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  • Carta escrita por padre assassinado prevê a própria morte duas décadas antes e pede compaixão para o assassino

Um padre que foi assassinado no ano passado, nos Estados Unidos, já havia pedido, 22 anos antes, que o assassino fosse perdoado. O reverendo Rene Robert era contrário à pena de morte e escreveu uma carta em que parece prever a própria morte. Breno Henrique de Sousa comenta.

  • Data :14 Mar, 2017
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Um padre que foi assassinado no ano passado, nos Estados Unidos, já havia pedido, 22 anos antes, que o assassino fosse perdoado. O reverendo Rene Robert era contrário à pena de morte e escreveu uma carta em que parece prever a própria morte.

Na carta, o padre católico pedia que aquele que um dia tirasse a sua vida fosse poupado da execução “não importa quão hediondo tenha sido o crime ou o quanto eu possa ter sofrido”.

Agora, os bispos católicos esperam que o documento convença os promotores a reverter a decisão que condenou Steven James Murray à pena de morte, depois de sequestrar e matar o padre, em abril do ano passado, no Estado da Geórgia, onde existe a pena de morte.

A carta

O reverendo Robert tinha 71 anos e vivia na cidade costeira de Saint Augustine, no Estado da Flórida. Seu corpo foi encontrado sete dias depois do crime, crivado de balas, numa mata da Geórgia.

De acordo com as autoridades, o religioso foi morto por Steven Murray, a quem vinha tentando ajudar há vários meses.

Em 1995, o padre franciscano escreveu uma carta, considerada pela Igreja católica uma “declaração de vida”, que foi testemunhada e registrada em cartório.

“Eu peço que a pessoa considerada culpada do meu assassinato não seja submetida à pena de morte em nenhuma circunstância”, escreveu.

Agora, bispos católicos estão protestando contra a decisão da Promotoria, que pede a pena de morte para o homem acusado de ter assassinado o reverendo Robert.

Amigos lembram que o padre dedicou a vida a ajudar os mais vulneráveis, como condenados, viciados em drogas e pessoas com problemas mentais.

“Ele tinha consciência que seu ministério poderia ser vítima de violência, mas ainda assim cuidava daquelas pessoas”, disse o arcebispo Wilton Gregory.

Protesto de religiosos

O arcebispo estava entre uma dezena de religiosos participantes de um protesto, no começo desta semana, diante da Corte de Justiça de Augusta, na Geórgia.

Ele entregaram uma petição com mais de 7,4 mil assinaturas de pessoas da diocese do reverendo Robert pedindo que a vontade dele seja respeitada.

“Nós queremos ser a voz dele e fazer com que a sua ‘declaração de vida’ seja levada em consideração neste caso específico”, disse o bispo Gregory Hartmayer, em frente ao prédio do tribunal.

O bispo Felipe Estevez, da diocese de Saint Augustine, disse que o condenado pelo assassinato certamente merece uma punição, mas, acrescentou, “condenar à morte como consequência de um assassinato só perpetua o ciclo de violência na nossa comunidade”.

A promotora do distrito de Augusta, Ashley Wright, citou fatores agravantes ao pedir a pena de morte para o acusado.

Ela disse que as agravantes tornaram a morte do padre “ultrajante e indecentemente vil, horrível e desumana”.

Murray, que já tinha ficha criminal, pediu uma carona ao padre em Jacksonville, na Flórida, antes de sequestrá-lo e matá-lo, segundo as autoridades.

‘Eu simplesmente surtei’

O suspeito foi detido quando dirigia o carro do reverendo no Estado da Carolina do Sul, um dia depois de o padre Robert ser dado como desaparecido.

Sete dias mais tarde, Murray levou os policiais até o local onde estava o corpo.

Ao aparecer no tribunal logo depois da prisão, o suspeito pediu clemência.

“Quem ama o padre Rene vai me perdoar porque ele era um homem de Deus e perdoar é piedade”, disse o suspeito, segundo o noticiário local WALB News, da rede de TV americana ABC .

“Tenho problemas mentais e perdi o controle. Peço desculpas”, acrescentou.

