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Psicanalista defende que o assunto precisa ser discutido, já que ele é mais freqüente do que se imagina. Compreender e aceitar os conflitos existentes na relação entre pais e filhos é o primeiro passo para contornar as devoluções. Claudia Cardamone comenta.

  • Data :04/01/2009
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A devolução de crianças adotadas

Psicanalista defende que, apesar de delicado, o assunto precisa ser discutido. Compreender e aceitar os conflitos existentes na relação entre pais e filhos é o primeiro passo para contornar as devoluções

Simone Tinti

A devolução de crianças adotadas é um tema bastante delicado e pouco comentado. Mas ele é mais freqüente do que se imagina. Para isso, a psicanalista Maria Luiza Ghirardi investigou o assunto em uma dissertação de mestrado pelo Instituto de Psicologia da USP com o objetivo de apontar algumas dificuldades encontradas pelos pais adotantes. Para ela, entender os chamados fatores de risco é uma ajuda para contornar as devoluções.

Com experiência de 13 anos na área e após entrevistas com pais e mães que adotaram, a psicanalista concluiu que um dos principais fatores envolvidos, e que precisa ser refletido, é a hipervalorização da paternidade. A sociedade contemporânea tende a idealizar a relação entre pais e filhos, acreditando que tudo será impecável e não haverá conflitos. “Os pais pensam que apenas o amor basta, mas não é bem assim. As dificuldades estão sempre presentes em nossas relações, seja no contexto da adoção ou não”, diz a psicanalista. Portanto, falar mais sobre o tema é uma das alternativas para compreender os sentimentos que levam os pais adotivos a desejarem devolver as crianças. “Os conflitos também existem entre pais e filhos biológicos. Ao falar sobre as dificuldades, podemos encontrar caminhos e alternativas para situações que, muitas vezes, são vividas no isolamento e na solidão. Muitos acreditam que, ao deixar de falar sobre as dificuldades, elas deixarão de existir”, afirma Maria Luiza. Ou seja, ao aceitar os problemas, os pais se sentem mais livres para buscar ajuda, seja com psicólogos ou técnicos judiciários.

O objetivo de Maria Luiza, inclusive, é auxiliar esses profissionais a preparar os pais sobre o que realmente significa a adoção - que deve ser considerada um processo irrevogável. Para isso, é importante acolher as dúvidas deles, que geralmente iniciam o processo angustiados, por terem tentado um filho biológico e não conseguirem. “A adoção possibilita a experiência da paternidade, mas ao mesmo tempo, lembra aos pais o porquê de não terem filhos biológicos. É uma dualidade constante. Para que a criança seja efetivamente assumida, é necessário, ao mesmo tempo, lembrar e esquecer dessa questão, e nunca usar a origem da criança em momentos de conflito”, explica. Com esse acompanhamento próximo, é mais fácil evitar as devoluções, caracterizadas como sofrimento tanto para os pais quanto para as crianças.

Outro fator de risco é a demora no processo de destituição do poder familiar. Até que a criança seja completamente desvinculada de seus pais biológicos, os pais adotivos podem se sentir inseguros. “Eles podem ter receio de se ‘apegar’ à criança ou de que logo ela precise voltar para a família biológica”, diz. Um novo projeto de lei em tramitação busca diminuir o tempo de espera pela destituição, tornando o processo de adoção mais rápido e menos burocrático.

Atualmente, a Justiça permite a devolução apenas em casos de rejeição muito intensa, uma vez que a prioridade é manter a criança na família adotiva. A psicóloga também afirma que a própria criança pode não se adaptar. Mas é possível que, em alguma situação, a devolução seja a melhor saída? Maria Luiza acredita que sim. “Para a criança, pode ser melhor retornar à situação anterior do que permanecer com uma família que a rejeita, quando os conflitos atingem um nível insustentável”, diz. No entanto, para que essa rejeição seja realmente definida, é preciso uma análise cuidadosa por parte do Judiciário e é muito importante a ajuda de um psicólogo.

Matéria publicada na Revista Crescer .

Claudia Cardamone comenta*

Esta notícia comenta aspectos sobre a devolução de crianças adotadas. Antes de falarmos sobre os aspectos espirituais do assunto, são necessários alguns esclarecimentos. De acordo com o Manual de Adoção, elaborado pela Associação dos Magistrados Brasileiros:

“A família biológica pode conseguir seu filho de volta depois da adoção?

