontece depois dos sonhos. Nesse período, a questão permanece na mente, mas livre de preconceitos que acabam influenciando as decisões quando estamos acordados. “Esse estudo reforça outros trabalhos " disse à ISTOÉ o psicólogo americano John M. Grohol, um dos entusiatas da tese. “Já existiam evidências de que, quanto mais pensamos sobre um assunto, pior decisão tomada. No sono, o inconsciente trabalha sem teorias preconcebidas…”

E isto não seria como dizer que o espírito não descansa e que durante o sono, ele encontra-se mais liberto do corpo e da influência da matéria, podendo ver as questões terrenas por um ângulo maior e mais completo e assim podendo ter mais informações para tomar a decisão correta sobre uma questão? A ciência demosntrando que o cérebro não descansa e que o inconsciente pensa enquanto nós dormimos me parece estar se aproximando cada vez mais da descoberta “científica” da existência de um espírito imortal e eterno habitando um corpo material e que vive independentemente deste último.

Por fim, uma frase me chamou a reflexão: “Os pensamentos confusos que limitam as decisões têm origem no temor de ficar sem alguma coisa”. Não seria esta a base de todo o medo humano, já que qualquer decisão leva sempre e necessariamente à perda de alguma coisa?

  • Claudia Cardamone nasceu em 31 de outubro de 1969, na cidade de São Paulo/SP. Formada em Psicologia, no ano de 1996, pelas FMU em São Paulo. Reside atualmente em Santa Catarina, onde trabalha como artesã. É espírita e trabalhadora da Associação Espírita Seareiros do Bem, em Palhoça/SC.