Usuário de drogas, Murray, de 28 anos, esteve preso várias vezes desde a adolescência.

Na noite de 10 de abril de 2016, ele pediu carona ao padre, o sequestrou e dirigiu com o religioso até o Estado vizinho da Geórgia, onde o matou a tiros e se livrou do corpo numa mata.

Ele disse a um jornal local que nunca pretendera matar o religioso, mas entrou em pânico ao perceber que tinha ido longe demais.

“Eu simplesmente surtei e o matei”, disse Murray, ao alegar inocência em uma série de entrevistas com os advogados na prisão.

Notícia publicada na BBC Brasil , em 1º de fevereiro de 2017.

Breno Henrique de Sousa* comenta

É possível prever a própria morte?

Não são incomuns os casos em que pessoas preveem a própria morte e algumas o fizeram com relativa precisão, senão quanto aos detalhes, ou pela época em que aconteceria. É certo que algumas pessoas, pelo gênero de vida que levam, sabem que estão sob o risco de morte. Uma profissão arriscada, defender de uma causa polêmica, sentir-se ameaçado por pessoas e circunstâncias especiais levam qualquer um a considerar o seu risco de morte sem que isso constitua nenhum fenômeno espirita.

Talvez o caso do padre franciscano Rene Robert se enquadre nessa perspectiva, ou seja, quem sabe por seu posicionamento firme contrário à pena de morte, em um país onde essa prática é adotada, levou-o a considerar que mesmo que ele próprio fosse morto, não desejaria que seu algoz fosse condenado à pena capital? Terá sido uma intuição? Talvez sim, mas, provavelmente inconsciente.

Porém, existem casos que não deixam dúvida sobre a natureza transcendente da intuição. Pessoas há que sem nenhum motivo aparente preveem – às vezes com grande precisão – a sua própria desencarnação. Camille Flammarion cita muitos desses casos. Vejamos uma das correspondências recebidas pelo autor:

(Carta 127) XIX – “Meu irmão mais velho, Emílio Zipélius, artista pintor, morreu a 16 de setembro de 1865, na idade de 25 anos, quando se banhava no Mosela. Residia ele em Paris, mas achava-se naquele momento em visita a parentes seus em Pompey, perto de Nancy. Duas vezes minha mãe sonhara, em intervalos assaz distanciados, que seu filho se afogava. Quando a pessoa incumbida de transmitir a terrível notícia aos meus pais se apresentou a casa deles, minha mãe, adivinhando que sucedera uma desgraça, procurou logo informar-se a respeito de uma de suas filhas ausentes, de quem não tivera notícias desde alguns dias. Quando lhe responderam que não se tratava dela, exclamou: – Não continueis; sei o que aconteceu: meu filho afogou-se. Havíamos recebido uma carta dele durante o dia, de sorte que nada fazia prever essa catástrofe. Meu próprio irmão tinha dito à sua empregada pouco tempo antes: – Se uma noite qualquer eu não regressar à casa, ide à Morgue no dia seguinte, porque tenho o pressentimento que morrerei n’água. Sonhei que estava no fundo d’água, morto e com os olhos abertos. Foi, com efeito, assim que o encontraram: morrera, n’água, da ruptura de um aneurisma. Minha mãe e meu irmão estavam tão persuadidos de que isso aconteceria, que no dia de sua morte recusara-se ela a banhar-se no Mosela. Mas à noite deixou-se seduzir pela frescura da água e foi arrebatado, desse modo, à nossa afeição. J. Vogelsang – Zipélius (Mulhouse).” (Do Livro O Desconhecido e os Problemas Psíquicos – Camille Flammarion.)

Note que, nesse caso, mãe e filho recebem a mesma intuição sobre o tipo de morte que Emílio sofreria. Também é famoso o caso de Abraham Lincoln que teve um sonho premonitório sobre o seu assassinato. No sonho ele chegava à Casa Branca e havia um funeral. Ao perguntar quem havia morrido, alguém lhe respondeu: - o presidente.

