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Rosa Neves não tem saudades do tempo em que trabalhava na praia de Copacabana vendendo cerveja, refrigerante e sanduíche. Também não sente nenhuma falta do período em que morava nas ruas do Rio. André Luiz Rodrigues dos Santos comenta.

  • Data :30/12/2008
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Ex-menina de rua vira empresária em Roma

Valquíria Rey De Roma para a BBC Brasil

Rosa Neves, de 38 anos, não tem saudades do tempo em que trabalhava na praia de Copacabana vendendo cerveja, refrigerante e sanduíche natural. Também não sente nenhuma falta do período em que morava nas ruas do Rio de Janeiro.

Há 23 anos vivendo em Roma, a carioca se considera uma das poucas brasileiras que se deram bem no país sem recorrer à prostituição.

“Me formei em fotografia na Itália e, há anos, vivo disso. Tenho meu estúdio fotográfico no centro histórico da cidade, trabalho com uma agência matrimonial e também como consultora de estilo”, contou a carioca, que investe tudo o que ganha no Brasil.

“Comprei terras em Itajaí, em Santa Catarina, uma casa na Bahia e estou concluindo a compra de mais outra casa e de três terrenos”, disse à BBC Brasil.

Oportunidade

Quando era criança, para evitar a longa jornada até Niterói (município vizinho ao Rio), onde vivia sua família, Rosa dormia em qualquer lugar: na praia ou na casa de amigos, que conhecia nas ruas e moravam em favelas.

“Costumava também fazer amizade com os porteiros dos prédios residenciais e pedia a eles para dormir em qualquer cantinho”, lembra.

A vida dela começou a mudar aos 11 anos, quando conheceu uma família italiana em frente a um luxuoso hotel.

“Eles se interessaram por mim, não entendiam como uma criança poderia estar trabalhando nas ruas, queriam saber se eu estudava, estavam dispostos a me ajudar”.

Da amizade, surgiu, um ano depois, o convite para trabalhar como mensageira na agência de turismo de propriedade dos italianos no Rio de Janeiro.

Aos 15 anos, ela viajou com essa família para a Itália, onde retomou os estudos e começou a trabalhar como babá. Com quase 16, conheceu o ex-marido e se casou com ele quando completou 18 anos.

“Me acostumei com a vida aqui. Gosto da segurança que o país proporciona. Mas é só isso. Estou na Itália por causa do meu trabalho. Não tenho afinidade com os italianos”, disse.

“Meu sonho é voltar para o Brasil o mais rápido possível, montar uma parceria com um fotógrafo e vir para cá de vez em quando”, contou.

A fotógrafa afirma que não gosta de muita coisa na Itália. Reclama da falta de tempero na comida e diz que os italianos não sabem se divertir, namorar ou conquistar uma mulher.

Rosa lembra que, quando chegou ao país, os italianos não tinham preconceito contra estrangeiros. Mas tudo começou a mudar com a chegada dos travestis e das mulheres na prostituição.

“Antigamente, éramos tratados como novidade na Itália, porque éramos poucos e discretos. Hoje, é um pouco diferente. Quando eles encontram uma brasileira, automaticamente, pensam que ela está aqui para se prostituir, é pobre, é mulher fácil”, explicou.

Carreira

A brasileira começou a trabalhar com fotografia em 1996, depois que seu casamento chegou ao fim, e nunca mais parou. Primeiro, trabalhou como ambulante e funcionária de uma agência de fotos, até que, em 2002, abriu seu primeiro estúdio.

Além do trabalho, há mais de sete anos, Rosa trabalha como voluntária todos os domingos numa instituição de caridade que ajuda pessoas com deficiência física.

“Certa vez, em 2004, o papa João Paulo 2º esteve lá. Nunca esqueço. Ele falou em português ‘eu gosto muito do Brasil, terra maravilhosa’. Eu complementei: ‘você sabia que Deus é brasileiro?’. Ele só riu e não falou mais nada”, disse ao recordar que tirou uma foto ao lado do papa.

Passados 23 anos na Itália, Rosa não sabe como seria sua vida hoje se não tivesse saído do Brasil. No entanto, ela afirmou que, provavelmente, sua trajetória no Brasil não seria muito diferente, pois “batalharia do mesmo jeito, independente do país em que estaria morando”.

Notícia publicada na BBC Brasil , em 26 de março de 2008.

André Luiz Rodrigues dos Santos comenta*

O potencial moral e intelectual do ser humano, ou melhor, o potencial espiritual de cada pessoa é o que determinará seu destino.

Fala-se muito nos dias atuais a respeito da formação do caráter de um indivíduo relacionado ao meio em que vive. Ambientes violentos geram violência, ambientes fraternos geram fraternidade, etc, mas há de se considerar que, embora se saiba que o homem é moldado conforme os exemplos que lhe são apresentados, isso não anula os valores (ou a falta deles) que traz em si, e esse é um diferencial significativo.

Separar, por exemplo, o certo do errado e persistir em manter uma postura equilibrada diante dos incontáveis assédios comportamentais negativos de determinado meio é uma característica de uma consciência que apresenta progressos. Pergunta-se: Por que há diferença entre pessoas de um mesmo grupo, se todos sofrem a mesma influência? Por que umas seguem um caminho enquanto outras optam por seguir direção oposta? Além da variedade e graduação das aptidões, por que há essa distinção de consciência e de valores?

A vida em sociedade traz hábitos e tendências que a maioria, pela própria influência que todos exercem uns sobre os outros, procura seguir. É um comportamento que a psicologia explica classificando os indivíduos como seres gregários, ou seja, necessitam de viver em sociedade, precisam estar em constante contato com o outro para desenvolver o conjunto de faculdades e virtudes que traz em estado latente. Procura-se, nesse sentido, seguir tendências pela busca de aceitação e afinidades dentro de uma comunidade, onde terá proteção e conforto. No homem primitivo, era mais patente essa visão, pois a grande maioria agia uniformemente em função da sobrevivência coletiva. Hoje, porém, saímos desse aspecto básico para entrar no cultural e social; mas a necessidade de seguir as massas se mantém.

Desse raciocínio, entende-se que a mente em formação (fase infantil), iniciando seu reconhecimento como ser social, tem grande potencial para absorver tudo o que é apresentado. As ruas das grandes cidades são, sem qualquer dúvida, um ambiente altamente hostil para a vivência de qualquer ser, e a criança segue o fluxo comportamental do meio por reflexo e pela própria incapacidade de julgar o saudável e o nocivo, mas na aparente fragilidade infantil ocultam-se experiências e aquisições espirituais, que estão sempre vivas e ativas em seu inconsciente como referências, e é nesse contexto que se encontram os sobreviventes e, mais além, os vencedores das mazelas sociais.

Certamente, as oportunidades e auxílios facilitam o percurso, mas engana-se quem acredita em sucesso sem trabalho e valores. Se todos os que viveram a mesma experiência tivessem a mesma assistência, poucos avançariam na direção do sucesso, pois a semente só germina se encontra campo fértil para se desenvolver. Quando há o forte desejo de seguir um caminho, coragem e esforço, qualquer indivíduo é capaz de realizar.

O meio influencia, mas não determina.

*André Luiz Rodrigues dos Santos é paulista, espírita desde 1991, militar e professor. É membro da Equipe Espiritismo.net, atuando nas áreas de Atendimento Fraterno, divulgação e estudos doutrinários no meio virtual.