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  • Irlandês se enterra vivo e transmite impressões de dentro do túmulo pelas redes sociais

Para muitas pessoas, a simples ideia de ser enterrado vivo já é suficiente para causar pesadelos. Mas um irlandês passou três dias a três palmos do chão. Jorge Hessen comenta.

  • Data :05/04/2017
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Para muitas pessoas, a simples ideia de ser enterrado vivo já é suficiente para causar pesadelos. Mas um irlandês passou três dias a três palmos do chão.

John Edwards se voluntariou para deitar em um caixão que foi fechado e enterrado no terreno de uma igreja de Belfast, capital da Irlanda do Norte.

Mas ele não esteve sozinho lá embaixo - o caixão foi especialmente adaptado para que ele pudesse transmitir a experiência ao vivo pelas redes sociais.

Durante as 72 horas, ele alcançou pessoas ao redor do mundo com a ajuda do Skype, Facetime e uma câmera ao vivo.

“Foi absolutamente inacreditável”, disse ele ao jornal irlandês Belfast Telegraph . “Eu falei com pessoas na China, Brasil, Índia, Nigéria, Canadá, Equador e Austrália”.

Mensagem aos desesperados

Seu objetivo foi enviar uma mensagem de alento e esperança a pessoas em desespero. Edwards, de 61 anos, é um ex-dependente de drogas e ex-alcóolatra que não bebe há mais de duas décadas.

No passado, enfrentou abuso sexual, viveu na rua, recebeu tratamentos para distúrbios mentais e sobreviveu a várias overdoses.

Ele também sobreviveu a dois cânceres e a um transplante de fígado após desenvolver hepatite C por causa de uma agulha contaminada.

Depois de passar pelo que descreveu como um “incrível encontro com Deus há 27 anos”, ele criou vários centros cristãos de reabilitação e abrigos para moradores de rua.

Seu hábito de se enterrar vivo é “meio que um truque”, mas ele acredita que a iniciativa tem uma mensagem série por trás.

“Quero chegar ao maior número possível de desesperados”.

Edwards perdeu mais de 20 de seus amigos por conta de abuso de drogas e de álcool e suicídios. Hoje, ele se dedica a aconselhar e rezar com pessoas em situações de desamparo e desespero.

Por três dias, sua mensagem de “esperança” saiu do túmulo do terreno da igreja de Willowfield. Ele recebeu chamadas, mensagens de texto e e-mails de pessoas que buscam ajuda.

Edwards não é claustrofóbico, mas, antes da experiência, estava um pouco apreensivo sobre ser enterrado vivo.

“Quando a tampa é fechada, você está sob o solo e ouve a terra cobrindo o caixão… é estranho”, admitiu.

Tudo correu bem

Depois de ser desenterrado, ele contou ao jornal irlandês que se sentia um pouco “tonto e trêmulo”, mas que estava bem.

A estrutura de madeira usada na experiência era mais espaçosa do que a média dos caixões - com 2,4m de comprimento, 1m de altura e 1,3m de largura.

Ela estava equipada com um banheiro improvisado e um tubo que garantia acesso a ar e a passagem de água e alimentos.

Este não foi o primeiro autoenterro de Edwards. No ano passado, ele passou três dias em um caixão sob o solo na cidade de Halifax, na Inglaterra.

Notícia publicada na BBC Brasil , em 7 de março de 2017.

Jorge Hessen* comenta

Em que pese o desígnio altruístico de John Edwards, é evidente que agiu de forma irracional ao se permitir enterrar vivo por três dias, visando gritar o brado da “esperança” para as pessoas em desespero. A rigor, tal manifesto não faz sentido lógico sob qualquer análise racional. Entretanto, deixando de lado essa insanidade (sepultar-se vivo), vislumbremos os efeitos positivos da transformação de sua vida pessoal.

Importa reconhecermos que os diversos núcleos de reabilitação e abrigos para moradores de rua, instituídos por John, são passaportes pujantes para auto conquista da paz espiritual. Nisso Edwards acertou em cheio, pois embrenhou-se no orbe da solidariedade através do compartilhamento de um sentimento de identificação em relação ao sofrimento alheio. Não apenas reconheceu a situação delicada dos moradores de rua, mas também auxiliou essas pessoas desamparadas.

Sabemos que os males que afligem a Humanidade são resultantes exclusivamente do egoísmo (ausência de solidariedade). A eterna preocupação com o próprio bem-estar é a grande fonte geradora de desatinos e paixões desajustantes. A máxima “Fora da Caridade não há Salvação”(1) é a bandeira da Doutrina Espírita na luta contra o egoísmo. Nesse sentido, a solidariedade é a caridade em ação, a caridade consciente, responsável, atuante, empreendedora.

Os preceitos espíritas contribuem para o progresso social, deteriora o materialismo, faz com que os homens compreendam onde está seu verdadeiro interesse. O Espiritismo destrói os preconceitos “de seitas, de castas e de raças, ensina aos homens a grande solidariedade que deve uni-los como irmãos”.(2) Destarte, segundo os Benfeitores espirituais, “quando o homem praticar a lei de Deus, terá uma ordem social fundada na justiça e na solidariedade”.(3)

A recomendação do Cristo “que vos ameis uns aos outros como eu vos amei”(4) assegura-nos o regime da verdadeira solidariedade e garante a confiança e o entendimento recíproco entre os homens. A solidariedade na vida social é como o ar para o avião.

É imprescindível darmo-nos, através do suor da colaboração e do esforço espontâneo na solidariedade, para atender, substancialmente, as nossas obrigações primárias, à frente do Cristo.(5)

Ante as responsabilidades resultantes da consciência doutrinária, que nos impõe a superar a temática de vulgaridade e imediatismo ante o comportamento humano, em larga maioria, a máxima da solidariedade apresenta-se como roteiro abençoado de uma ação espírita consciente, capaz de esclarecer e edificar os corações, com a força irresistível do exemplo.

Referências bibliográficas:

(1) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, Cap. XV;

(2) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2000, pergunta 799;

(3) Idem;

(4) Jo: 15,12;

(5) Xavier, Francisco Cândido. “Fonte Viva”, ditada pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1992.

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.