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Os estudos mostram que o dinheiro exerce ‘um papel pequeno’ na verdadeira felicidade de uma pessoa. Na verdade, a intimidade e a vida familiar são sacrificadas em nome do prover para a família. Sergio Rodrigues comenta.

  • Data :22/07/2008
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Não é fácil ser um bilionário

Michael Johnson* Em Bordeaux, França

Um bilionário de Seattle para o qual já trabalhei enfrentou dificuldades financeiras há dois anos, quando seus negócios começaram a ruir.

Ele teve que vender sua ilha particular e se livrar de seu iate (um dos maiores do mundo) ao mergulhar em relativa pobreza.

Meu ex-empregador, um magnata da telefonia celular, agora saiu da mais recente lista de bilionários da revista “Forbes” enquanto luta para se manter. Só lhe restam algumas poucas centenas de milhões e ele não é um homem feliz.

Apesar da riqueza extraordinária deste empreendedor e outros de sua liga, ela nunca parece lhes proporcionar serenidade. Eles sabem quão rapidamente pode ser perdida, o que os faz perguntar: “Por que o suficiente não é realmente suficiente?”

Até mesmo detentores de velhas fortunas são atormentados por esta pergunta. Um consultor amigo meu, que antes trabalhava para Nelson Rockefeller, lembra de tê-lo ouvido se queixar de seus ataques recorrentes de insegurança.

A riqueza líquida pessoal de Rockefeller era de cerca de US$ 3 bilhões. Ao ser perguntado quanto precisava para poder relaxar, Rocky fez uma breve pausa e disparou: “Quatro bilhões devem dar”, ele disse.

A dinastia Rothschild tinha problemas semelhantes. Trabalhando para a “Business Week”, eu certa vez me encontrei separadamente com os ramos francês, britânico e suíço da família. Me chamou a atenção a briga familiar em torno de como transformaram sua grande fortuna em pequenas fortunas.

Um membro do ramo suíço da família me confidenciou seu desprazer com seus parentes franceses, que conseguiram perder dinheiro em imóveis franceses. “É realmente preciso se esforçar para conseguir isso”, ele disse.

Eu suspeito que não exista algo como ter dinheiro suficiente. Na verdade, muitos dos super-ricos concordam que quanto mais você tem, mais você se preocupa a respeito. Suas histórias estão em um grande livro, “Riquistão”, de Robert Frank.

Frank cita um empreendedor americano, identificado apenas como George, como tendo dito que ele e outros bilionários (1.125 deles segundo a última contagem da “Forbes”) sofrem com uma combinação de cobiça e medo. “Se as pessoas ficam preocupadas, é parte do que as motiva”, George é citado como tendo dito. “Nós estamos sempre preocupados.”

Certamente não basta mais ser milionário. A equipe da “Forbes” disse que já existem mais de 8 milhões de americanos nessa lista, de forma que o que importa agora é a lista dos bilionários, mesmo que apenas como esporte de espectador. Alguns dos concorrentes da Microsoft adoraram ver Bill Gates ser derrubado do topo da lista neste ano pelo investidor de Omaha, Warren Buffett (US$ 62 bilhões), e pelo magnata mexicano de telecomunicações, Carlos Slim Helu (US$ 60 bilhões). Gates caiu para terceiro, com US$ 58 bilhões.

Os bilionários não são apenas americanos. Indianos, russos e chineses estão despontando em números crescentes entre os super-ricos.

Mas com grandes riquezas pode vir grande desconforto, segundo pessoas que estudaram a psicologia da riqueza. O principal problema é a “affluenza” - a culpa em relação ao abismo entre os muito ricos e as demais pessoas.

Um segundo problema é a compulsão para continuar a acumular ainda mais. O dr. Paul Wachtel, professor de psicologia do City College e City Graduate Center de Nova York, examinou este problema em seu famoso trabalho, “Full Pockets, Empty Lives” (bolsos cheios, vidas vazias), no “American Journal of Psychoanalysis”.

Wachtel reconheceu que o dinheiro pode ser um símbolo de sucesso, mas ele identifica a inveja e a ganância como os motivadores escondidos por trás do anseio por mais e mais dinheiro.