Não, depois de dada a sentença da adoção pelo juiz, ela é irreversível, e a família biológica perde todo e qualquer direito sobre a criança/adolescente. Mas a família biológica poderá ter sua criança de volta se a sentença não tiver ainda sido dada e se, por ato judicial, provar que tem condições de cuidar de seu filho.

A adoção é para sempre?

Sim, segundo a ECA (Estatuto da criança e do adolescente), a adoção é irrevogável, mas os pais adotivos estão sujeitos à perda do poder familiar, pelas mesmas razões dadas aos pais biológicos."

E como bem coloca Sônia M. Mazzetto Moroso, Juíza de Direito da Vara da Família, Órfãos, Infância e Juventude de Balneário Camboriú - SC, no seu artigo Trajetória da Adoção: Razões e Emoções: “adotar alguém não é resposta às mazelas da sociedade, à pobreza, à miséria humana. A adoção não é resposta à necessidade que alguns têm de se fazer caridade. A adoção não pode ser movida por sentimentos altruístas, portanto, ou de pena, de revolta por práticas governamentais ou administrativas equivocadas. Adotar não é sinônimo de generosidade. A adoção é sublime, ímpar, plena. A adoção é movida por um único sentimento: o amor. E por um único desejo: ser pai ou ser mãe. Ponto.”

No Manual de Adoção encontrei esta ressalva:

“Todos os pais, adotivos ou biológicos, assumem riscos, criam expectativas e sonhos em relação aos filhos. Surpresas, dificuldades e decepções sempre poderão ocorrer de ambas as partes. Diante das dificuldades encontradas, alguns pais experimentam a fantasia de devolvê-los. Apesar da irrevogabilidade da sentença da adoção, a devolução da criança ou do adolescente é uma realidade em alguns contextos da adoção e compromete a continuidade do vínculo pais/filhos. A ameaça de que venha a ser devolvido imprime na criança/adolescente uma reedição de sua vivência de abandono, trazendo dor e sofrimento a todos os envolvidos.”

Como espíritas, como podemos compreender a adoção?

Richard Simonetti afirma: “Há Espíritos que reencarnam para serem filhos adotivos. Esta situação faz parte de suas provações, geralmente porque no passado comportaram-se de forma indigna em relação aos deveres familiares. Voltam ao convívio dos companheiros do pretérito sem laços de consangüinidade, o que para os Espíritos de mediana evolução representa sempre uma provação difícil, destinada a ensiná-los a valorizar a vida familiar.”

A adoção é uma prova com características distintas e particulares a cada um. A devolução de uma criança adotada é na verdade o recuo frente a uma prova, é o exercício do livre-arbítrio e que onerará o indivíduo com novos débitos.

Hermínio Miranda, no livro “Nossos Filhos são Espíritos” relata:

“Ainda na condição de espírito, no intervalo entre a existência anterior e a que estava sendo planejada, a pessoa decidiu nascer de determinado casal porque sabia serem eles possuidores de melhor material genético a oferecer-lhe, proporcionando-lhe as condições fisicas e mentais de que ela pretendia ser portadora. Sabia mais, contudo: que o tipo de ambiente desejado para sua educação só poderia ser proporcionado por outro casal, obviamente de seu conhecimento também. O projeto elaborado consistiu, portanto, em nascer de determinado casal e ser adotada pelo outro. O esquema previa, ainda, o nascimento no sexo masculino, o que acabou não se concretizando por causa de uma atitude confessadamente impaciente do espírito renascente.”

Pela própria característica do orbe em que estamos, a maioria das provas são também expiações. Assim como os filhos biológicos muitas vezes são espíritos devedores ou a quem devemos, os filhos adotivos o são igualmente, numa prova que em alguns aspectos pode ser mais difíceis.

  • Claudia Cardamone nasceu em 31 de outubro de 1969, na cidade de São Paulo/SP. Formada em Psicologia, no ano de 1996, pelas FMU em São Paulo. Reside atualmente em Santa Catarina, onde trabalha como artesã. É espírita e trabalhadora da Associação Espírita Seareiros do Bem, em Palhoça/SC.