O Livro dos Espíritos trata do assunto em diversos momentos, mas destacamos a questão abaixo pela sua clareza e relação direta com o tema do nosso comentário:

“411. Estando desprendido da matéria e atuando como Espírito, sabe o Espírito encarnado qual será a época de sua morte?

Frequentemente acontece pressenti-la. Algumas vezes também sucede ter nítida consciência dessa época, o que dá lugar a que, em estado de vigília, tenha intuição do fato. Por isso é que algumas pessoas preveem com grande exatidão a data em que virão a morrer.”

Não restam dúvidas sobre o fato de que algumas pessoas preveem a própria morte, mas como isso pode acontecer? Teremos todos um dia determinado para morrer e nada pode ser feito a esse respeito? Estará nosso destino lacrado de forma irremediável?

Sobre esse assunto recomendamos a leitura do capítulo XVI de A Gênese , onde Allan Kardec desenvolve a teoria da presciência, nos fazendo entender que o destino não está selado de forma definitiva, porém, existem fatos que estão propensos a acontecer e outros que estão dentro de um planejamento maior determinado pela espiritualidade. Alguns acontecimentos estão encadeados como consequência de uma série de acontecimentos atuais, aos quais os espíritos podem analisar com clareza e antever através disso o futuro, porém, frequentemente as circunstâncias e momento específico do acontecimento está subordinado ao nosso livre-arbítrio e aos pormenores que envolvem o fato. Vejamos o que nos diz Kardec:

“Pode, portanto, ser certo o resultado final de um acontecimento, por se achar este nos desígnios de Deus; como, porém, quase sempre, os pormenores e o modo de execução se encontram subordinados às circunstâncias e ao livre-arbítrio dos homens, podem ser eventuais as sendas e os meios. Está nas possibilidades dos Espíritos prevenir-nos do conjunto, se convier que sejamos avisados; mas, para determinarem lugar e data, fora mister conhecessem previamente a decisão que tomará este ou aquele indivíduo. Ora, se essa decisão ainda não lhe estiver na mente, poderá, tal venha ela a ser, apressar ou demorar a realização do fato, modificar os meios secundários de ação, embora o mesmo resultado chegue sempre a produzir-se. É assim, por exemplo, que, pelo conjunto das circunstâncias, podem os Espíritos prever que uma guerra se acha mais ou menos próxima, que é inevitável, sem, contudo, poderem predizer o dia em que começará, nem os incidentes pormenorizados que possam ser modificados pela vontade dos homens.” (A Gênese – Cap. XVI – Teoria da Presciência, Item 14. Allan Kardec.)

Ora, vale ressaltar que nesse trecho Kardec se refere a circunstâncias gerais que envolvem a coletividade. Esses fatos são mais difíceis de prever no que se refere às datas e forma de execução. Porém, no âmbito individual, apesar de não ser comum, existem registros de casos de pessoas que anteviram a própria morte com certa riqueza de detalhes e com impressionante precisão. Aí não existe nenhuma contradição, trata-se apenas da constatação de que fatos que envolvem apenas a nossa vida individual dependem menos das circunstâncias exteriores do que fatos que afetam a coletividade, sendo, por isso, mais alcançáveis pela premonição.

Também é certo que todos têm um planejamento reencarnatório através do qual estão pré-definidos aspectos importantes e de caráter geral de nossas vidas. Mesmo assim, esse planejamento pode mudar de acordo com a nossa caminhada. Temos conhecimento, por exemplo, daquelas pessoas que receberam uma moratória, ou seja, uma espécie de prorrogação da vida física ou adiamento da morte. Nesses casos, o indivíduo recebe a oportunidade de seguir adiante e concluir alguma tarefa.

De qualquer forma, a espiritualidade está sempre a nos guiar e oportunizar as experiências necessárias para o nosso adiantamento espiritual. Lembremos que a morte não é um castigo, mas, antes, o retorno para nossa pátria espiritual.

  • Breno Henrique de Sousa é paraibano, professor da Universidade Federal da Paraíba nas áreas de Ciências Agrárias e Meio Ambiente. Está no movimento Espírita desde 1994, sendo articulista e expositor. Atualmente faz parte da Federação Espírita Paraibana e atua em diversas instituições na sua região.