“A busca pelo dinheiro e bens materiais como meta central da vida cobra um preço bem alto”, ele escreveu. Os estudos mostram que o dinheiro exerce “um papel notavelmente pequeno” na verdadeira felicidade ou bem-estar de uma pessoa. Na verdade, a intimidade e a vida familiar são freqüentemente sacrificadas em nome do prover para a família.

E a inveja alimenta o impulso da ganância, argumentou Wachtel: “Nós podemos querer não apenas o que os outros têm, mas muito mais do que os outros têm, ou mais apenas pelo mais”.

Eu falei recentemente com Wachtel e perguntei a ele para onde a cultura da riqueza estava levando. As pessoas na faixa de renda dos seis dígitos têm problema em controlar a busca por mais, ele disse: “Elas se tornam escravas da manutenção do nível material que conseguiram. Se torna uma esteira mecânica sem prazer”.

Ele tinha alguns conselhos para os ricos infelizes. “Se os 5% mais ricos trabalhassem dois terços do que trabalham, e ganhassem dois terços do que ganham, suas vidas seriam imensuravelmente mais ricas”, ele disse. “O tempo, eles descobririam, é um bem muito mais valioso do que o dinheiro.”

*** Michael Johnson é um redator da “Business Week” que vive em Bordeaux.**

Tradução: George El Khouri Andolfato

Notícia publicada no Portal UOL , em 3 de abril de 2008.

Sergio Rodrigues comenta**

O pano de fundo da matéria é a insatisfação dessas pessoas ao constatarem que a fortuna acumulada ao longo dos anos não consegue proporcionar-lhes a felicidade que imaginavam poder alcançar com o amontoamento de dinheiro. São bilhões de dólares, muitas das vezes ganhos à custa da exploração do semelhante, como rotineiramente acontece no capitalismo desumano praticado em suas respectivas sociedades e que não conseguiram comprar-lhes a felicidade.

E qual é a origem dessa infelicidade, embora vitoriosos na corrida pela conquista da única coisa que lhes sensibiliza? É que desconhecem a sua natureza existencial e não sabem para que realmente vieram à Terra. Têm aquela percepção tacanha de que a vida é para ser “aproveitada” e aproveitar a vida para eles é, unicamente, desfrutar dos bens materiais que a vida terrena nos proporciona. Acontece que ninguém consegue “aproveitar” a vida dessa maneira o tempo todo. Há um momento em que o ter não consegue preencher o vazio da existência. Por essa razão, os Espíritos ensinam que a prova da riqueza é tão difícil quanto a da miséria. “A riqueza e o poder fazem nascer todas as paixões que nos prendem à matéria e nos afastam da perfeição espiritual”, comenta Kardec, como a inveja, a ambição e a avareza, acrescentamos nós.

Aprendemos que somente a perfeição espiritual pode nos conduzir à verdadeira felicidade, aquela que é definitiva e que, uma vez alcançada, jamais a perdemos. Na Terra, não é possível ao homem gozar de completa felicidade. A felicidade terrena consiste na posse do necessário à vida material e, no campo moral, a consciência tranqüila e a fé no futuro. Pelas manifestações citadas na matéria, vemos que, relativamente à vida material, todos têm muito além do necessário. Contudo, estarão eles com a vida moral em dia? Terão a consciência tranqüila quanto ao modo como ajuntaram tanto dinheiro? Conhecem a vida futura que os aguarda?

A perspectiva de um momento para outro verem-se despojados da riqueza, seja por um acontecimento fortuito ou por terem que deixar a vida física, traz-lhes insegurança e chibateia-lhes o espírito.

Se possível nos fosse ser ouvidos por esses senhores, diríamos que nunca é tarde para mudarem o rumo de suas existências, mudando o objeto de suas riquezas. Em vez de recursos amoedados, que podem se esvair a qualquer instante, que passem a acumular a verdadeira e definitiva riqueza, aquela que Jesus ensinou que os ladrões não roubam, as traças não consomem nem a ferrugem corrói, que são os valores do espírito.

** Sergio Rodrigues é espírita e colaborador do Espiritismo.Net.